Eleições no Conselho do São Paulo: Conheça as propostas de Marcelo Marcucci Portugal Gouvêa

Aliado de Roberto Natel, Marcelo pertence ao grupo 'Nova Força' e concorre com Olten Ayres Jr. ao cargo de presidente do Conselho Deliberativo do Tricolor do Morumbi 

Marcelo Marcucci Portugal Gouvêa é filho de um presidente histórico do Tricolor
Marcelo Marcucci Portugal Gouvêa é filho de um presidente histórico do Tricolor (Divulgação)

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No próximo sábado, o Conselho do São Paulo se reúne para definir o novo presidente da Diretoria, posição pleiteada por Julio Casares e Roberto Natel, e também o novo presidente do próprio Conselho Deliberativo do clube - responsável por fiscalizar a gestão e atuar no cumprimento do estatuto. O LANCE! entrevistou os dois candidatos à cadeira e publica o bate-papo com Marcelo Marcucci Portugal Gouvêa, do grupo 'Nova Força'.

Filho do ex-presidente Marcelo Portugal Gouvêa (campeão da Copa Libertadores e do Mundial de 2005), Marcelo Marcucci iniciou sua vida política no Tricolor no início dos anos 2000. Formado em direito, o candidato à presidência do Conselho é aliado de Roberto Natel, e defende a profissionalização do clube e a transparência na gestão.

Marcelo, gostaria que você se apresentasse e falasse um pouco sobre sua vida profissional. Seu pai é um presidente histórico do São Paulo, mas eu gostaria de saber um pouco mais sobre sua relação com a vida política do São Paulo.
Minha vida pessoal e minha vida relacionada ao São Paulo convergem. Eu tenho 38 anos, sou advogado, trabalho em um escritório de advocacia, sou casado e tenho dois filhos. A minha vida sempre foi relacionada ao São Paulo porque quando eu era muito pequeno, na década de 1980, meu pai foi diretor de futebol do São Paulo. Naquela época, para estar junto ao meu pai, eu precisava estar junto ao São Paulo. Meu trabalhava o dia inteiro no escritório dele e de noite ia para o São Paulo. Nos dias de semana, eu não poderia ir porque tinha seis ou sete anos. Eu não via o meu pai durante a semana, mas aos fins de semana, como ele também estava no São Paulo já que tinha jogo, eu ia. Então, para ver meu pai eu tinha que estar junto ao São Paulo. Foi um grande prazer conviver com grandes jogadores.

Na década de 1990, comecei a entender mais a questão política, comecei a participar mais das primeiras assembleias ainda como adolescente. Até que nos anos 2000, depois de um longo período na oposição, meu pai foi eleito presidente. Comecei a participar um pouco mais da gestão de uma forma informal, conversando bastante com meu pai e com alguns diretores. Em 2005, até para a minha surpresa, fui nomeado diretor-adjunto de futebol. Não pelo meu pai, mas pelo Juvenal Juvêncio. Ele entendeu que eu estava começando a ajudar a questão do futebol com uma visão mais jovem. Fiquei nesse cargo até 2009. Paralelamente a isso, surgiu o grupo político do qual eu faço parte, o 'Nova Força'. Ele nasceu da visão de alguns dirigentes de que o São Paulo necessitava renovar seus dirigentes. Ensinar novas pessoas para que elas pudessem substituir os dirigentes antigos. Fui eleito conselheiro com um mandato de seis anos entre 2008 e 2014. No final de 2010/2011, comecei ajudar no projeto do sócio-torcedor prestando auxílio jurídico. Em 2014, fui eleito como conselheiro-vitalício. A partir daí, continuei ajudando o São Paulo em projetos específicos. O principal deles foi a criação do novo estatuto.
Participei da comissão de sistematização do novo estatuto em 2017 e, um pouco antes disso, participei da comissão criada para analisar e fazer um relatório endereçado ao Conselho Deliberativo sobre o contrato com a Far East. Essas duas participações foram especiais para o São Paulo porque trouxeram bons resultados. Uma representou uma economia muito grande de dinheiro e a outra resultou em uma modernização legislativa que possibilitou ao São Paulo se profissionalizar e acompanhar as inovações do futebol. 

