Fina dá prazo de 90 dias para CBDA realizar nova eleição presidencial

Entidade mundial aprova mudanças no estatuto da filiada brasileira, mas não muda o tom em relação ao pleito que levou o paulista Miguel Cagnoni ao poder, amparado pela Justiça<br>

Miguel Cagnoni
Cagnoni foi eleito com votos de clubes e do presidente da Comissão de Atletas, Leonardo de Deus. Na época, no entanto, o estatuto da entidade previa somente votos das federações estatuais (Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA)

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A Federação Internacional de Natação (Fina) deu prazo de 90 dias para que a Confederação Brasileira de Desportos Aquaticos (CBDA) realize novas eleições, de acordo com seu novo estatuto.

A decisão foi tomada durante a reunião do Conselho Executivo da entidade máxima, em Sanya (CHN), nesta quinta-feira. O encontro não contou com nenhum representante da filiada brasileira. A CBDA terá de organizar o novo pleito, caso contrário estará sujeita a uma suspensão.

Conforme o LANCE! revelou em agosto, a Fina exigiu em carta que uma nova eleição seja realizada, já que a última feriu o estatuto da CBDA. Cagnoni foi eleito com votos de clubes e do presidente da Comissão de Atletas, Leonardo de Deus, o que não estava previsto. E um interventor da Justiça Comum, o advogado Gustavo Licks, conduziu todo o processo. Mas o regulamento então em vigor determinava que só uma Assembleia Geral teria o poder de convocar eleições e determinar suas regras.

A nomeação de Licks aconteceu em meio à grave crise política e financeira na CBDA. O ex-presidente da entidade, Coaracy Nunes, teve o mandato encerrado em março, antes do pleito que elegeria seu sucessor. O cartola, de 79 anos, chegou a ser preso em abril, por suspeita de desvio de recursos, mas recebeu um habeas corpus em junho.

Em agosto, já na gestão de Cagnoni, a confederação realizou uma Assembleia Geral para aprovar as mudanças em seu estatuto, uma das exigências da Fina. No encontro desta quinta-feira, o órgão mundial aprovou as mudanças, que incluem participação de atletas e clubes do pleito.

Cagnoni alega que chegou ao cargo amparado por decisão judicial e, até então, dizia que não faria uma nova eleição. O mandato do paulista iria até 2021.

Depois que a Fina deu os primeiros sinais de insatisfação, a CBDA estudou recorrer à Corte Arbitral do Esporte (CAS, em inglês), última instância da justiça desportiva, para fazer valer o resultado da eleição. Se isto acontecesse, a guerra estaria declarada e os atletas poderiam ser impedidos de representar o Brasil. 

Procurada, a CBDA informou que ainda não foi notificada sobre a decisão da Fina e que só se pronunciará a partir da notificação. A tendência, segundo o L! apurou, é que a confederação, enfim, atenda ao que é pedido pela entidade máxima e convoque nova eleição nos próximos meses.

Apesar das tentativas de Cagnoni de tranquilizar a comunidade aquática, a relação entre as entidades tem sido difícil. Em todas as cartas enviadas ao Brasil, a Fina não se dirige ao mandatário ou a qualquer membro da CBDA. Escreve apenas “to whom it may concern”, que em português quer dizer: “a quem interessar possa”, em sinal de não reconhecimento do pleito.

RELEMBRE A CRISE DA CBDA

Investigação
O ex-presidente da CBDA, Coaracy Nunes, e os ex-diretores Ricardo Cabral, Ricardo de Moura e Sérgio Alvarenga foram presos em abril, acusados de fraude em licitações e desvios de verba durante a Operação Águas Claras, da Polícia Federal. Eles conseguiram habeas corpus em junho.

Eleição cancelada
A CBDA deveria ter realizado sua eleição presidencial em março, mas ela não ocorreu por falta de transparência na escolha do presidente da Comissão de Atletas, que participa do pleito. Coaracy nomeou o ex-nadador Thiago Pereira, mas houve contestação em meio ao caos político e financeiro da entidade. Em maio, Leonardo de Deus acabou eleito.

Intervenção
A CBDA recebeu intervenção da Justiça brasileira em março, quando a juíza Titular da 25ª Vara Cível do Rio de Janeiro, Simone Gastesi Chevrand, afastou a diretoria de Nunes, que ficou no poder por quase 30 anos. Em seguida, nomeou como interventor o advogado Gustavo Licks. No período, ele deveria apenas administrar a confederação, mas conduziu a eleição que deu vitória a Miguel Cagnoni. O paulista derrotou Cyro Delgado e Jefferson Borges.

Reação
Em junho, a Fina afirmou que não reconheceria o resultado do pleito, uma vez que ele feriu o estatuto da CBDA. Em agosto, a atual diretoria da CBDA marcou uma Assembleia Geral a aprovou modificações no regulamento, antes de submeter as alterações à Fina. Nesta quinta-feira, a entidade mundial as aprovou, mas manteve a exigência de novas eleições.

* Atualizado em 1/12, às 10h50

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