O milagre por trás do sonho na Champions League do Villarreal

Marcos Senna, ex-jogador do Submarino Amarelo, esteve presente na campanha história do clube na Liga dos Campeões na temporada 2005/2006

Marcos Senna - Villarreal (Foto: Diego Tuson/AFP)
Marcos Senna - Villarreal (Foto: Diego Tuson/AFP)

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Era 25 de abril de 2006. Faz 15 anos. Os eventos daquela noite permanecem claros em minha mente. Foi a noite em que estávamos a apenas dois minutos e 12 metros de derrotar um lendário time do Arsenal e chegar à final da Liga dos Campeões. Essa era a diferença entre o sucesso e uma ressaca incômoda que dura a vida toda. Felizmente, o futebol deu ao Villarreal CF a possibilidade de chegar a uma nova final europeia. Ou melhor, o Villarreal CF conquistou esta oportunidade. Este é o resultado de um projeto bem estabelecido e sustentável.

Essa é a única maneira de entender como um clube de uma cidade de apenas 50.000 habitantes atingiu sua quinta semifinal europeia nas últimas 16 temporadas. Em contraste com times de grandes cidades como Roma, Manchester, Londres, Paris ou Madrid, toda a população da cidade de Vila-Real caberia no Emirates Stadium do Arsenal, e ainda haveria 10.000 lugares sobrando! O orçamento do clube de 117 milhões de euros é menor do que o de todos os outros ‘superclubes’ europeus que também chegaram às semis. É Davi cercado por Golias.

Lembro-me de quando cheguei a Vila-Real pela primeira vez em 2002, vindo do gigantesco cenário urbano de São Paulo. Na época, o clube estava na primeira divisão da Espanha havia apenas três temporadas, tornando o que conquistamos durante os 11 anos em que estive lá ainda mais incrível. Para contextualizar, a primeira vez que o Villarreal CF foi promovido ao nível da LaLiga Santander foi em 1998 e Gianluigi Buffon já era um jogador convocado pela Itália. Não foi há muito tempo, mas o clube evoluiu tanto que é como se 100 anos tivessem se passado.

Fernando Roig, o presidente do clube, foi um visionário e sempre teve as coisas claras em sua mente. Foi assim que o Villarreal CF se tornou um exemplo de gestão inteligente, responsável e honesta no futebol. Todos os jogadores do clube, incluindo os das equipes juvenis, foram cercados pelos melhores profissionais possíveis para auxiliar no seu desenvolvimento. Por exemplo, existem programas pioneiros em nutrição e psicologia. As limitações financeiras foram contrabalançadas com o firme apoio da academia, como se pode verificar pelos dois centros desportivos do clube e pela residência recentemente inaugurada. Eles também ganham terreno com um excelente trabalho de recrutamento.


Ao longo dos anos, jogadores internacionais de qualidade vestiram a camisa do clube, como Forlán, Riquelme, Cazorla, Pires, Reina, Bruno Soriano, Capdevila, Godín, Marchena, Rossi, Soldado e Rodri. Depois, olhando para o elenco atual, têm Pau Torres, Chukwueze, Bacca, Gerard Moreno, Albiol, Alcácer, Parejo... tudo isso faz parte de um projeto e de uma ética futebolística que não vacila. Mesmo quando o clube caiu para a LaLiga SmartBank em 2012, eles se recuperaram imediatamente. É por isso que há tanta satisfação com as conquistas atuais. Nos últimos anos, ela foi construída com uma sessão de treinamento de cada vez. Este é um clube modelo do qual você pode se orgulhar.

Apesar da saída de jogadores de destaque como Cazorla, Bruno Soriano ou Ekambi no ano passado, o Villarreal CF ainda luta para chegar à final da Liga Europa. Eles não perderam uma única partida até agora no torneio desta temporada. Ao mesmo tempo, eles ainda estão lutando na LaLiga Santander na corrida competitiva pelo quinto lugar (e uma vaga na próxima edição do torneio continental). É necessário reconhecer os esforços de Unai Emery, um treinador vencedor, e de todo o time. Tenho certeza que esta eliminatória da semifinal será muito especial para todos eles. Contra o Arsenal, eles têm uma oportunidade inestimável de romper a barreira e chegar à final europeia pela primeira vez. Acho que chegou a nossa hora. É hora de lutar por um título e, espero, de ganhar um.

Na Espanha, fala-se que esta é uma semifinal de vingança porque o adversário é o Arsenal, mesma equipe de 15 anos atrás. No entanto, esse embate na verdade vai além disso. É um exemplo de como, com uma boa gestão, o 'sonho europeu' pode ser alcançado por qualquer clube modesto que saiba abraçar a beleza e a riqueza do futebol que todos conhecemos e amamos, mesmo que o clube não seja um dos mais históricos ou poderosos do continente. E lembre-se, Davi derrotou Golias...

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