Hoje, o São Paulo é marcado por um momento de divisão política. Quais são as pautas defendidas pelo 'Nova Força' para o futuro do São Paulo?
O 'Nova Força' talvez seja o grupo que tenha ideias um pouco mais diferentes que justificariam a criação de um grupo. Há vários grupos no São Paulo que defendem pautas parecidas e, por uma questão casuística, se dividiram. O 'Nova Força' é diferente dos demais, até mesmo pela juventude de seus membros. A ideia é defender a profissionalização do São Paulo de forma irrestrita. Retornar o São Paulo ao vanguardismo e, especialmente, defender o protagonismo do futebol em detrimento a tudo dentro do clube. Obviamente, não esquecemos da área social, mas ela representa um pedaço pequeno em relação ao orçamento do clube. Portanto, o 'Nova Força' defende que os esforços da gestão foquem no futebol. 

Como vocês se posicionam dentro da política do clube? O 'Nova Força' é um grupo de oposição dentro do São Paulo? 
Nós somos oposição à atual gestão. Entendemos  que a gestão não acompanhou as regras estatutárias de profissionalização e de transparência. Nos unimos com outros grupos que também faziam oposição à gestão e formamos o 'Resgate Tricolor'. O 'Nova Força' não é um grupo de mídia, digamos assim. Quando fazemos oposição não saímos fazendo alarde. O nosso trabalho é tentar consertar o que está errado. No caso específico dessa gestão, nós fomos conversar com o presidente algumas vezes e falamos: 'olha, nós não concordamos com isso e com aquilo'. Até o momento em que ele parou de nos escutar e decidiu seguir outro rumo. É legítimo, mas fez com que nos afastasse da gestão. 

O que te motiva a querer disputar a cadeira da presidência do Conselho Deliberativo do São Paulo?
Pode até parecer conversa de político, mas não foi isso. O que me motivou foi a realidade. No começo do ano, eu não pensava em concorrer ao cargo, mas pessoas próximas e, especialmente o grupo 'Nova Força', entendeu a necessidade de tentar mudar o Conselho Deliberativo do São Paulo como força de ajudar o clube no médio e longo prazo. A presença da diretoria geralmente é o que traz mais holofotes com o poder da gestão e isso ninguém discorda, mas o fato é que se a gente tentasse concorrer à cadeira da diretoria poderíamos fazer uma gestão concorrendo às regras estatutárias, fazendo o São Paulo retomando o vanguardismo com profissionalismo e, na próxima gestão, poderia voltar tudo a ser feito como tem sido atualmente. Por isso, pensamos em retomar as funções do Conselho Deliberativo. Já aconteceu muitas vezes de ter o presidente do Conselho Deliberativo pertencente a um grupo e o presidente da Diretoria de um grupo opositor. A função do presidente do Conselho Deliberativo é fiscalizar a ação da gestão e isso foi muito positivo. É isso que precisa voltar ao São Paulo Futebol Clube. Precisamos resgatar a autonomia do Conselho. Nós entendemos que tentar restaurar o Conselho, tentar formar o Conselho com pessoas que tenham essa cabeça, esse pensamento, talvez possamos moldar as gestões. O São Paulo está entrando na década de seu centenário e pensamos que era mais importante mudar o Conselho do que mudar a gestão. Esse foi o entendimento do 'Nova Força'. 

Recentemente, o São Paulo aprovou uma série de reformas estatutárias. Você defende outras reformas dentro do clube?

Sim, com certeza. Nós precisamos reformar o que for necessário para fazer com que o São Paulo se adapte ao profissionalismo. Eu entendo que o estatuto tem muitas coisas boas que não foram cumpridas. Por isso, não dá para saber se ele precisa passar por mudanças. Quando o estatuto foi redigido já pensando em uma situação como essa, dele não ser cumprido por uma gestão, pensou-se em fazer uma reforma estatutária obrigatória após duas gestões. Para que a análise sobre o estatuto não fosse atrelada apenas a uma gestão só, e sim duas. A ideia é ver se o problema era a lei ou eram as pessoas. Em 2023 tem uma reforma estatutária obrigatória e ali vai ser analisado tudo o que deu certo e tudo o que deu errado. Fora isso, podemos até antecipar algumas alterações estatutárias. O grupo 'Resgate Tricolor' e, especialmente, o 'Nova Força' defende o voto direto à presidência, tanto do sócio como eventualmente do sócio-torcedor ou uma nova categoria do sócio patrimonial do futebol que venha a surgir para que a torcida possa resolver quem seria a próxima gestão.

