Conheça a história de Paulo Machado de Carvalho, o Marechal da Vitória

Para se tornar bicampeão mundial, o Brasil também contou com um 'craque' fora de campo. Sob o comando do supersticioso Paulo Machado de Carvalho, o "Marechal da Vitória", a Seleção Brasileira seguiu à risca um plano que levou às conquistas das Copas de 1958 e 1962.

Convidado pelo então presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), Paulo Machado se tornou chefe da deleção em 1957, com a missão de elaborar uma estratégia para o time esquecer seus traumas, fazer valer seu talento e se tornar campeão do mundo.

- Olha, doutor Paulo. Preciso de uma seleção que faça o povo esquecer a de 1950, uma seleção vitoriosa, um time campeão. E porque eu preciso de tudo isso é que que o quero como seu chefe. Arme tudo como quiser. Com carta branca - declarou na época João Havelange.

Já um grande empresário do ramo da comunicação e uma pessoa influente na política do futebol paulista, Paulo aceitou o desafio.  Com a colaboração de jornalistas, elaborou um plano a ser seguido pela Seleção, transformado no livro "O Plano Paulo Machado de Carvalho".

A opção deu certo. Pela primeira vez na história das Copas o trabalho foi feito de forma profissional e organizada. Além disso, as decisões passaram a ser tomadas em conjunto pelos membros da comissão técnica. Era ele que cuidava de toda a logística do grupo e passava as informações aos atletas, numa época de pouco conhecimento.

- Naquela época, a gente saía do país e nem sabia a temperatura. O Paulo tomava conta de todas as informações, se era alto, se era frio. O baluarte dessas conquistas foi o doutor Paulo. Precisamos de alguém como ele de novo - disse Jair Marinho, campeão em 1962.

Paulo Machado e Fernando Vieira de Melo, diretor do Departamento de Jornalismo da Rádio e TV Record, na década de 1960. (Crédito: Reprodução do livro "Histórias... que a história não contou")

Superstição: um capítulo à parte

Não era só por sua capacidade de liderar e organizar que Paulo Machado de Carvalho ficou famoso. Suas manias em busca de sorte também fizeram dele um dos grandes personagens do futebol brasileiro.

Na viagem para o Chile, em 1962, o chefe da delegação não só embarcou com o mesmo terno utilizado quatro anos antes, na Suécia, como fez questão da CBD fretar o mesmo avião da Panair, sendo pilotado pelo mesmo comandante, Guilherme Bungner. Aliás, esse terno marrom foi usado todos os dias no Mundial de 1958, virando motivo de piada entre os jogadores convocados.

Ótima relação com os craques

Outro ponto que rendeu muitos elogios a Paulo Machado foi sua interação com os craques da Seleção Brasileira. Segundo eles, o comandante sempre foi aberto ao diálogo, trocava ideias, brincava, o que construiu um laço de confiança entre os atletas e o dirigente.

- Ele era uma pessoa sensacional. Uma pessoa bem quista, risonha, com o astral lá em cima. Foi uma pessoa muito bacana como chefe, era um amigo mesmo. Ele cuidava de tudo para nós, estava sempre a par de tudo - comentou Zagallo, campeão em 1958 e 1962.

Paulo Machado era um dos alvos preferidos das brincadeiras de Garrincha na concentração. Porém, o Marechal da Vitória também aprontava das suas. Como nesse episódio lembrado pelo Velho Lobo.

- Em Estocolmo, durante um dos jogos, ele mandou o Mário Américo (massagista) pegar a bola, dizendo "você vai ganhar o teu". O Mário foi lá no campo e tirou a bola dos braços do árbitro. Quando o juiz foi no vestiário, cobrá-la de volta, ele ganhou a reserva. A do jogo ficou com o Doutor Paulo - recordou Zagallo, em meio a muitas gargalhadas.

Homenagem com Pacaembu

Devido às suas contribuições para o futebol nacional e de seu destaque na comunicação, Paulo Machado de Carvalho foi homenageado pela prefeitura de São Paulo. Desde 1961, o Estádio do Pacaembu leva seu nome. O "Marechal da Vitória" faleceu em 1992, aos 90 anos.