Judô define critérios de convocação e começa a ganhar cara para Tóquio

Sistema de desempate para as disputas mais concorridas foi apresentado pela CBJ no Rio. Seleção tem brigas abertas em seis das 14 categorias olímpicas, com 'problema' no pesado<br>

Montagem - Rafael Silva e David Moura
David Moura e Rafael Silva disputam a vaga olímpica nos pesados. O segundo tem vantagem (Foto: Divulgação/CBJ)

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Ao mesmo tempo em que sente o baque da suspensão de Rafaela Silva por doping, o judô brasileiro busca garantir competitividade nos Jogos Olímpicos de Tóquio, previstos para julho. E a Seleção verde e amarela começa a ganhar cara.

A Confederação Brasileira de Judô (CBJ), que vê disputas abertas em seis categorias, apresentou aos atletas na última quinta-feira, durante concentração no Rio de Janeiro, os critérios de desempate para a convocação, a ser anunciada no dia 1º de abril, nas disputas em que há maior concorrência. Foram desenhados cenários específicos, e os parâmetros serão avaliados em conjunto.

Os maiores ''problemas'' estão nos pesados. No masculino (+100kg), a Seleção vive a mesma rivalidade do ciclo passado. Bronze na Rio-2016 e em Londres-2012, e dono de quatro medalhas em Mundiais, Rafael Silva, o Baby, é o quinto do ranking olímpico, com 3.983 pontos, seguido de perto por David Moura, vice-campeão mundial em 2017 e atual nono colocado, com 3.445 pontos.

Ambos estão dentro da zona de elegibilidade para os Jogos, que abrange os 18 melhores do ranking, se for levado em conta o limite de um judoca por país. A diferença entre eles hoje é igual ou menor do que seis posições, e os dois são cabeças-de-chave (aparecem entre os oito melhores, novamente respeitando o limite de um judoca por nação).

Para este cenário, a entidade definiu que analisará os melhores resultados recentes (2020 e 2019), a quantidade de vitórias sobre rivais do top 8, o retrospecto entre os concorrentes no confronto direto e as conquistas e participações em Jogos Olímpicos e Mundiais. Baby, além de ter currículo mais expressivo, vem de um bronze no Grand Slam de Düsseldorf. David precisa de uma arrancada se quiser ir ao Japão.

– Muita coisa ainda pode acontecer. Se um for campeão de um Grand Slam e o outro perder a primeira luta, vai mexer no ranking. Mas se os resultados forem muito semelhantes, vamos para aquele que é mais experiente. Entendemos que quem está entre os oito é candidato à medalha. Então, as participações em Jogos Olímpicos e Mundiais valem muito – afirmou Ney Wilson, gestor de alto rendimento da CBJ, ao LANCE!.

No pesado feminino (+78kg), também visto como chance de medalha, Maria Suelen Altheman e Beatriz Souza travam outro duelo apertado. A veterana de 31 anos, vice-campeã mundial em 2013 e 2014, aparece em quinto no ranking olímpico, com 4.960 pontos, enquanto a jovem de 21 ocupa o sexto lugar, com 4.818, na última atualização.

Mas, neste caso, a experiência pode não pesar mais do que os resultados recentes, uma vez que Bia tem marcado presença no pódio nos torneios mais relevantes. Ela foi ouro no Grand Slam do Rio, em outubro do ano passado, e bronze nos Grand Slams de Paris e Osaka, este ano, além de ter faturado o Aberto de Odivelas (POR). Os próximos eventos serão decisivos. 

Montagem - Beatriz Souza e Maria Suelen Altheman
Beatriz Souza e Maria Suelen Altheman (Foto: Rafael Burza / CBJ)

Outros duelos interessantes são entre Gabriela Chibana e Nathália Brígida (48kg), Ketleyn Quadros e Alexia Castilhos (63kg), e Rafael Buzacarini e Leonardo Gonçalves (100kg).

No primeiro, a vaga hoje seria de Chibana. Sua concorrente, antes favorita, voltou de lesão e ainda está fora da zona de classificação, o que pode mudar nas próximas semanas. No segundo, Ketleyn, hoje cabeça-de-chave (está em décimo, mas há três japonesas no top 8), iria aos Jogos, pois, embora as duas estejam entre as 18, a diferença sobre Alexia no ranking é maior do que seis posições. No terceiro caso, Rafael, de 28 anos, seria o escolhido, pelo mesmo motivo. Mas precisa "fugir" de Leonardo, de 24 anos. A diferença entre eles é de apenas sete colocações.

