Andrés Rueda: ‘O Santos sempre tem que entrar nos campeonatos para ser campeão’

Candidato à presidência do Peixe pela chapa "União pelo Santos" foi o quarto entrevistado na série de sabatinas promovida pelo LANCE!

Andrés Rueda
Andrés Rueda se candidata à presidência do Santos pelo segundo pleito seguido (Foto: Reprodução/Facebook)

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Neste sábado (12), os sócios do Santos definirá quem será o presidente da instituição entre 2021 e 2023. Seis candidatos concorrem ao cargo de "manda-chuva" do Peixe, e entre os dias 30 de novembro de 5 de dezembro, o LANCE! promoveu uma série de entrevistas com os postulantes ao cargo máximo do Alvinegro Praiano. 

As sabatinas foram feitas ao vivo, através do Instagram do L! e estão disponíveis do IGTV. Contudo, estamos repercutindo as falas dos candidatos também em texto. 

Confira, portanto, o bate-papo com Andrés Rueda, candidato à presidência do Peixe pela chapa quatro, denominada "União pelo Santos".

>> Confira aqui o chaveamento da Libertadores 2020

O que te impulsionou a se candidatar à presidência do Santos em 2020?

Eu comecei a trabalhar muito cedo. Com 15, 16 anos comecei minha vida profissional, passei por algumas empresas, fui diretor da bolsa durante 20 anos, cheguei a ter minha própria empresa, com 6 mil funcionários, mas no ano passado resolvi parar. Estava na época de me dedicar mais à família e aproveitar a vida. Porém, vendo a situação do clube, com a crise que ele se encontra, não só financeira, mas moral, operacional e de ética também, eu me vi na obrigação, de como todo bom santista, de ceder o meu tempo e a expertise que acumulei nesses anos para poder tirar o clube dessa situação. Foi isso que me motivou a me candidatar nessa eleição do final do ano.


O Santos hoje possui grandes dívidas financeiras e as mais recentes gestões em sua grande parte assumiram o clube afirmando que essas pendências foram herdades. Na sua opinião, em que ponto esse declínio administrativo iniciou e como solucionar esses problemas em um triênio?

Essa crise não começou ontem, nem na última gestão. A gente está colhendo frutos de várias gestões com irresponsabilidade operacional e incapacidade de gestão. O clube foi largado à deriva. Os gestores só pensavam em comprar e vender jogador. Arrecadavam 10, mas gastavam 15. Um dia a conta chega. Eu cito sempre o exemplo de uma pessoa física, que ganha um e gasta dois. Até que uma hora chega o oficial de justiça e chega para tirar seu carro, sua geladeira. E o oficial de justiça do clube é a Fifa. Quando a dívida fica insustentável, ela pune os clubes da pior forma, tirando pontos em campeonatos, sendo rebaixado e até proibindo a disputa de competições internacionais. O clube está nessa situação. Por total irresponsabilidade. O pessoal não trabalhou com orçamento, com fluxo de caixa, com uma visão de médio e longo prazo. Isso não funciona, a solução pra isso é simples, não tem muito mistério. A primeira coisa é equacionar a despesa ordinária. Você não pode gastar mais do que recebe. E a dívida, que falavam em 600 milhões, hoje já fala em 700, nos custa por ano, em juros e multa, mais de 50 milhões de reais. Isso não tem cabimento. Não podemos gastar mais do que arrecadamos. Essa é a primeira coisa. A segunda, é que não tem como, a dívida está ai, ela precisa ser negociada. Precisamos alongar o prazo, abaixar juros e passar credibilidade pros credores. A maioria dos contratos são danosos para o clube, com multas homéricas, condições de juros altíssimas, como exemplo a ... a gente devia 5 milhões de euros em setembro do ano passado, não foi pago e a dívida virou 15 milhões de euros, foi total irresponsabilidade de quem assinou o contrato com uma dívida dessa e de quem teve dinheiro e não pagou. O exemplo do Hamburgo também, que estava na Fifa, em um valor total de 4 milhões e 700 mil euros. A multa dobrou, enquanto comprávamos jogador de mais de 2 milhões e meio de euros. O Santos sempre faz contratos ruins, sempre sai prejudicado, e, se for o caso, precisamos falar com os credores para rever as dívidas e os contratos ou até ir na justiça para defender o clube.

Existe fórmula para solucionar ou estancar parte o integralmente os problemas financeiros do Santos sem onerar o desempenho esportivo?

A gente acabou de ver exemplos de times que investiram milhões e não conseguiram conquistar títulos. O investimento não é garantia de campeonato. Da mesma forma, dentro do próprio Santos, temos exemplo de um momento financeiro ruim em que fomos campeões, com Robinho e Diego. O fato de apertar o cinto não significa que não podemos ser campeões. O Santos sempre tem que entrar em um campeonato pra ser campeão. O Santos precisa investir muito na base e estudar muito as contratações. As contratações pontuais precisam ser muito estudados. Não podemos mais errar. Já erraram mais do que deveriam. Então, isso precisa ser feito com muito cuidado, com muito critério. A palavra do técnico não pode ser a única palavra para a contratação de um jogador. É preciso de um staff para avaliar todas as questões relativas ao jogador antes de contratá-lo. Não posso me dar o luxo de trazer um jogador que seja bom no campo, mas me dê problemas em outros aspectos. Com tudo isso, a médio prazo, a gente volta numa situação mais controlada para o clube

Como o senhor enxerga e pretende lidar com as categorias de base do Santos, se eleito?

