Não falha! Veja como ‘Lei do Ex’ tem entrado em campo no Brasileirão

Mercado mais intenso, motivação extra... LANCE! detalha maiores algozes de seus ex-clubes na competição e traça um panorama de como a 'maldição' se proliferou

Kieza, Diego Souza e Ricardo Oliveira são alguns dos grandes carrascos de ex-clubes no Brasileirão de 2018
(Reprodução)

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No meio do caminho tinha... aquele ex-jogador. Expressão que indica o momento em que um atleta balança as redes de um clube pelo qual passou, a "Lei do Ex" continua a imperar no Campeonato Brasileiro de 2018.

Passadas 27 rodadas, todos os clubes já passaram por esta "maldição". E o Cruzeiro é o clube que mais padeceu com ela. Além do são-paulino Diego Souza, o rubro-negro Henrique Dourado, Douglas Grolli, que está no Bahia, e Guilherme, atualmente no Atlético-PR, já deixaram lembranças indigestas para a torcida que antes estava ao seu lado.

Mesmo atualmente patinando na briga pelo título, o São Paulo ainda é o mais beneficiado com a "Lei do Ex", com sete gols, seguido do Botafogo, com seis. Não é à toa que os dois clubes apresentam os fortes candidatos à briga pelo posto de "carrasco" em reencontros no Brasileirão de 2018.

Atualmente, Diego Souza e Kieza estão na briga, com três gols cada. O jogador do São Paulo estufou as redes em reencontros com Atlético-MG, Cruzeiro e Sport. Já o atacante do Botafogo marcou contra São Paulo, Fluminense e Vitória.

A lista ainda traz fortes candidatos. Com dois gols estão o gremista André, o atleticano Ricardo Oliveira (que marcou contra São Paulo e Santos) e dois representantes do futebol baiano: Gilberto, no Bahia, e Neilton, no Vitória.

PSICÓLOGOS FALAM SOBRE PREPARAÇÃO DE ATLETAS PARA REENCONTRO

Cruzeiro x Palmeiras
Cruzeiro foi o time que mais sofreu gols de ex-atletas até o momento (Faibio Barros / Agencia F8)

A expectativa por "rever" um antigo clube pode mexer também com o emocional do jogador. Ao LANCE!, o psicólogo do Esporte, Eduardo Cillo disse que não há um trabalho específico para estes episódios, mas destacou que a ansiedade varia de acordo com as lembranças que o atleta tenha do seu antigo clube.

- Pode acontecer de um jogador sentir uma motivação extra em um duelo com seu ex-clube. Depende da maneira como ele saiu, se foi dispensado, ou se não se sentiu aproveitado da melhor forma. Neste caso, há risco de entrar com muita vontade e atrapalhar a própria equipe. Tem de manter um ponto de equilíbrio. 

Já quando o jogador reencontra um clube no qual tem boas lembranças, a preocupação vai para outra área: 

- Neste caso de um jogador ter criado laços de afetividade, a preocupação é de ele relaxar demais, não manter um ponto de equilíbrio. A gente orienta a ser comedido nas entrevistas e, no máximo, não comemorar gols. Afinal, ele não pode se sobrepor ao coletivo da equipe que está defendendo agora. 

Especialista em Psicologia Esportiva, Gustavo Korte também destacou que o sentimento varia de acordo com a maneira como o jogador deixou o antigo clube:

- Tem a motivação interna. Pode acontecer de ele ter saído por dispensa ou por achar que não era hora de ficar mais. Acima de tudo, o que a gente procura passar é que ele é um profissional, que saiu de um clube e agora está trabalhando em outro. Tem de pensar como equipe sempre.

Korte contou o que é crucial para que o jogador não se sinta abalado por reencontro com um antigo clube:

- Tem de contar com a união do grupo. Conseguir laços afetivos entre os jogadores, para que se sinta próximo e não se deixe levar por pressões ou pelo acolhimento da torcida que hoje é adversária.

'TROCAS CADA VEZ MAIS COMUNS', APONTAM JORNALISTAS SOBRE 'LEI DO EX'

Kieza Botafogo
Kieza: 32 anos e 14 clubes no currículo (Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)

A maneira como a "Lei do Ex" assola o Campeonato Brasileiro passa por outro fator: os desmontes constantes dos clubes brasileiros. Blogueiro do LANCE!. Fabio Chiorino afirma:  

- Com poucos times como protagonistas nas janelas de transferências, como é o caso hoje de Palmeiras e Flamengo, as trocas e transações entre os times do futebol brasileiro se tornaram cada vez mais comuns, o que aumentou de forma significativa a incidência desta "maldição" dentro de campo.

