Pressão Total: Confira esportistas e comitês que pediram o adiamento das Olimpíadas de Tóquio

Apesar da pandemia do novo coronavírus, COI segue a programação dos Jogos e diz que não há necessidade de mudanças drásticas, o que revolta desportistas e dirigentes

Thomas Bach
Atletas pressionam Comitê Olímpico Internacional para adiar os Jogos Olímpicos de Tóquio (AFP)

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Ao longo da semana, a pandemia do novo coronavírus (COVID-19) se expandiu pelo mundo, com o aumento do número de infectados e mortos, sobretudo na Europa. Com isso, diversos grandes eventos esportivos foram adiados e as nações adotaram o regime de quarentena, para evitar o contágio e a disseminação da doença. No entanto, o Comitê Olímpico Internacional (COI) reforçou o desejo de iniciar os Jogos na data prevista, o que tem gerado a revolta de atletas e dirigentes pelo mundo.

Neste sábado, foi a vez do Comitê Olímpico Brasileiro defender o adiamento do evento para 2021. Em comunicado oficial, o presidente da entidade Paulo Wanderley destacou que os atletas não têm mais condições de competirem no seu melhor nível. O presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Mizael Conrado,  também afirmou não haver qualquer condição de realizar os Jogos neste ano.

– Como judoca e ex-técnico da modalidade, aprendi que o sonho de todo atleta é disputar uma Olímpiada em suas melhores condições. Está claro que, neste momento, manter os Jogos para este ano impedirá que este sonho seja realizado em sua plenitude – ressaltou o presidente do COB, Paulo Wanderley.

No início da tarde deste sábado, as confederações de diversos esportes brasileiros declaram apoio à posição do COB. Vôlei, basquete, esportes aquáticos, ginástica, judô, remo e canoagem foram as modalidades que se posicionaram em suas redes sociais.

Além das entidades, atletas brasileiros também foram contra a manutenção da Olimpíada. A nadadora pernambucana Etiene Medeiros também criticou a decisão do COI e afirmou que devem focar na saúde dos atletas, olhar para o próximo, e modificar o planejamento do evento.

- O COI manteve os Jogos Olímpicos. É um ano que representa muito para nós atletas de alto rendimento. Eu não sou a favor. O mundo grita para uma outra situação, focada na saúde. Nosso planejamento está sendo recuado. Muita gente sem piscina e sem poder treinar, ou seja, sem conseguir seguir os planos de treinamento. Não cabe a mim decidir, mas sim falar sobre. Quanto mais a gente se unir e olhar para o próximo, vamos passar por essa - comentou Etiene.

Em meio à irritação dos atletas, um debate acalorado aconteceu nas redes sociais. O nadador brasileiro Bruno Fratus questionou a presidente da Comissão de Atletas do COI, a bicampeã olímpica Kirsty Coventry. A ex-atleta, de Zimbábue, afirmou que após uma reunião com 200 esportistas, e contatos com federações esportivas, os competidores devem continuar no processo de preparação para os Jogos. Com isso, o brasileiro disse que o comentário de Coventry estava desconectado da realidade.

- Kirsty, como colega nadador e atleta olímpico, eu te peço para reconsiderar e consultar com outros atletas pelo mundo. Não tenho certeza se você está sabendo que muitos atletas, como eu, estão incapazes de treinar. Além disso, o conselho para "continuar fazendo o que vocês estão fazendo" me parece desconectado com a realidade quando você vê líderes mundiais diariamente na televisão pedindo para as pessoas se isolarem - comentou Bruno Fratus.

Na última quarta, a primeira esportista a criticar a postura do COI foi a canadense Hayley Wickenheiser, membro da Comissão de Atletas do COI e tetracampeã olímpica de hóquei no gelo, foi a primeira a discordar do comitê e classificar a decisão como como 'insensível e irresponsável'.

- Esta crise é maior do que os Jogos Olímpicos. Os atletas não podem treinar nem fazer planos de viagem - disse Wickenheiser, que representou o Canadá em cinco edições de Olimpíadas, no hóquei de gelo.

A atual campeã olímpica do salto com vara, Katerina Stefanidi, também se manifestou, em sua rede social, contra as medidas da entidade e contestou o não adiamento do início dos jogos. A atleta fez duras críticas a entidade e disse que o COI quer que os desportistas sigam arriscando suas vidas e de seus familiares.

- Não é sobre como as coisas serão em quatro meses. É sobre como as coisas estão agora. O COI está querendo que a gente se mantenha arriscando nossa saúde, a saúde da nossa família e a saúde pública treinando todos os dias? Estão nos colocando em perigo agora, hoje, não em quatro meses - comentou Katerina Stefanidi.

Na quinta, a ex-judoca e medalhista olímpica, Kaori Yamaguchi também defendeu o adiamento das Olimpíadas de Tóquio. Ela faz parte do Comitê Olímpico Japonês (JOC), e declarou que diante do surto do COVID-19, os atletas não têm mais tempo para se prepararem de maneira adequada para os Jogos, que estão previstos para o dia 24 de julho deste ano.