O formato hoje indireto não só inviabiliza que pessoas que gostem só do futebol e não do social votem, como fortalece o voto do pessoal que pensa só no social. É legítimo que isso aconteça. Há sócios do São Paulo que não têm interesse no futebol. O interesse é de que a piscina seja reformada, que a quadra de tênis esteja sempre com a manutenção em dia. Essa pessoa acaba contribuindo por conta dos seus interesses legítimos porque, obviamente, ela paga uma contribuição mensal ao clube, o futuro do São Paulo. Só que o orçamento, 95% dele, é do futebol. Isso precisa mudar. 

Essa reforma específica, que daria o poder de voto ao torcedor, é uma das principais reivindicações da torcida. Muitos consideram o atual sistema arcaico. Você sendo eleito para a presidência do Conselho levaria essa pauta para que seja debatida? 
Antes disso, o estatuto previu dois estudos. Um sobre a transformação em clube-empresa e outro sobre o voto direto. Esses estudos não seguiram os trâmites do estatuto e estão parados. Eu, como presidente do Conselho e, portanto, defender do cumprimento do estatuto, com certeza foi provocar que o estatuto seja cumprido em relação aos dois estudos. Isso com certeza eu vou fazer. Em relação a levar a pauta, o estatuto prevê formas para que isso seja feito. Eu, como presidente do Conselho não posso sozinho levar a pauta. Pode ser por um grupo de conselheiros ou até mesmo por um grupo de associados. Se eu entender que deva defender que tenho que defender essa pauta, sim eu defenderei. Farei os trâmites que o estatuto determina para que essas situações sejam levadas para frente. 

Uma outra reinvindacação da torcida é de que o Conselho seja mais transparente. Há reivindicações, por exemplo, para que as reuniões sejam transmitidas on-line. Qual o seu posicionamento quanto a esse tema? 
Eu acho fundamental que tanto o torcedor como o sócio entenda quais são as funções do Conselho do São Paulo. Esse é o ponto zero. Às vezes há uma decepção da comunidade são-paulina quanto aos conselheiros por questões que são alheias ao funcionamento do Conselho. O conselheiro não está lá para escolher se vai contratar o jogador X ou Y, ou trazer o jogador A ou B. O conselheiro tem outras funções muito importantes, algumas que deixaram de ser feitas em outras gestões. O torcedor tem que saber qual essa função até mesmo para conseguir cobrar. Os conselheiros estão lá para representar dois interesses. O primeiro é a instituição São Paulo Futebol Clube e a outra é, por enquanto, representar o sócio. Afinal, é o sócio que o colocou lá. Para representar a instituição, a transparência é fundamental. Toda a empresa hoje tem regras de transparência e de compliance que são comuns em outros lugares. Chama a atenção o São Paulo não seguir isso. Eu, particularmente, defendo que as reuniões do Conselho possam ser transmitidas ao-vivo.

Obviamente, algumas partes nós teríamos que cessar a transmissão por questões confidenciais. Às vezes, discutem-se contratos com cláusulas de confidencialidade. Precisamos também defender os interesses da instituição para não pagar uma multa por quebra de contrato de confidencialidade. Mas outras coisas podem ser transmitidas. As contas são publicadas. Qual o problema de se transmitir a discussão sobre as contas? Não vejo problema algum e vou defender isso. 

Ao longo da nossa conversa você comentou sobre o São Paulo ter perdido seu caráter vanguardista. De forma geral, o que você acredita que tenha levado o clube a perder essa caracterísica?

Uma vez eu vi a definição de um jornalista e eu não tenho como discordar do que ele falou. O São Paulo talvez tenha sido o clube brasileiro que melhor tenha se adaptado à época do futebol armador. O São Paulo foi pioneiro ao viabilizar um estádio gigantesco em um lugar que não tinha nada, só mato. As pessoas falavam que os dirigentes foram visionários, que eram loucos. Para que fazer um estádio tão grande? Veja na história quantas vezes ficaram pessoas para fora do estádio porque não havia mais como entrar. Um exemplo mais recente, isso é um discurso externo, é o fim da lei do passe. Nos anos 2000, o São Paulo contratava um monte de jogador na regra dos seis últimos meses e os outros clubes não conseguiam contratar. O São Paulo já nesse perído de transição foi um dos primeiros clubes a se adaptar e conseguir recursos atráves da Lei de Incentivo ao Esporte. Grande parte do CFA lá de Cotia foi construído através de recursos incentivados. O São Paulo é um dos maiores receptores de doação na Lei do Incentivo. Não sei como está isso hoje, mas o São Paulo foi pioneiro. Pelo fato do clube ter sido quem melhor se adaptou à fase amadora do futebol, é o clube que tem mais dificuldade de se adaptar à era profissional.