Chiorino crê que uma mudança de pensamentos dos clubes poderia aumentar a presença da "Lei do Ex" nos gramados: 

- Isso pode aumentar ainda mais se houver bom senso entre os clubes e evitar as cláusulas contratuais que impedem ou condicionam a participação de um atleta em uma partida específica ao pagamento de multa.

Comentarista da Rádio Globo, Carlos Eduardo Eboli crê que a "rodagem" no mercado brasileiro pesa para a "Lei do Ex" ser frequente:

- Os jogadores rodam tanto atualmente que é muito simples que um faça gol num ex-clube. A vida útil de um jogador de futebol num clube é de um ano, às vezes nem isso. De uma temporada para outra tem uma grande dança de cadeiras, em especial nos que não ganham, que têm de dar uma resposta ao torcedor, reformulando o elenco, demitindo técnico... Cada vez mais vai ter jogador fazendo gol contra ex-clube!

Aos olhos de Eboli, os próprios jogadores estão acostumados a esta rotina:

- A gente tem vários jogadores atualmente que passaram por vários clubes. O mercado provoca esta rotatividade. Então, quando entra em campo, a chance é enorme de um jogador ter defendido um time que hoje é adversário dele. Não tem como fugir: alguém vai tomar um gol de um ex-jogador.

O comentarista ainda brincou com a conduta atual de jogadores que criam identificação por um clube. Mesmo seguindo em rotatividade, eles não comemoram ao balançar as redes contra o clube que lhe traz boas lembranças.

- Os jogadores criam esta tal da "ética" e não comemoram gol contra ex-clube. Vai ter hora que jogador não vai comemorar gol nunca, porque fará sempre gol contra um ex-clube. Isto aí, sinceramente, é uma grande besteira.

'ANDARILHO DO FUTEBOL' LEMBRA COMO ERA REVER EX-CLUBES

1988 Nilson Internacional
Nilson, no 'Gre-Nal do Século': passagem por 27 clubes (Foto: Divulgação)

Os encontros e reencontros com clubes por onde passou marcaram a trajetória de Nilson. Centroavante de destaque nas décadas de 1980 e 1990, o "Pirulito" teve passagens por 27 clubes, com direito a viver duas faces de rivalidades do país: vestiu as camisas de Internacional, Grêmio, Palmeiras, Corinthians, Flamengo, Fluminense e Vasco. 

Ao L!, o ex-jogador contou que nunca lidou com o desejo um pouco mais aguçado de balançar as redes por ter do outro lado um antigo clube:

- Minha motivação era sempre de jogar uma grande partida. De entrar determinado, em especial quando era um grande clássico, que é o que eu tive chance de jogar em muitos clubes por onde passei.

Nilson relembrou o primeiro momento em que saboreou o gosto de estar dos dois lados de uma rivalidade. O atacante fora o herói do Internacional no "Gre-Nal do Século" em 1989, marcando os dois gols da vitória por 2 a 1 sobre o Grêmio válida pela semifinal do Brasileiro de 1988. E, em 1990, vestiu a camisa do Grêmio.

- Quando a torcida do Grêmio foi ao aeroporto me buscar, logo começou a cobrança. Ainda tinham engasgado o "Gre-Nal do Século" e eu ouvi: "Você fazia gol contra nós, agora vai ter de fazer do nosso lado" (risos). Aí, no primeiro Gre-Nal, vencemos por 1 a 0 e o gol da vitória do Grêmio foi meu.

O "Pirulito" declarou que é um privilegiado de ter encarado partidas com tanta rivalidade:

- Ah, é muito marcante, jogar um Gre-Nal, Palmeiras e Corinthians, um Flamengo e Fluminense, Flamengo, onde eu fiz 25 gols em 34 jogos, no Vasco. Sempre por onde passei, fui, vesti a camisa e parti para jogo importante.

Diante de tamanha rotatividade, o ex-jogador vê de duas formas a falta de raízes com os clubes que defendeu:

- O (Juan) Figger era meu empresário, fazia sempre contratos de seis meses. Com isto, acabei não criando uma identificação com um clube específico. Mesmo assim, em todos os clubes nos quais passei, saí deixando as portas abertas e recebo até hoje carinho de torcedores. Torcedores do Palmeiras e Corinthians aqui em São Paulo, do Flamengo, Fluminense e Vasco sempre me abordam com muito carinho. Isto é muito gratificante.

Neste vai e vem do futebol brasileiro, cada vez mais o jogador que está hoje no seu clube pode ser um algoz em potencial amanhã. 

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