Declaração de Neymar sobre Copa de 2022 aumenta debate sobre pressão excessiva em torno de atletas

Emocional dos atletas diante das 'cobranças' por resultados volta a entrar em pauta após desabafo que camisa 10 do PSG e da Seleção Brasileira concedeu em documentário


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O fato de Neymar estabelecer que 2022 pode ser sua última edição de Copa do Mundo pela Seleção Brasileira evidenciou as dúvidas sobre o quanto a dimensão da pressão recai nos ombros de um atleta. O astro disse que não sabe se terá "mais condições, de cabeça, de aguentar mais futebol".

“Neymar Jr & The Line of Kings”, realizado pelo canal DAZN, saiu um mês depois de o atacante marcar na vitória por 2 a 0 sobre o Peru, nas Eliminatórias da Copa do Mundo, em jogo marcado por seu áspero desabafo. À época, o camisa 10 da Seleção declarou:

- Não sei mais o que faço com essa camisa para a galera respeitar o Neymar. Isso é normal, vem há muito tempo. Repórteres, comentaristas, outros também. Às vezes eu nem gosto mais de falar em entrevista, mas em momento importante eu venho aparecer. Todos os tipos (de falta de respeito). Deixo para a galera pensar um pouco.

Colombia x Brasil - Neymar
Neymar não foi bem contra a Colômbia (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

O zagueiro Thiago Silva opinou sobre o que vem acontecendo com o seu colega de Seleção Brasileira. Segundo o defensor, parece que Neymar recebe uma carga a mais de pressão.

- É uma situação bem difícil. A gente, embora saiba que sofra pressão de todos os lados, é uma pressão diferente. Parece direcionada e individual. A gente deixa muito de lado o que ele vem fazendo dentro de campo e focando em coisas que não são interessantes. Ele se cobra muito. A gente sabe que tem que jogar melhor, ter um entrosamento melhor. Ele sabe que não fez um jogo de Neymar (contra a Colômbia). Tem essa autocrítica. Mas fica uma cobrança muito forte e coisas que não têm nada a ver - disse.

+ Veja a tabela das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa

A SÍNDROME DE BURNOUT E O CASO DE SIMONE BILES

Simone Biles
Simone Biles desistiu de disputar a final do solo na Olimpíada devido a problemas emocionais (MARTIN BUREAU / AFP)

Na edição dos Jogos Olímpicos de Tóquio, a Síndrome de Burnout chamou atenção no meio esportivo quando a ginasta Simone Biles desistiu de disputar a final individual geral devido a problemas emocionais. Professor de pós-graduação em Psiquiatria pela PUC-Rio, Jorge Jaber traçou ao L! um panorama do que é este quadro.

- Primeiramente, a síndrome não é uma doença, mas um conjunto de sinais que se assemelham com outras doenças. A Síndrome de Burnout é bastante parecida com diagnósticos de depressão e ansiedade, e os psiquiatras e psicólogos conseguem estabelecer melhor esta diferença - e, em seguida, destacou:

- Entre os sintomas mais comuns estão alteração de sono, dor de cabeça, taquicardia, mal estar no estômago, alterações intestinais... O esgotamento mental e a sensação de fracasso, negatividade, são bastante comuns também - completou. 

Segundo Jaber, o caso de Simone Biles foi emblemático para o esporte.

-  Quando o atleta sofre um problema emocional, costuma-se achar que é "corpo mole", não se reconhece que ele está adoecido. Em torno da Simone Biles, tinha uma estrutura médica na qual havia um médico acusado de abuso sexual. E ela e outras ginastas são expostas a um esporte no qual têm de trabalhar o dia inteiro desde que são muitos jovens, pois sabem que é uma carreira curta. Esta rotina se torna muito exaustiva para qualquer ser humano - apontou.

O ALERTA DA COBRANÇA RECORRENTE PELO ALTO NÍVEL

Neymar - Seleção Brasileira - Brasil x Peru
Neymar em ação durante a partida com o Peru (Foto: Nelson Almeida/AFP)

Psicólogo do esporte, Eduardo Cillo frisa que há outros fatores que cercam a rotina de Neymar como camisa 10 da Seleção Brasileira.

- Há um trabalho de dia a dia que não aparece para o grande público, por mais que o Neymar tenha muita visibilidade na mídia. O calendário do futebol é exigente e um camisa 10 da Seleção Brasileira, ele tem de se habituar desde cedo a estar em alto nível, a jogar para ganhar bem. Há a expectativa do Neymar estar sempre chegando para performar bem, por conta do seu histórico e do histórico da Seleção Brasileira - constatou. 

Cillo avaliou que a maneira como usa suas redes sociais pode ser outro motivo para Neymar sentir esgotamento.

- Sem dúvida alguma, tem de avaliar a forma como ele liga com estas interações digitais. Se gasta muito tempo voltado para elogios dos torcedores ou xingamentos de "haters", isto pode prejudicá-lo de alguma forma na rotina em campo - disse.

O psicólogo enumerou alguns fatores negativos que atletas podem ter em seus rendimentos quando sentem os reflexos de uma pressão exagerada.

- O principal é o esgotamento que parece depressão. Perde força para cumprir tarefas básicas,  perde energia para sair da cama, começa a render abaixo de seu potencial. É um quadro que se assemelha ao da Simone Biles, que desenvolveu a Síndrome de Burnout - disse.

Em seguida, o psicólogo apontou alguns sintomas da Síndrome de Burnout que aparecem com mais frequência nos atletas.

- A mudança de humor constante, dificuldades de relacionamento, precisar fazer mais esforço do que o esperado para conseguir algum objetivo. Além disto, dar uma dimensão exagerada a pequenas vitórias, pequenas metas alcançadas... - apontou.

Eduardo Cillo alerta para a necessidade de oferecer um acompanhamento psicológico aos atletas desde que eles são jovens.

- Desde a base, é fundamental que haja uma ação preventiva para que atletas não tenham problemas emocionais, entre eles a Síndrome de Burnout. À medida que os psicólogos detectarem estes sintomas, precisam dar um suporte bem cuidadoso para que não se desenvolva um quadro grave. Ter de remediar é mais difícil - disse.

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