Carlos e Lobito, a dupla de torcedores mais inusitada de Portugal

Inusitada e famosa, pois eles acompanham todos os jogos da seleção na Europa e na África viajando numa van pintada em cores carnavalescas e que foi pé-quente na Euro-2016 

Lobito e carlos
Lobito veio de  Portugal  nesta van toda estilizada. Ele e seu amigo Carlos (dentro do veículo) há oito anos cruzam países e acompanham os jogos de sua seleção nas Euros e Copas (Carlos Alberto Vieira)

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Carlos Bruno e Pedro Lobito formam, certamente, a dupla de torcedores portugueses mais conhecida ao redor do planeta. Desde 2010, numa van estilizada e adaptada para servir como trailer, os dois cruzam a Europa e a África acompanhando a seleção de Portugal.   

Com um carro tão carnavalesco, é impossível passar despercebido. Na campanha da Euro-2016, foram considerados pé-quentes pelos torcedores, que adoravam tirar selfies com os dois no dia dos jogos dos Patrícios. Foi assim também em Moscou, quando circularam pelos arredores da Praça Vermelha, na semana que antecedeu a abertura da Copa do Mundo; ou em Sóchi, para o jogo de abertura contra a Espanha; e, agora, em Saranski,  cidade que será o palco de Portugal x Irã, na rodada final do Grupo B, nesta segunda-feira. 

Eles chegaram cheios de estilo, estacionando a van na rua ao lado do  cartão postal da cidade, a Igreja Ortodoxa de São Teodoro, na entrada da Praça Soviestkaya, a principal de Saranski,  e ao lado da Fan Fest da Fifa.

- Sempre paramos perto das áreas mais movimentadas. Isso gera a curiosidade da imprensa, nos deixa mais conhecidos. E adoramos que todas as pessoas tirem fotos com a gente, com o carro. Assim, viram um pouquinho de portugueses. Alguns também compram nossos produtos – comentou Lobito, afirmando que é com a venda de bugigangas lusitanas que tiram algum para gasolina e comida).

Lobito tem 60 anos, é natural de Lisboa e já morou dez anos no Rio de Janeiro. Quando quer, até fala com um sotaque carioca.

- Morei em Santa Teresa, pertinho do restaurante "Aprazível", que é muito famoso, curti demais as escadarias do Selaron, Mermão – brincou, usando  carioquês e  fazendo as às vezes de relações públicas da dupla, mostrando as adaptações do carro, que tem uma cama, um mini-fogão e computador.

- É um hotelzinho – disse. – Tinha de ser, uma viagem dessas é longa. Foram 20 dias de Portugal até a Rússia, passando por dez países. Imagine se gastássemos com hotel - completou.   

Eles ficarão na Rússia até onde Portugal sobreviver na competição. Esperam que Cristiano Ronaldo leve o time para a final. Depois, mais 20 dias até a volta para Lisboa. Mais de dois meses em trânsito para estes dois aposentados.

Muito extrovertido, Lobito brincava com as crianças que passavam pela praça. Conversa em inglês com os mordávios (Saranski fica na República da Mordávia, região um unificada com a Rússia, distante 600km de Moscou e que tem até presidente próprio, mas escolhido pelo mandatário russo).
 
- Comida portuguesa da boa. Pescado. Bacalhau. Portugal food – dizia em tom quase caricato, fazendo sinais com a mão e com a boca e apontando para Carlos Brum, concentrado dentro do carro preparando o almoço.

Carlos, natural dos Açores, tem 60 anos e aparenta ser bem mais introvertido do que Lobito. Porém, tem mais histórias futebolísticas. Desde 1986 ele acompanha os jogos da sua seleção em Mundiais. Em 2008, teve a ideia de adaptar a van e, ao lado do amigo Lobito, “levar Portugal para o Mundo”.

- Antes de 1986, Portugal não se classificava para as Copas. Mas fui ao México e isso me animou para ver jogos. Desde então, sou torcedor assíduo da equipe nacional  disse Carlos, o dono da van, que esteve no Brasil em 2014, mas sem o carro:

- Levá-lo era inviável financeiramente.

Nesses quase dez anos, ele passaram muitos perrengues. Na Rússia. tiveram problemas na fronteira (precisaram tirar vistos-extras) e com a polícia de Moscou - pois não tinham autorização para vender as bugigangas. Mas nada que um bom papo e o jeitinho brasileiro de Lobito não resolvessem.

O sufoco maior, na opinião da dupla, ocorreu na ida de Portugal para a África do Sul.

- Cruzamos a Europa para a África de navio, um trajeto entre Marselha e a Tunísia. Aí fomos atravessando, Líbia, Egito e por aí vai, até a África do Sul. O Sudão estava no meio do caminho e lá passamos problemas. O país já estava num momento de Guerra. Os soldados nos pararam com as suas armas, apontaram para nossas cabeças, perguntavam o que estávamos fazendo. Quando perceberam que éramos torcedores indo para a Copa, nos liberaram. Mas foi muito tenso – disse Carlos.

A dupla tem ingressos para os três jogos da fase de grupos. Depois, com Portugal avançando, verão o jeito que darão.

- É sempre assim que fazemos. Na Euro-2016 na França, tínhamos os jogos da primeira fase e fomos, no jeitinho, tentando os bilhetes para as partidas seguintes. Vamos ver se temos a mesma sorte desta vez - disse Lobito, se preparando para a hora do almoço e reclamando do calor.

- Isso aqui é quente - disse. A temperatura estava perto dos 30 graus, sol a pino e pouquíssimos lugares com sombra.

Carlos e Lobito
O carro de Carlos e Lobito, estacionado em Saranski (Carlos Alberto Vieira)

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