Infelizmente, não é a base que apresenta problemas, mas foi o clube como um todo. O Santos acabou perdendo sua identidade operacional. Não existe mais um planejamento no clube. Especificamente na base, perdemos aquele processo de captura de promessas, aquela rede de olheiros que o Santos costumava ter, isso se perdeu. Nossa base hoje, muito se fala, que é formada por jogadores que vêm de empresários. Precisamos recuperar isso. Além disso, também se perdeu o esquema de peneira, isso foi deixado pra lá. Com isso, pretendemos, urgentemente, colocar processos nas áreas do clube, para conseguirmos acompanhar e melhorar todas as áreas. É preciso de um modelo que comece no futsal e chegue até o profissional do futebol. Queremos de volta o DNA de futebol ofensivo. Tudo tem que ter regras. A partir disso, as coisas vão começar a acontecer com planejamento. O mínimo que precisa-se fazer é dar infraestrutura. Isso tudo deixou de ser feito com a desculpa mentirosa de falta de dinheiro. O santos arrecadou 400 milhões de reais no ano passado. O problema é que o dinheiro foi mal gasto. Sumiu toda a receita e hoje não temos jogadores que representem valores significativos. A primeira prioridade que o clube tem que ter é voltar a ser aquele Santos modelo.

Como o senhor enxerga e pretende lidar com o futebol feminino do Santos, se eleito?

A situação do feminino é muito similar às da base. Eu chamo elas de heroínas, porque as condições são lastimáveis. O clube não fez o mínimo. A falta de dinheiro não é desculpa. Existem projetos do governo de incentivo fiscal, que o clube pode pegar, através de apresentação de um bom projeto para o governo. Existe uma boa captação dos recursos, que a empresa destina para projetos sociais e esportivos. Mas o clube nunca fez, porque isso dá trabalho e precisa ser fiscalizado. Na nossa gestão isso será feito para incentivar a base, o futebol feminino e os esportes olímpicos. Inclusive, passamos por um caso triste com o nosso CT, que pertence à União e estavam querendo leiloar porque o Santos não cumpriu suas obrigações com as ações sociais. Isso é uma vergonha. O clube pena muito por falta de ações pontuais. Isso não é por falta de dinheiro. Essas ações não precisam de muito dinheiro. É falta de vontade.

Como o senhor enxerga a possibilidade de inclusão de outras práticas esportivas no Santos FC?

O clube tem uma obrigação estatutária de ter modalidades olímpicas. A gente sempre vai procurar, levando em conta a situação financeira do clube, incentivar ao máximo essas modalidades. Mas é importante que qualquer competição ou esporte represente bem o símbolo do clube. A gente pode fazer convênios com clubes da cidade, mas precisa ter vontade. Eu digo e repito, o que o Santos precisa todo mundo sabe. O clube precisa de mudança e inovação. Todos os candidatos das últimas duas eleições tinham os mesmos projetos, era tudo igual. Por isso a nossa chapa se destaca. Podem ter certeza que em médio prazo vamos colocar o trem do Santos de volta nos trilhos.

Como o senhor avalia as prioridades de mando de campo de Santos Futebol Clube e o projeto de retrofit da Vila Belmiro?

Antes de falar do que a gente imagina pra isso, preciso falar do nosso programa de trabalho. Temos pilares que acreditamos. E quando a gente fala de coisas a serem feitas, precisamos de um norte maior. A visão de para onde queremos levar o Santos. Hoje, a gente percebe pela Europa, o futebol passou a fazer parte do mundo do entretenimento. A gente transforma um simples jogo em um evento esportivo. É mais do que um jogo. Existe um pré e um pós-jogo, uma festa, áreas para sócios, por aí vai. Sempre perto de eleição aparece um projeto de retrofit ou novo estádio. O último apresentado, da WTorre, nos agradou muito. É um estádio moderno, com lojas, estacionamento, áreas modernas. O que precisa ser feito é uma boa parte comercial. Não podemos fechar as portas para que o Santos não seja proibido de jogar onde não queira. Quanto ao calendário do futebol, outra coisa que as brigas do clube com a imprensa e com a CBF geraram foi um calendário ruim para o Santos. A gente só pega dia ruim e horário ruim para jogar. O clube aceitou isso sem discussão, muito parado. Nossa ideia é tratar as rodadas com planejamento e alinhamento, para que em cima disso, possamos jogar onde seja melhor para a nossa torcida. O Santos tem a obrigação de se apresentar para sua torcida. Eu costumo dizer que prefiro ter um prejuízo de 20 mil com estádio lotado do que um lucro de 30 mil com metade do estádio. Precisamos entender a torcida, o sócio, as críticas, as reclamações. O clube não e dono da verdade. O erro do Santos foi se fechar demais e não ouvir a torcida. A obrigação do executivo do clube é montar projetos que atendam a torcida.

