Fernando Diniz, do Fluminense, fala sobre críticas, Seleção e estilo de jogo: ‘Só sei fazer desse jeito’

Em alta na temporada, treinador brasileiro deu longa entrevista a jornal português

Fernando Diniz - Fluminense
Fernando Diniz faz boa temporada pelo Fluminense (Foto: Marcelo Gonçalves/Fluminense FC)

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Semifinalista da Copa do Brasil e no pelotão de cima no Campeonato Brasileiro, o Fluminense vive grande temporada comando pelo técnico Fernando Diniz. O treinador concedeu longa entrevista ao jornal 'Expresso', de Portugal, e falou sobre assuntos como estilo de jogo, críticas, títulos e Seleção Brasileira.

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- Ao mesmo tempo que é difícil, no sentido que as pessoas querem que se ganhe, por outro lado é fácil porque só sei fazer deste jeito. Não há a segunda opção. Se eu tivesse uma outra opção, talvez fosse mais difícil, mas nesse sentido é ir melhorando aquilo que se faz. Mas nunca tive minimamente uma ideia de ter um plano B para isso, da concepção que tenho do futebol. O futebol tem um jeito e um gosto para mim, eu não teria prazer nenhum em treinar uma equipe de futebol simplesmente para vencer jogando de uma maneira embrutecida, sem valorizar o jogo, sem valorizar a bola e principalmente sem valorizar os jogadores e as pessoas que assistem. Aí é que está o meu grande amor e respeito pelo futebol, são os jogadores e o público que assiste - analisou Diniz.

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Elogiado por muitos torcedores, Fernando Diniz é criticado por outros tantos por não ter ganho um título de expressão na carreira. Em 2020, o treinador esteve perto de conquistar o Campeonato Brasileiro pelo São Paulo, mas a equipe perdeu gás no fim e terminou na 4° posição. O treinador também passou por Vasco, Santos e Athletico Paranaense.

- Tem de ter muita convicção naquilo que está fazendo, senão você para. Eu sou um exemplo farto disso. Comecei na Terceira divisão de um estado aqui de São Paulo e, desde aí, todo o mundo falou "isso não vai dar certo nunca". E eventualmente, quando acontece alguma coisa errada ou com um mau resultado, levanta-se alguém e (diz) "não falei que isso não ia dar certo?". Então, você não tem como lutar contra isso, não é?. Eu colhi resultados a minha carreira inteira. Ainda não houve um grande título, como as pessoas estão à espera, mas tenho muitos outros títulos: reconhecimento dos jogadores e a promoção dos jogadores - comentou o técnico.

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Veja outros trechos da entrevista de Fernando Diniz:
Títulos e respeito
– O título talvez precisem as pessoas para me respeitarem mais. Não posso falar pelas pessoas. O importante é que não preciso do título para me respeitar, interessa o que penso sobre mim, o que a minha família pensa sobre mim, os meus amigos e, de uma forma muito pungente, o que os jogadores que trabalharam comigo pensam sobre mim. Isso é mais importante que o título. Sendo assim, isso aproxima-me de ganhar os títulos. O título vai chegar. Eu já ganhei títulos também, que eles não contabilizam, quando comecei a minha carreira. Foi em divisões menores. Sempre dei muito resultado prático, até ao Audax ir para a Primeira Divisão. Ganhei campeonatos e fui subindo aqui, nestas divisões inferiores, que são os títulos e resultados que as pessoas cobram.

– Estou na minha quinta temporada na Série A do Brasileiro, mas nunca tive os maiores orçamentos para ganhar. Se eu estou numa equipe que tem o orçamento do Penafiel, eles exigem como se eu tivesse o mesmo orçamento de Porto, Benfica e Sporting. “Ahh, não ganhou nenhum título”, mas não interessa para eles se você está com Santa Clara, Paços Ferreira ou Porto. É tudo igual na hora de fazer a conta em relação a mim. Eu estive no Santos, no ano passado, que desmanchou a equipe toda e ficaram alguns jogadores, tinham um plano de contratação e não contrataram ninguém que tínhamos combinado, e perdeu-se mais dois jogadores. "Ahh, não ganhou no Santos", é isso. Não me deixo levar por isso. Nada.