Caso os resultados sejam tão próximos que a distância fique em seis posições ou menos, a CBJ terá outro critério. Além de avaliar o resultados recentes, priorizará o atleta mais novo como aposta para o futuro, já que não se trata de um favorito ao pódio. Ambos estão na zona entre 9° e 18°.

– Neste caso, vai prevalecer o mais jovem. Acreditamos que, como não estamos falando de um favorito, devemos dar experiência para o mais novo, com o qual talvez possamos contar na próxima Olimpíada, como fizemos com Mayra (Aguar), Sarah (Menezes) e Rafaela – explicou o dirigente da CBJ.

Nas categorias em que houver somente um judoca entre os 18 primeiros da zona de qualificação olímpica no dia 30 de maio, quando o ranking fecha, não haverá dor de cabeça. O atleta em questão ficará com a vaga. Se a corrida terminasse hoje, estariam nessa situação Eric Takabatake (60kg), Daniel Cargnin (66kg), Eduardo Yudi (81kg), Rafael Macedo (90kg), Gabriela Chibana (48kg), Larissa Pimenta (52kg), Maria Portela (70kg) e Mayra Aguiar (78kg).

Na categoria até 57kg, a campeã olímpica Rafaela tenta na Corte Arbitral do Esporte (CAS) uma redução de sua pena de dois anos para oito meses, para voltar a tempo dos Jogos. Apesar de colocar a carioca como prioridade, a CBJ já lida com a possibilidade de não poder escalá-la. Ela é a quarta do ranking.

Aos 21 anos, a jovem Ketelyn Nascimento, que vinha sendo preparada para Paris-2024, pode ter sua chance. Jessica Pereira, que aceitou subir da categoria até 52kg, também está no radar. Se nenhuma entrar na zona de qualificação, o país ainda tem uma cota continental para classificar um dos pesos aos Jogos.

Hoje, o trunfo seria usado na disputa masculina até 73kg, em que o brasileiro mais próximo da Olimpíada é Eduardo Barbosa. Se ele entrar na zona de qualificação, a cota verde e amarela passa para a categoria até 57kg.

Ketelyn Nascimento
Ketelyn e Rafaela Silva (Foto: Abelardo Mendes Jr/Rede do Esporte)

– Tivemos de precipitar algumas estratégias. A Ketelyn estava sendo trabalhada lentamente, amadurecendo e pensando no próximo ciclo olímpico, pelo potencial que tem. Com a situação da Rafaela, começamos a acelerar o processo. Apertamos o pé no acelerador. Ela terá de competir muito agora. A Jessica aceitou subir da 52kg para a 57kg. Estamos trabalhando as duas com uma intensidade bem alta. A Ketelyn tem uma vantagem bem grande, mas vemos a Jessica com boa característica, alta e canhota. E estamos trabalhando para classificar a categoria até 73kg – disse Wilson.

A corrida olímpica seguiria neste final de semana, com o Grand Slam de Ecaterimburgo, na Rússia, valendo mil pontos ao campeão, mas ele foi cancelado, assim como o Grand Prix de Rabat, no Marrocos, por causa do coronavírus. O problema atrapalha os judocas que precisam somar pontos. 

Os Grand Prixs de Tbilisi e Antalya também foram demarcados pela Federação Internacional (IJF). Depois, só restariam o Grand Slam de Baku, no Azerbaijão, o Campeonato Pan-Americano, em Montreal, e o Masters, em Doha. Por isso, a entidade ampliou o período de classificação olímpica até o dia 30 de junho.

As medalhas do judô brasileiro em 2020   

Grand Prix de Tel Aviv: 1 prata (Leonardo Gonçalves) e 4 bronzes (Daniel Cargnin, Eduardo Yudi, Rafael Buzacarini e Rafael Macedo)

Aberto de Odivelas: 1 ouro (Beatriz Souza) e 1 bronze (Larissa Pimenta)

Aberto de Sófia: 1 ouro (Phelipe Pelim) e 1 bronze (Allan Kuwabara)

Grand Slam de Paris: 2 bronzes (Beatriz Souza e Larissa Pimenta)

Aberto de Bratislava: 3 ouros (Ketelyn Nascimento, Ketleyn Quadros e Maria Suelen Altheman) 2 bronzes (Gabriela Chibana e Maria Portela)

Aberto de Oberwart: 1 ouro (Leonardo Gonçalves) e 1 prata (Rafael Buzacarini)

Grand Slam de Düsseldorf: 1 prata (Mayra Aguiar) e 1 bronze (Rafael Silva)

* Atualizado às 18h20

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