Muitos saudosistas pensam que o São Paulo não precisa fazer isso porque já fez de outra forma e deu muito certo. Faz sentido ter essa dificuldade e o clube precisa se adaptar ao profissionalismo. Com isso, conseguirá brigar de igual para igual com outros clubes. Uma coisa recente e que incomoda muito é a questão do São Paulo ter parado tomar a frente na questão de se pronunciar, tomar partido, colocar seu ponto de vista. O São Paulo foi protagonista. Vou citar aqui a criação do 'Clube dos 13'. Hoje, o São Paulo não se pronuncia. Exemplo agora a lei do mandante, o VAR. O São Paulo está tendo o ímpeto de liderar essas questões polêmicas. Precisa voltar a ser o que era. 

Como você vê a gestão do atual presidente Leco? 

A atual gestão, até muito por conta do estatuto, tomou um rumo à profissionalização, mas não como deveria ter sido. Deveriam ter pegado pessoas melhores do mercado. Não é uma coisa fácil da noite para o dia, mas isso deixou a desejar. Quanto às finanças, talvez o ímpeto por ganhar um título fez o São Paulo gastar muito dinheiro e nem vou discutir aqui a qualidade das contratações. O fato é que gastou-se mais do que arrecadou e isso gerou um aumento da dívida. Analisando pelo lado do Conselho Deliberativo, a gestão parou de enviar as informações mensais que tinham as informações do balancete. Então, quando a notícia chegou ao Conselho já estava uma bola de neve e não se fez nada para tentar evitar isso. O grupo que se denomina coalização era o grupo que dava sustentação à gestão e, no Conselho, eles não deixavam que essas coisas fossem analisadas profundamente porque eles tinham ampla maioria. Era difícil para o Conselho evitar que isso crescesse como cresceu por falta de uma maioria. 

Você defende que o Conselho deva se reunir mais ao longo do ano?

Defendo. Pelo fato de ter poucas reuniões, as pautas muitas vezes ficam extensas. Além disso, elas são noturnas. Muitos conselheiros têm uma idade avançada. Então, os últimos itens da pauta ficam esvaziados porque as pessoas vão embora ou a atenção já não está muito alta, até pelo fato de terem trabalhado o dia inteiro e depois precisam decidir questões importantes referentes ao São Paulo Futebol Clube. A ideia é de que sejam pautas mais enxutas para ter um quórum maior e também para a concentração esteja em um nível maior. Caso eu seja eleito, vou fazer um calendário para o ano inteiro. Os conselheiros ficam sabendo das reuniões dez dias antes e, às vezes, esse prazo é curto. Um calendário divulgado no começo do ano proporciona mais motivos para que as reuniões estejam cheias. 

Você citou momentos do passado em que o presidente do Conselho pertencia a um grupo político e o presidente da Diretoria era de um outro grupo dentro do São Paulo. Caso você e o Natel sejam eleitos como trabalhar essa questão da fiscalização, já que ambos pertencem ao mesmo grupo?
É isso que eu espero que aconteça. Acredito que o Natel e as pessoas ao seu redor têm melhores condições de gerir o São Paulo do que o outro grupo e eu tenho um diálogo muito aberto com o Roberto. Já disse que se eu for eleito vou fazer uma fiscalização na gestão dele assim como faria com o outro grupo. Entendo que esse cargo (presidente do Conselho) não é um cargo político, é um cargo operacional. Ele entendeu totalmente e disse: 'Você precisa fiscalizar mesmo. Se não houver fiscalização, a gestão pode tomar um lado incorreto'. O Conselho Deliberativo tem que ser atuante. Ele (Natel) como membro do Conselho Deliberativo, liderando movimentos, inclusive o movimento do fim da remuneração para conselheiros que ocupavam cargo dentro do clube, foi ele que começou a lista. Foi um movimento que gerou a alteração do estatuto. Ele sabe disso, concordou e me apoia. Vou ter muita tranquilidade para trabalhar. 

Como é sua relação com o Julio Casares, candidato do grupo oposto ao seu, e que também pode vir a ser o novo presidente do São Paulo? 
Tenho uma relação pessoal. Não sou amigo dele, mas é uma pessoa que sempre me tratou muito bem no São Paulo. Assim como a grande maioria dos conselheiros lá no clube tenho uma relação transparente. Não digo uma relação profissional porque acaba não sendo um trabalho remunerado, mas eu trato todos com o mesmo respeito.

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