Luiz Gomes: ‘Copa a cada dois anos pode ser um tiro no pé da Fifa’

Ao ocupar todos os anos pares do calendário, a Copa entraria em choque, por exemplo, com as Olimpíadas, o outro milionário e midiático espetáculo esportivo global

Troféu da Copa do Mundo
A proposta de diminuir o intervalo entre Copas do Mundo ganha força dentro da Fifa (Foto: ODD ANDERSEN / AFP)

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É sabido o fascínio que a Copa do Mundo exerce sobre quem é fã do futebol. E boa parte desse sentimento decorre de sua sazonalidade. O fato de só haver Copa a cada 4 anos mexe com a paixão do torcedor mundo afora, mobiliza multidões e ao fim daqueles 30 dias vividos intensamente fica sempre um gostinho de quero mais.

Eis que agora a comissão formada pela Fifa para trabalhar na reformulação do calendário do futebol mundial cogita sugerir a realização da Copa a cada dois anos. Embora use os argumentos de que isso irá propiciar mais oportunidades aos filiados, globalizando ainda mais o futebol, e beneficiar os atletas, especialmente os mais jovens, ampliando a exposição dos novos talentos, a verdadeira razão da proposta é financeira: engordar os cofres sempre já abarrotados da entidade, multiplicando aquela que é sua principal fonte de receitas.

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Mas tudo isso pode ser um tiro no pé.

A vulgarização do mais importante torneio de seleções do planeta não necessariamente vai agradar a quem hoje investe nele. Ao ocupar todos os anos pares do calendário, a Copa entraria em choque, por exemplo, com as Olimpíadas, o outro milionário e midiático espetáculo esportivo global. Essa sobreposição de datas poderia vir a dividir não apenas o interesse do público como também o dinheiro gasto pelos patrocinadores, em boa parte os mesmos nos dois eventos. E a concorrência pela audiência ainda reduziria, muito provavelmente, também os valores de negociação de direitos de transmissão de TV.

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No âmbito esportivo, como contrapartida, a comissão oferece a redução das chamadas datas Fifa, o que em tese beneficiaria aos clubes, com menos vezes tendo de ceder seus jogadores nas convocações. E, por tabela, também ganhariam as ligas nacionais – especialmente as da Europa -que passariam a ser menos vezes interrompidas por conta dos jogos das seleções.

Mas faltou combinar com os russos, como diz o ditado.

Boa parte das ligas e confederações nacionais, além da Conmebol, da poderosa Uefa e da associação que reúne grandes clubes já se manifestou contrárias às mudanças. Vale lembrar que a Copa a cada dois anos traria impacto negativo também para os torneios continentais como a Euro, a Copa das Nações da Europa e a Copa América, que teriam que se reinventar, e até mesmo para os jogadores já que os períodos de férias, nas 'intertemporadas', seriam fortemente sacrificados.

Para nós, no futebol tupiniquim, os desafios seriam ainda mais difíceis, com problemas mais complexos a resolver. Como o calendário daqui não segue o do resto do mundo - o europeu, o asiático e de boa parte dos países da América Latina - a Copa no novo formato atravessaria o Brasileirão a cada dois anos, provocando uma balbúrdia ainda maior com a redução de datas disponíveis para os campeonatos estaduais e até a Copa do Brasil

É muito ruim quando razões exclusivamente econômicas se impõem no futebol. A conjugação do negócio com o esporte deve ser sempre o objetivo a ser perseguido. E isso é possível alcançar. Mas, pior ainda, é quando falta bom senso, quando se mexe naquilo que está dando certo. Que sempre deu certo!

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