São Paulo: Êxodo da torcida faz aeroportos da Argentina virarem ‘muro das lamentações’ com vice

Cabeças baixas e rostos emburrados, retorno dos tricolores ao Brasil após tropeço em Córdoba parece cortejo fúnebre e evidencia falta de esperança por dias melhores

Torcedores São Paulo aeroporto
Bruno, Mariana e Gabriel: o garoto de 9 pediu, o pai levou a família toda (Foto: Rafael Ribeiro/ LANCE!)

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Diz tradição do judaísmo que o Muro das Lamentações é um dos locais mais sagrados da religião, onde fiéis fazem peregrinações usualmente pedindo que seus desejos atendidos. Para os torcedores do São Paulo, contudo, o local sacro não fica em Israel, mas sim na Argentina. E a volta da peregrinação tricolor está com cara emburrada e humor zerado. Na volta ao Brasil após a trágica derrota na final da Copa Sul-Americana, encerrando a única chance de título no ano, os adeptos do 'Mais Querido' lotam aeroportos pelo país vizinho. O entusiasmo inicial, contudo, foi-se embora antes deles.


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Em conversas ao LANCE!, a situação era a mesma: felizes pela oportunidade de terem visto uma final internacional do time do coração, mas chateados com o resultado.

Bruno Romano Lourenço, de 41 anos e morador do bairro da Mooca, em São Paulo, viajou até Córdoba com sua esposa Mariana e seu filho Gabriel, de nove anos. Apaixonado pelo Tricolor paulista, Bruno falou que sua maior frustração foi por ter a oportunidade de acompanhar a fase mais vitoriosa do clube no passado, mas lamentar que seu filho não ter o mesmo. Porém, mesmo com a derrota, afirmou que a experiência valeu super a pena pela presença da torcida e pelo fato da cidade ser bem receptiva.

- Compramos os três essa aventura, a Mariana e o Gabriel. Viemos os três para essa aventura, felizes, animados, a cidade recebeu a gente bem. Torcemos até o dia do jogo, parecia uma maratona. O dia do jogo, na hora, o resultado foi decepcionante. São Paulo atuou mal, não teve vontade. Isso decepciona, parece uma desculpa, mas eu sou de uma fase vitoriosa, eu vi tudo que dava, vi ser campeão. É duro ver uma criança que nem o Gabriel, nove anos e louco pelo São Paulo, aqui tinha uma expectativa muito grande de resgatar aquele espírito vencedor do São Paulo, copeiro e não aconteceu. Mas a gente não deixa de torcer, o que foi bacana foi o sentimento da torcida - disse.

Sobre a presença em peso da torcida na cidade de Córdoba, palco da partida, Bruno chegou até a rebater uma fala do ex-jogador do Corinthians, Emerson Sheik.

Durante o programa 'Arena SBT', Sheik disparou contra os são-paulinos alegando que a torcida era 'morta e fria'. De acordo com Bruno, a frase do ex-atleta é equivocada.

 - Estava assistindo um programa outro dia, no SBT, onde o Emerson Sheik dizia que a torcida do São Paulo é fria, não é calorosa. Desculpa, mas ele não viu nenhum jogo. A gente está aqui, precisa voltar para São Paulo. Ainda precisamos de uns seis pontos para não correr riscos no Campeonato Brasileiro - argumentou o torcedor.

Com a derrota na final do continental e a eliminação recente na Copa do Brasil, os olhares do São Paulo e de Rogério Ceni se voltam para o Campeonato Brasileiro. Agora, a maior questão é: o Tricolor disputará a Copa Libertadores no próximo ano?

Para isso ocorrer, o Tricolor precisa encerrar o Brasileirão entre os seis primeiros colocados. De acordo com Bruno, sob a visão de torcedor, ainda há uma caminho logo para ser percorrido pelo clube. Conforme suas palavras, o São Paulo ainda não tem porte para competir pelo torneio.

