Ciclista trans que ganhou Mundial diz que queixas vêm de ‘perdedoras’

Rachel McKinnon defende direito de competir como mulher e alfineta ex-atleta que critica sua presença em provas: 'Os campeões de verdade querem uma concorrência mais forte'<br>

Rachel McKinnon - Ciclismo
A canadense Rachel McKinnon (ao centro) foi campeã do Mundial Master da UCI no sábado (Foto: Oli Scarff/AFP)

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A canadense Rachel McKinnon, de 37 anos, esquentou os debates sobre a presença de transexuais no esporte feminino. Após conquistar o segundo título do Campeonato Mundial Master de ciclismo de pista no último sábado, em Manchester (ING), com direito a novo recorde mundial, ela rebateu as críticas recebidas por competir contra mulheres.

O feito foi obtido no contrarrelógio de 200m na categoria entre 35 e 39 anos, prova em que ela levou a melhor sobre a americana Dawn Orwick, com a marca 11s649. A oponente marcou 12s063. Em 2018, Rachel havia se tornado a primeira trans a vencer um Mundial da modalidade, na Califórnia.

A ciclista admite que sua presença causa uma "concorrência forte", mas defende que as "verdadeiras campeãs" devem buscar elevar suas performances para batê-la.

"Ainda tenho de encontrar uma verdadeira campeã que tenha problemas com mulheres trans. Campeões de verdade querem uma concorrência mais forte. Se você vence porque o fanatismo proibiu sua concorrência... você é uma perdedora", escreveu McKinnon no último domingo.

McKinnon completou sua transição em 2012, passou a competir em 2016 e se tornou um nome forte na defesa da inclusão de trans nos esportes. 

Professora de filosofia no "College of Charleston", ela disse em entrevista à Sky Sports" que as tentativas de nivelar o esporte feminino discriminando atletas transgêneros são uma forma de negar seus direitos humanos.

– Todos os meus registros médicos dizem que sou mulher. Meu médico me trata como uma mulher, minha licença de corrida diz que sou uma mulher, mas as pessoas que se opõem à minha existência ainda querem pensar em mim como homem.

Quem critica sua presença no esporte, como a ex-ciclista campeã mundial Victoria Hood, afirma ser injusta a participação de uma atleta que nasceu e se desenvolveu com um corpo masculino no meio de mulheres.

– A ciência está lá e diz que é injusto. O corpo masculino, que passou pela puberdade masculina, ainda mantém sua vantagem, que não desaparece. Eu tenho simpatia por eles. Eles têm o direito de praticar esportes, mas não o direito de entrar em qualquer categoria que desejarem – afirmou Victoria, em entrevista à "Sky Sports".

No ano passado, McKinnon quebrou seu primeiro recorde na prova de 200m no Campeonato Mundial Master e também venceu o evento, na categoria de 35 a 44 anos.

No Brasil, a ex-jogadora de vôlei Ana Paula, conhecida pelas críticas à presença da atacante Tifanny na Superliga feminina de vôlei, se pronunciou sobre o assunto. No Twitter, ela compartilhou uma notícia sobre a ciclista e declarou que "daqui a muitíssimo pouco tempo será tarde demais para as mulheres".

Outra polêmica envolvendo McKinnon aconteceu em uma discussão com a ex-tenista tcheca Martina Navratilova, para quem a permissão a mulheres trans de competirem contra pessoas nascidas como mulheres seria algo "louco" e "trapaceiro". Em resposta, a canadense a chamou de "transfóbica".

Atletas transgêneros foram autorizados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) a competir em Jogos Olímpicos em 2004, se fossem submetidos a uma cirurgia e realizassem terapia hormonal há dois anos.

Em 2015, as regras foram flexibilizadas e encerraram a obrigatoriedade de cirurgia. Os atletas devem ter nível de testosterona abaixo de 10n nanomols por litro de sangue por pelo menos 12 meses antes da primeira competição.

Na semana passada, a Associação Internacional das Federações de Atletismo (Iaaf) determinou que a concentração terá de ser inferior a 5 nanomols por litro de sangue.

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