- As Olimpíadas não devem ocorrer em uma situação que as pessoas no mundo não possam desfrutar. Até onde eu sei, atletas dos Estados Unidos e da Europa não conseguem treinar normalmente e não conseguiram concluir seus torneios classificatórios. Isso torna impossível que eles se apresentem bem nas Olimpíadas - sem contar todos os riscos pelos quais estão passando - ressaltou Yamaguchi.

Além dos atletas, dirigentes também questionaram a decisão do COI e pediram o adiamento das Olimpíadas de Tóquio. O presidente do Comitê Olímpico Espanhol, Alejandro Blanco, disse que os atletas espanhóis não têm condições de disputar o evento de maneira justa e igualitária.

Já o presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) e ex-presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Londres 2012, Sebastian Coe, afirmou não ser difícil transferir as Olimpíadas para 2021.

- As federações internacionais, na verdade, evitam anos olímpicos com frequência para ter seu campeonato mundial. O atletismo tem seu campeonato mundial nessa data (2021). O campeonato europeu de futebol foi adiado. O calendário esportivo é uma matriz complicada e não é simples facilitar um evento de um ano para o outro. Seria ridículo dizer que algo está descartado no momento. O mundo inteiro quer clareza; não somos diferentes de nenhum outro setor - destacou Coe.

Matew Piasenti, inglês tetracampeão olímpico de remo, também defendeu o adiamento em sua rede social. 

- Sinto muito, Sr. Bach, mas esse é um tom surdo. O instinto de manter a segurança (para não mencionar obedecer às instruções do governo para ficar em casa) não é compatível com o treinamento, a viagem e o foco que uma Olimpíada iminente exige de atletas, organizadores de espectadores, etc. Mantenha-os em segurança - declarou.

Apesar de ser a sua primeira Olimpíada, a atleta espanhola de marcha atlética, María Pérez, também defendeu a causa e que os jogos devam ser disputados em igualdade de condições. 

- Tóquio 2020 será a minha primeira Olimpíada, o sonho de todo atleta, mas se eu aprendi alguma coisa com as minhas referências olímpicas, é que um dos valores essenciais é o de igualdade de condições. Nestes tempos terríveis para todos, fica claro que nem todos os atletas estão na mesma situação, então, por mais que doa, eu defendo o pedido de adiamento desses Jogos. - defendeu. 

Já na sexta, a CEO da Natação norte-americana, Tim Hinchey, enviou para o Comitê Olímpico e Paralímpico dos Estados Unidos (USOPC), com o pedido para que a entidade apele ao COI para adiar a realização das Olimpíadas de Tóquio.

- Todos experimentaram perturbações inimagináveis, a alguns meses do início dos Jogos Olímpicos. O que está em questão é a autenticidade das condições equitativas para todos. Nossos atletas estão sob tremenda pressão, estresse e ansiedade. Sua saúde mental e bem-estar devem ser as maiores prioridades - comentou Hinchey.

Em resposta, o USOPC garantiu o compromisso com a saúde dos atleta, mas ressaltou que ainda não é o momento de fazer cobranças ao COI sobre um possível adiamento do evento.

Também na sexta, a Itália tornou-se o país com mais mortes por conta do coronavírus: 3.405. Diante da grave situação do país, os executivos do esporte Paolo Barelli e Giovanni Petrucci se mobilizaram e também fizeram um apelo ao Comitê Olímpico Internacional (COI) e pediram o adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.

Giovanni Petrucci foi presidente do Comitê Olímpico Italiano por quatorze anos e hoje é presidente da Federação Italiana de Basquete. Paolo Barelli, por sua vez, é presidente das Federações Europeia e Italiana de Natação e vice da Federação Internacional de Natação (FINA).

- Não sou contra os Jogos Olímpicos. Mas dizer que as Olimpíadas vão seguir é um grande erro de comunicação - afirmou Giovanni Petrucci em entrevista à agência Associated Press, e em seguida completou.

- Essa pandemia afeta o mundo todo. Eu sei que existem contratos bilionários. Eu sei disso tudo. Mas a vida humana vale muito mais que todas essas coisas - disse.

Já Petrucci ressaltou não ser o único que pensa no adiamento da Olimpíada, mas que muitos italianos têm medo de falar sobre isso. Para ele, cabe ao comitê avaliar toda situação em que o mundo se encontra no momento e reavaliar a decisão, pensando nos atletas, treinadores, árbitros e torcedores.

- Não quero atacar o COI. Há muitas pessoas lá que conheço. Mas eu não sei mais o que dizer. Não estou tentando criar uma controvérsia. Eu sou realista. É só olhar os boletins médicos. - alertou.

A Federação Norueguesa de Esportes e o Comitê Olímpico e Paralímpico da Noruega (NIF), em uma carta enviada a Thomas Bach, presidente do COI, também pediu o adiamento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos em virtude da pandemia global do novo coronavírus.

Segundo o presidente do esporte no país, Berit Kjoll, os eventos devem ser adiados até que a pandemia do coronavírus esteja sob controle e que os atletas possam trenar e se preparar de maneira adequada, sem risco de contágio ou problemas de saúde.

- Dada a situação altamente não resolvida na Noruega e em grande parte do mundo em geral, não é justificável nem desejável enviar atletas noruegueses para as Olimpíadas ou Paralimpíadas de Tóquio até 2020 antes que a comunidade mundial coloque essa pandemia para trás - comentou Berit Kjoll.

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