- Vaga na Libertadores não creio, acho que a gente nem merece estar. A gente está meio de luto. Penso se teremos um time compatível com a Libertadores ou se vamos passar a mesma vergonha. Será que não é melhor estar fortalecido primeiro em uma Sul-Americana para depois caminhar? Meu irmão não quis vir para cá, queria uma Libertadores. Hoje a Sul-Americana é nossa Libertadores. Embora tenha participado de todas as finais, não estou animado - afirmou.

Sobre elenco, o são-paulino citou Antony. Para ele, faltam jogadores como a cria de Cotia na equipe atual.

- O elenco do São Paulo não é ruim, mas é limitado. Questões técnicas desse futebol que temos hoje, o mundo jogando pelas alas e a gente não tem essa velocidade. Não temos mais um Antony, um cara puxando. Ficamos chateado com a questão do Calleri, mas acredito que se tivéssemos um meia, uma ligação, a gente tinha comemorado um gol. Acho que tem que vir, agora cortar acho que foi geral. Para mim, Pablo Maia foi o melhor em campo. Todos estavam abaixo - opinou.

Mariana, esposa de Bruno, também é torcedora fanática do São Paulo. Na espera do voo para retornar a São Paulo, comentou sobre como Córdoba é receptiva e como os moradores - que pareciam não saber o que estava acontecendo - embarcaram na alegria da torcida tricolor presente.

 - Eu embarquei nessa aventura, estava muito feliz por proporcionar essa oportunidade, mas a cidade é muito receptiva, não imaginava que teria tanta gente. As pessoas locais sem entender o que estava acontecendo, cheguei a gravar um vídeo para uma professora que explicasse para os alunos porque eles não sabiam que teria o jogo. Mas realmente, ver meu filho triste com isso foi triste demais, senti muito por isso. Para mim o que mais doeu foi ver que a torcida estava lá apoiando, com sinalizador e os jogadores nem olham para torcida, indo para o vestiário. O Ferraresi puxou e aí eles viram. Isso cortou o coração, tem uma criança que não parava de chorar ali. Estava tudo escrito - disse Mariana.

Pedro Cardoso, de 23 anos, também estava na espera do seu voo para casa e comentou sobre ir embora para o Brasil com a derrota. O torcedor é morador da cidade de Atibaia, interior do estado de São Paulo.

Para Pedro, mesmo que tenha sido difícil lidar com o resultado, a festa dos torcedores foi ótima, de acordo com suas palavras.

- Foi doída. Estava uma festa absurda, faltou muita garra. Os caras pareciam muito nervoso, Reinaldo errando toda hora. Estava bem complicado, é isso. São Paulo, vamos estar junto. Gritar para a oposição para melhorar isso - disse.

Sobre a esperança de garantir a vaga na Copa Libertadores, diferente de Bruno, Pedro destacou que acredita na possibilidade.

- Rogério tomou uma decisão que empolgou, a gente não tem elenco para disputar todos os campeonatos. Acho que vamos conseguir, não está tão distante, embalar umas três vitórias seguidas e acho que chegamos lá. Pelo menos um G6 - completou o torcedor.

Por fim, o são-paulino ressaltou que acha necessário 'cortar' os jogadores mais velhos do elenco, priorizando por manter os atletas mais jovens para a próxima temporada. Para ele, é necessário uma renovada.

- Tem que mandar uma galera embora. Deixar a molecada, os caras que chegaram agora. Mas os medalhões, acho que já estão na hora de ir embora. Eder, Reinaldo... Acho que tem que dar uma renovada. Agora pego o avião de Córdoba para Buenos Aires, de lá para São Paulo e ainda vou para Jundiaí porque vou trabalhar. Doeu, mas valeu a pena - concluiu.

Mesmo que os torcedores ainda estejam retornando para o Brasil, a delegação do São Paulo já está em solos nacionais desde o último domingo (2). O elenco de Rogério Ceni se reapresentou no CT da Barra Funda nesta segunda-feira (3).

*Colaborou Izabella Giannola, de São Paulo (SP)

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