Clubes buscam aproximação do torcedor com realização de ações de engajamento para melhorias

Vasco foi o último a pedir a ajuda da torcida para fazer uma estátua para Roberto Dinamite

Vasco - Torcida
(Rafael Ribeiro/Vasco)

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Em outubro, o Vasco realizou o lançamento de uma campanha de arrecadação de fundos para confeccionar uma estátua em homenagem a Roberto Dinamite, o maior ídolo de sua história. No mesmo dia, após cinco horas, o clube já havia alcançado o seu objetivo de angariar R$190 mil.

Para levantar a homenagem para Dinamite, o clube fez um financiamento coletivo e levou diversas atrações ao seu torcedor para que ele fizesse as doações. Certificado de participação, moeda exclusiva da campanha, camisas autografadas por Roberto, miniatura da estátua, pôster assinado pelo ídolo máximo e uma visita ao local em que está sendo criado o monumento fazem parte dos prêmios destinados aos apoiadores. Além disso, se a doação chegasse a R$1 mil o fã teria o direito de ter seu nome escrito na base do projeto que ficará em frente à curva da arquibancada em São Januário.

Por diversas vezes, os times do futebol brasileiro acabaram recorrendo às suas torcidas para angariar recursos financeiros. A dinâmica é simples, o próprio clube ou membros da torcida criam uma "vaquinha" eletrônica e de forma viral o link é rapidamente espalhado, rendendo frutos aos caixas das instituições.

- Na minha visão, essa ajuda dos apoiadores é algo bastante válido. Creio que os times só existem por conta dos torcedores, pois são eles que fazem o clube grande. Os fãs querem ter momentos felizes ao lado de suas equipes, comemorando vitórias e títulos. Então não vejo problema em fazer projetos de arrecadação nesse formato, já que as vias tradicionais sofreram um grande golpe por causa da pandemia - analisa Marcelo Paz, presidente do Fortaleza.

Exemplos de realizações nesse sentido não faltam. Em maio deste ano, o Vasco lançou o #VasPix, com o valor arrecadado sendo direcionado para as categorias de base do cruzmaltino. O Gigante da Colina recebeu cerca de 500 mil reais e considerou a ação como um sucesso.

O Cruzeiro, clube que enfrenta grandes problemas financeiros, também realizou campanha para receber doação de seus fãs e afirmou que a verba seria destinada para a regularização do pagamento de salários de atletas e profissionais da administração. O time mineiro nomeou a ação como #CruPix.

- Os torcedores podem auxiliar bastante, com ou sem dinheiro. Quando os fãs consomem e compartilham as redes sociais do clube, já estão colaborando. Apoiar projetos de leis de incentivo, se tornar sócio torcedor e comprar apenas itens oficiais são contribuições importantes. Além disso, tendo condições, participar de outras iniciativas da instituição, como patrocinar o clube ou indicar novos parceiros também são vias de demonstrar o amor pela instituição - comenta Renê Salviano, especialista em marketing esportivo.

O Juventude voltou para a Série A após 14 anos e contou com a ajuda de sua torcida para melhorar a iluminação do Alfredo Jaconi. A ideia funcionou e o clube recebeu R$160 mil dos fãs para colocar a ação em prática.

Fábio Pizzamiglio, vice de marketing do Juventude, afirma que a contribuição financeira por parte dos torcedores é válida e aproxima o torcedor.

- Neste momento de pandemia, devemos nos reinventar e fazer com que a relação do clube com a torcida se mantenha aquecida. As ações de arrecadação de pequenos valores, mas de forma pulverizada, via plataformas como o Pix, são instrumentos que podemos utilizar para atingirmos nosso objetivo. Pensamos em tocar no máximo possível de torcedores e mantê-los sempre engajados com o time.

Em 2012, o Palmeiras promoveu uma ação de "vaquinha" e buscou contratar o volante Wesley, com o auxílio dos torcedores palestrinos. A ideia do Verdão era angariar 21 milhões de reais. Mas, o valor atingido foi de apenas R$832 mil. Por conta do fracasso do projeto, o Alviverde optou por devolver o dinheiro aos doadores e contratou o atleta com a ajuda de investidores.

No ano de 2020, o Santos realizou o projeto "Virada Santista", uma campanha para arrecadar verbas através da doação de apoiadores. O clube do litoral paulista recebeu cerca de 1 milhão de reais. O projeto foi considerado "um sucesso", pois ajudou a quitar um débito com o Hamburgo.

Por outro lado, Marcelo Palaia, especialista em marketing esportivo, não vê com bons olhos a ideia das equipes recorrerem aos torcedores para quitar dívidas: “Não acho que as vaquinhas online sejam interessantes para ajudar os clubes com problemas financeiros. Os times devem buscar outras possibilidades reais de fontes para geração de receitas. Por exemplo, exposição de mídia. Creio que doações devam ser canalizadas para quem realmente passa por necessidades”.

Visando relembrar as glórias do passado, resgatar o orgulho do torcedor e se aproximar dos seus apoiadores, o Botafogo realizou várias ações em homenagem ao seu grande ídolo Mané Garrincha, que teria completado 88 anos de idade. O anjo das pernas tortas, como era conhecido, tem duas datas de aniversário (18 de outubro, segundo a família, e 28 de outubro, de acordo com registros em cartório).

Lênin Franco, diretor de negócios do clube, comenta sobre os projetos: ”Faz parte de uma estratégia de valorizar o repertório histórico que o Botafogo tem. Nomes como Garrincha, Nilton Santos, Didi, Zagallo, etc. Ou seja, dar o devido reconhecimento a muitos ídolos do esporte que passaram pelo Alvinegro”.

Sendo assim, o Fogão prestou belos tributos em suas redes sociais diariamente no período. O clube exibiu vídeos, fotos e curiosidades acompanhadas da hashtag #MaiorÉOMané. Além disso, o clube carioca lançou "A Camisa do Anjo Torto". Em edição única, o item conta com listras tortas, inspiradas na curvatura das pernas do lendário camisa 7. O Glorioso demonstrou uma forma de aquecer o coração do torcedor sem envolver doações monetárias.

Para Felipe Soalheiro, profissional de business development, com mais de dez anos de atuação em agências e consultorias, o modelo de financiamento coletivo para aproximação com o torcedor não é o mais interessante.

- Não vejo esse caminho como uma alternativa positiva para alavancar receitas para os clubes. Mesmo ao atravessar fases difíceis, é importante que os clubes tenham um pensamento estruturado de como oferecer produtos e serviços relevantes para seus torcedores, adequados a cada momento. No passado, Atlético-MG e Corinthians foram os primeiros clubes a realizar campanhas de marketing bem-sucedidas quando estavam na Série B, criando produtos que exploravam o sentimento de momento das suas torcidas. Hoje, com uma oferta de produtos e experiências digitais, vejo esse caminho como mais acertado para alavancar receitas para os clubes em situação financeira complicada, do que simplesmente buscar doações dos torcedores mais fanáticos.

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