Luiz Gomes: ‘Poderíamos ser os melhores, mas submissão atrapalha’

'Brasileirão continua nas mãos da CBF e sujeito às mazelas e aos interesses de dinastia'

Marin e Del Nero
Marco Polo Del Nero e José Maria Marin passaram pelo comando da CBF na década atual (Foto: Nelson Almeida/AFP)

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Tomando por base esse mesmo período de 15 anos, o Brasileirão tevê sete campeões diferentes. A maior sequência de títulos, o tricampeonato do São Paulo em 2006, 2007 e 2008 está longe de demonstrar a supremacia de um único clube como se vê na Europa. Este ano, o campeonato daqui, que chega este fim de semana apenas à 24ª rodada, já teve seis times ocupando a liderança: Internacional, São Paulo, Flamengo, Atlético-MG; Corinthians e Atlético-PR já estiveram por ao menos uma vez no topo da tabela, diversidade inimaginável nas ligas europeias.

Os casos de Inter e São Paulo são ainda mais reveladores da nossa imprevisibilidade. Vale lembrar que, no ano passado, esse mesmo Tricolor paulista que hoje briga ponto a ponto pela liderança da Série A, passou boa parte da temporada em uma batalha de vida ou morte para escapar da zona da degola. E que o time gaúcho, ainda mais impressionante, disputou a segunda divisão de 2017 onde sequer foi campeão, título conquistado pelo América Mineiro. Ser líder da elite agora, ainda que isso não se mantenha após os jogos desse domingo, representa para o Colorado um verdadeiro – e até então improvável - renascer de Fênix.

Um cenário como esse deveria ser, apenas, motivo de comemoração. O problema é que toda essa competitividade não é exatamente um sinônimo de bom nível técnico. Ao contrário, alternamos por aqui bons e maus momentos, jogos empolgantes e partidas medíocres. O que fica, muitas vezes, é um sentimento negativo, uma boa dose de frustração ao percebermos que, se a gente cuidasse com um pouco mais de carinho, de profissionalismo e de inteligência do nosso Brasileirão poderíamos ter - deixemos a modéstia para lá – verdadeiramente o melhor campeonato de futebol do planeta.

Todos os grandes campeonatos nacionais no mundo civilizado do futebol são organizados por ligas, entidades formadas e geridas pelos clubes, quase sem interferência das federações. Assim funcionam La Liga, na Espanha; Premier League, na Inglaterra; Bundesliga, na Alemanha; Série A, na Itália. Isso é um dos fatores, se não o maior, dos êxitos que se vê por lá: aumenta o poder econômico, valoriza os patrocínios e os contratos de TV, permite armar times fortes, reter e contratar talentos - muitos saídos daqui - organizar um calendário racional que de segurança e conforto aos torcedores, garantindo estádios cheios por toda a temporada. Existem distorções, é verdade, uma má distribuição de recursos em alguns países, algo que vem e tentando corrigir.

Aqui, o Brasileirão continua nas mãos da CBF e sujeito às mazelas e aos interesses da dinastia Teixeira-Marin-Del Nero-Caboclo. Formar uma liga, por mais que esse seja o caminho mais óbvio e natural, infelizmente ainda é algo distante num ambiente de submissão dos dirigentes em que clubes como o Flamengo, o Corinthians, o Palmeiras ou o São Paulo insistem em omitir-se, deixando de usar seu peso político e a força de suas torcidas em busca de um consenso para fazer o que é certo é o que é preciso.

Afinal, leitor, imagine um campeonato com o equilíbrio de forças e a alternância que temos aqui, com times ainda mais fortes, somado à organização e a estrutura de uma liga como se vê lá fora. Poderíamos ou não dar um salto até o topo do mundo da bola?

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