Ex-dirigentes do Flamengo não sabiam de interdição do Ninho

Fred Luz, ex-CEO do clube, e Alexandre Wrobel, ex-VP de Patrimônio, desconheciam irregularidades do CT e afirmam que alojamento da base era adequado como dormitório

Reunião com as Famílias - Flamengo
Reunião na Assembléia Legislativa nesta sexta (Foto: Matheus Dantas/Lance!)

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Em nova sessão da CPI dos Incêndios, na Alerj, representantes do Flamengo foram ouvidos nesta sexta pelos deputados sobre a tragédia que vitimou 10 atletas da base em fevereiro de 2019. Ex-CEO e ex-VP de Patrimônio, Fred Luz e Alexandre Wrobel, respectivamente, deram seus depoimentos. O primeiro citado afirmou que as informações que teve - enquanto esteve como diretor executivo do clube da Gávea - era de que o alojamento das divisões de base que foi atingido pelo incêndio era adequados a ser utilizado como dormitórios.

- Quando começamos no Flamengo, já existiam módulos lá e, conforme avançamos, houve contratação de módulos para dormitórios. A informação que sempre tive é que esses módulos tinham condições de receber os meninos. Suponho que a NHJ desse as garantias a isso. Era isso que sempre ouvi e sempre acreditei (que os dormitórios tinham condições de recebé-los). Já usávamos esses módulos como dormitórios para os profissionais. Era algo que vinha de antes - afirmou Fred Luz, que atou no clube entre 2014 e 2018.

Alexandre Wrobel, por sua vez, informou que não tinha conhecimento do edital de interdição do Centro de Treinamento emitido pela Prefeitura - ainda em outubro de 2017 -, conforme Sandra Fernandes, da Secretária Municipal da Fazenda, explicou que foi afixado no local na época, durante a sessão na Alerj.

- Quando assumimos, lá com a Patricia Amorim, contratamos contêiner para academia e ambulatório. Na época, o clube não era profissional. O clube mudou muito ao longo dos anos. Depois, passei a fazer o trabalho de VP. Sabia que serviam de dormitório, mas não entrava neles há muito tempo. Como disse, essa parte não estava dentro das minhas funções. Não sabia da interdição. O que posso garantir das tarefas da minha área é que: licenças de obra, todas rigorosamente em dia, nos CTs 1 e 2 e no Morro da Viúva. Com relação às obras, efetivamente minha responsabilidade, tudo em ordem. Na minha pasta, tivemos todo cuidado e zelo - explicou o ex-VP de Patrimônio.

Com a ausência do presidente Rodolfo Landim, quem representou o Flamengo foi Rodrigo Dunshee, vice-presidente geral e jurídico. Também estiveram presentes o CEO Reinaldo Belotti, o VP de futebol Marcos Braz, o diretor jurídico Antonio Panza e os engenheiros Marcelo Sá e Luiz Felipe Pondé, assim como representantes da Defensoria Pública, da Prefeitura da Light e da NHJ.

Em acordo com os deputados da CPI, Rodrigo Dunshee esteve na sessão como representante máximo do Flamengo, dada a ausência de Rodolfo Landim. O VP Geral também disse desconhecer o edital de interdição emitido pela Prefeitura.

- Não tive conhecimento (da interdição do CT). Voltei ao Rio no dia 21 de janeiro (de 2019). Embora pessoalmente eu não saiba, me chamou atenção o fato de que a gestão passada alega que não tem conhecimento da interdição afixada ao CT em 2017. Se eles não sabem, não podem nos passar o que não sabem.

Durante a sessão, os deputados da CPI - Rodrigo Amorim (PSL), Jorge Felippe Neto (PSD) e Alexandre Knopploch (PSL) - tornaram público o descontentamento com as respostas dos representantes do Flamengo, que não souberam apontar, com clareza, quem seriam os responsáveis pela alocação dos jovens da base naquele alojamento, tampouco os responsáveis pela assinatura dos contratos de locação dos contêineres com a NHJ.

Os deputados que foram aCPI pediram as cópias dos contratos do Fla com a NHJ, para apurarem com quais finalidades foram alugados os contêineres.

As famílias de Bernardo Pisetta, Jorge Eduardo, Pablo Henrique e Christian Esmério, acompanhados de seus advogados, estiveram presentes na sessão desta sexta-feira, no Palácio Tiradentes, no Rio de Janeiro. O incêndio no alojamento das divisões de base vitimaram 10 jovens em fevereiro de 2019.

Confira outros depoimentos importantes na sessão da CPI dos Incêndios: 

Jaime Correia, VP de Administração do Flamengo
- Eu sinto que talvez não vá colaborar muito. Faço parte do conselho diretor. Sou conselheiro há alguns anos. Entrei agora em janeiro na administração. Eu conheci o CT quando entrei agora. Fiz uma visita com o Marcelo Helmann. Olhei o CT 1 e 2 e nem percebi a questão dos meninos que dormiam lá. Foi em 2019, estive lá dois dias antes do incêndio. Não tinha o menor conhecimento disso. Nós, VPs, ficamos mais na Gávea. A questão do Ninho é mais separada, menos em alguns casos como a de Administração. Não participamos na operação, apenas decisões de forma geral. Era o segundo mês que estávamos lá. Não tínhamos ainda detalhes deste trabalho. Faltou esclarecimento da administração da gestão anterior.

Daniel Negreiros, superintendente da Light
- Não houve nenhum tipo de oscilações, perturbações, seja na noite anterior ou na madrugada da tragédia. Não há nenhum pedido durante essa semana, semanas que antecederam, registro de equipamentos queimados na região. Estava dentro dos limites estabelecidos pela Agencia Nacional de Energia Elétrica.

Marcelo Sá, engenheiro do Flamengo
- A responsabilidade do meu departamento cabe tão somente às obras definitivas, licenciadas. Todas as obras do meu departamento estavam licenciadas. Essa é a oportunidade que estou tendo aqui de me colocar. Do tapume para dentro podem me perguntar, não tem uma vírgula.

Cláudia Rodrigues, gerente da NHJ
- Tínhamos ciência de que seria usado como dormitório. Não tínhamos ciência de que tinha materiais inflamados dentro dele. Ele pode ser utilizado para escritório e para dormitório. A NHJ aluga módulo, mas o painel é importado de uma empresa da Itália. Essa empresa nos atesta a possibilidade de uso. O pedido vem da área de engenharia do Flamengo, pedindo um novo espaço. Fazemos vistoria técnica e depois um layout. Nós temos os emails que foram trocados pelas empresas na negociação. O uso do contêiner é sempre dado pelo locador. Somos apenas empresa de locação de equipamentos. A cada novo negócio, a cada novo ambiente, nossa empresa fazia a entrega. Fizemos duas entregas referentes a esse dormitório.

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