Recentemente o atual Comitê Gestor do Santos apontou algumas inconsistências no cadastro de sócios do clube, como você enxerga esse episódio? Você acredita que isso pode interferir no pleito do dia 12 de dezembro?

O sistema de cadastro de sócios do clube não pode ser terceirizado, tem de ser feito pelo clube. Em três gestões, três empresas diferentes fizeram esses sistema. Não é um sistema tão complexo. O clube precisa ter domínio do número dos sócios. Agora, não é nada que impeça qualquer tipo de votação a distância. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Se você sabe que tem alguma coisa errada ou suspeita no cadastro, segrega e deixa pra votar de uma forma presencial ou corrigir. Outro erro de conceito é que a raposa toma conta do galinheiro. A responsabilidade do cadastro do sócio jamais poderia ser do executivo, que geralmente está envolvido nas eleições. A gente pretende, vencendo as eleições, fazer o Santos ter seu próprio sistema de cadastro e que ele não seja de responsabilidade exclusiva do executivo do clube. Isso tem que ser resolvido.

Você acredita que a inconsistência nos dados dos sócios, bem como algumas contrariedades ao voto à distância, poderá dar brechas para que chapas derrotadas tentem a anulação do pleito?

O direito ao voto à distância é assegurado no estatuto do clube. É um direito. Temos algumas consistências e precisamos corrigir, mas nada impeditivo. O voto à distância é uma coisa política. É uma forma do time não perder seus currais eleitorais nas cidades. O voto à distância tem que acontecer, seja favorável ou seja prejudicial a qualquer chapa. O direito do sócio é o que está em questão. Tem que ser implementado e corrigido o que não estiver de acordo.

Como você avalia o atual Conselho Deliberativo do Santos e como pretende formar o seu, caso consiga o número necessário de votos para constituir cadeiras?

O nosso conselho deliberativo já está definido na formação da chapa. Quando você registra a chapa, além do presidente e do vice, registramos 240 candidatos ao conselho, que dependendo do índice que você obtém na eleição, passam a fazer parte do conselho. Nós fizemos uma escolha super democrática. Tínhamos o apoio de vários grupos, e demos o direito de quatro candidatos ao conselho. É uma forma de você ter várias correntes dentro do clube, já que ele é um órgão fiscalizador. O executivo e o conselho não podem ser inimigos, como sempre foi. Isso não existe. O nosso estatuto, apesar de moderno, peca muito na parte de punição. Então, também, vencendo as eleições, queremos que o conselho faça uma revisão do nosso estatuto e altere a parte da punição ao executivo. Essa falta de punição foi um dos problemas da relação da gestão com o executivo.

Comitê de Gestão: necessário, desnecessário ou mal necessário?

O modelo de comitê de gestão, de coordenação colegiada, é uma coisa moderna, as empresas utilizam isso. Acabou o tempo de confiar apenas na cabeça de um presidente. O que acontece no Santos é que o comitê tem muita gente. Tem nove pessoas. Poderia ter menos. O problema é que nenhuma gestão conseguiu aplicar. As pessoas que passaram por lá não entendem que qualquer decisão precisa ser colegiada. Pouquíssimas vezes isso aconteceu. Muitas vezes porque não agradava ao gestor ou por falta de capacidade. Os últimos gestores não tinham capacidade técnica para trabalhar com comitê de gestão, com conselho deliberativo. Não estão acostumados com a modernidade. Então, a gente pretende mostrar pro sócio que isso funciona, só não souberam utilizar.

Como você analisa a “Gestão de Transição”, do presidente Orlando Rollo e o “Comitê de Transição” montado para esse período?

Foi uma medida super assertiva, muito boa. Os candidatos só passam a ter uma visão maior do clube quando estão lá dentro. Isso que o presidente Rollo fez ajuda muito para o candidato ter detalhes da situação e da crise do clube e montar um plano de ação. Tudo isso se deve à abertura que a presidência deu. Foi muito positivo

Consideração final

Queria dar um alô para os sócios, para a torcida. A gente tem um aplicativo na chapa, que é um canal de comunicação com o sócio, com sugestões, enquetes, coisa que o próprio clube não tem. Quem quiser, chama União pelo Santos, baixe o aplicativo, lá tem todas as propostas, os detalhes da nossa campanha. O nosso grande diferencial é a capacidade de execução. Nossa chapa é formada por pessoas que já vivenciaram situações parecidas pelo clube, com a experiência. Eu peço ao sócio, que, da mesma maneira que o executivo do clube não tem o direito de errar, o Santos também não pode errar. O Santos corre risco e não pode ficar mais três anos com uma situação caótica. O sócio, que vote bem, que dia 12 vote com sua consciência. Juntos, conseguiremos colocar o Santos de volta no lugar que jamais deveria ter saído.

* Sob supervisão de Vinícius Perazzini

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