– Fico focado no trabalho, no que posso melhorar e ser. Eu quero muito, talvez queira até mais do que todo o mundo, ganhar. Faço as coisas para ganhar, a equipe não joga bonito para jogar bonito. Ao contrário, a gente joga de uma maneira que fica mais perto de ganhar. Se vai ganhar ou não, nunca sabemos. Tudo o que faço é para ganhar o jogo e essa maneira de construir, para além de ganhar o jogo, há um respeito muito grande pelo próprio jogo, por aquilo que é a essência do jogo, pelo teu respeito pelo futebol, pelo amor ao futebol. Eu quis ser jogador de futebol por conta de Maradona, Zico, Careca, Romário, queria ser igual a esses caras. A minha ideia central é fazer que os jogadores sejam aquilo que tentaram ser. Se os jogadores conseguirem ser o melhor que podem ser, vamos estar muito mais perto de ganhar. Obviamente que há outros fatores, há adversários poderosos.

Vítor Pereira
– Por exemplo, um treinador vosso que está aqui no Brasil, o Vítor Pereira, é um treinador que eu adoro. Gosto muito. Gosto dele nas entrevistas, você vê quem ele é, fala com uma certa simplicidade. Uma pessoa que não é do futebol entende tudo o que ele está falando. Ele não coloca enfeites, tem uma ideia de jogo clara. Esse cara é um bom treinador, independentemente de ele ganhar ou não ganhar. E se ele não ganhar? Não tem problema, para mim é bom. E pode acontecer que o outro, que ganha, tenha o mérito de ganhar, mas o Vítor Pereira tem mais conteúdo para conseguir seguir adiante numa outra ocasião. A minha avaliação é muito mais presa ao conteúdo e ao processo do que simplesmente no resultado final. Sou um pouco a contramão da nossa sociedade, na inversão dos valores.

Seleção Brasileira
– Eu não faço planos. Não fiz planos para estar no Fluminense. Nem gosto de falar nesse assunto. Sou muito feliz com o que faço hoje, eu vivo essencialmente como quando vivia no Votoraty e depois no Audax. Eu vivo entregando-me ao máximo, para que os jogadores consigam jogar bem e que aquilo faça sentido na vida deles. Vou colhendo aquilo que isso me proporciona. O meu foco é aqui e agora. O que vai acontecer depois vai acontecer de uma maneira natural, como aconteceu até agora.

– Para mim, é natural estar no Fluminense, muito natural. Trabalho o dia inteiro, mas é trabalho e ao mesmo tempo uma diversão, eu adoro. Sou a pessoa que dá treino, adoro fazer o que faço e aquilo vai me levando a alguns lugares. É como vivo e penso, não fico projetando o futuro. Estou pensando no que vai acontecer no treino de amanhã e em melhorar os jogadores. Não coloco cargas em cima de mim. Onde eu estiver vou estar sempre fazendo a mesma coisa: o meu melhor, o melhor para os jogadores, para quem está no entorno, tentando fazer o melhor para as pessoas que torcem e assistem ao jogo de futebol.

– Acho que temos um grande treinador na seleção, o Tite. É extremamente preparado, temos muita sorte de o ter lá, sorte mesmo. É um cara que tem muita capacidade. Eu faço aquilo que acredito ser o melhor para mim. Se sou o treinador, vou sempre fazer isso. É difícil responder a essa pergunta (se o Brasil deveria jogar mais como o Fluminense). Há momentos em que a seleção é brilhante também, mas cada um tem um jeito de viver e de enxergar o futebol. Torço para que o Brasil consiga ganhar e ganhar jogando bem. É isso que eu quero.

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