Luiz Gomes: ‘Vasco e Botafogo teriam caído se a lei do técnico já valesse?’

Ainda que por vias tortas, a decisão da CBF é um passo importante para mudar a cultura do futebol tupiniquim

Luxemburgo e Barroca
Luxemburgo e Barroca foram alguns dos técnicos de Vasco e Botafogo no Brasileirão (Fotos: Divulgação)

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Este ano não vai ser igual aquele que passou. O carnaval da troca de técnicos, ao menos no Campeonato Brasileiro, parece ter chegado ao fim. Ainda que por vias tortas, a decisão da CBF é um passo importante para mudar a cultura do futebol tupiniquim. Alguma coisa precisava ser feita.

Mas por que por vias tortas?

Porque não precisávamos ter chegado a esse ponto. Ao ponto de um assunto como esse ter sido decidido em uma assembleia e aprovado com uma margem apertada, de 11 votos a favor e nove contra. E esse foi o terceiro ano em que a medida entrou na pauta. É triste ter de se impor pelas letras de um regulamento o que o simples bom senso deveria resolver. Mas nada surpreende em um país em que sobram leis e falta respeito.

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O troca-troca de treinadores tornou-se uma verdadeira mania nacional. Até alguns anos atrás, uma sucessão de maus resultados, entrar na zona de rebaixamento, não ser eficaz nos treinamentos, não estabelecer um padrão de jogo ou perder o controle do elenco eram justificativas para a demissão de um técnico. Hoje em dia, não precisa mais de nada disso. A cartolagem perdeu de vez o pudor.

No Brasileirão do ano passado, o Flamengo demitiu Domenec Torrent com 64,1% de aproveitamento, após irrisórios 99 dias de trabalho, 22 jogos e com o time em terceiro lugar na tabela. Algo impensável em qualquer outro país do mundo civilizado da bola. Rogério Ceni, seu substituto, levou o Rubro-Negro ao título brasileiro, mas nem por isso ganhou estabilidade, continua a ter seu trabalho questionado dentro do clube, em boa parte da mídia e da torcida que a cada tropeço anuncia – ou pede – sua saída.

E o que falar de Abel Braga que, embora respeitado pela diretoria colorada, numa relação marcada pela transparência – bem diferente do que tem sido praticado no Flamengo – não teve a chance de manter-se no cargo apesar da campanha do Inter que somente na última rodada, e para alguns de uma forma muito duvidosa, perdeu o título que há 40 anos vem perseguindo. A constatação é que, ganhar já não é garantia de mais nada nessa farra que se estabeleceu por aqui.

Pelo novo regulamento, dificilmente Dome no Flamengo, Luxemburgo no Palmeiras, Roger Machado e Mano Menezes no Bahia, além de outros tantos que passaram pela guilhotina em 2020, teriam sido demitidos com tanta facilidade. O limite de uma substituição ao longo do campeonato impõe uma boa dose de risco à canetada dos dirigentes.

Falta bom senso, maturidade, profissionalismo e equilíbrio emocional para a cartolagem. E o mais curioso é que nem os fracassos convencem. Em 2020, cinco clubes teriam descumprido a nova regra se ela estivesse em vigor: Coritiba e Botafogo tiveram quatro técnicos, um deles, no alvinegro, sequer chegou a comandar o time por um único jogo. Goiás, Vasco e Bahia tiveram três.

Será coincidência que quatro desses clubes tenham sido rebaixados para a Segundona - e por pouco o Bahia não tenha seguido o mesmo caminho? Será que se tivessem dado mais tempo e tranquilidade aos comandantes - ainda que por uma obrigação legal - a história teria sido diferente? Que cada um de nós tire suas conclusões.

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