Opinião: ‘Copa América x Eurocopa: qual o motivo da disparidade entre as duas competições?’

Executivo de futebol Marcelo Segurado analisa diferenças de atratividade entre torneios de seleções sul-americano e europeu, disputados simultaneamente em 2021

Itália x Espanha
Dados de busca na internet mostram maior procura pela Eurocopa (Foto: MATT DUNHAM / POOL / AFP)

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"Com Eurocopa e Copa América acontecendo simultaneamente, as comparações entre o nível das partidas, desempenho das seleções e estrutura das duas competições estão sendo inevitáveis, com grande repercussão na imprensa, redes sociais e até mesmo entre os próprios jogadores.

Não é surpresa nenhuma afirmar que o nível do futebol praticado na Europa está bem acima da América Latina. Quando discutimos aspectos táticos e técnicos no Brasil, por exemplo, notamos que ainda estamos um passo atrás em relação às principais ligas do mundo. Porém, é inegável a capacidade de nosso país em formar grandes talentos, de ótima qualidade individual. Essas joias, no entanto, estão partindo cada vez mais cedo para o exterior e tudo isso tem um preço. Basta olharmos para a Seleção Brasileira: quais dos nossos principais craques atuam em nossos gramados?

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Na Eurocopa, o patamar de entendimento e organização das seleções é facilmente identificado. O surgimento de potências emergentes, como a República Tcheca, que surpreendeu ao eliminar a Holanda nas oitavas de finais, não é por acaso. Há um equilíbrio e um nível de competitividade alto no torneio, e isso é apenas uma consequência de como o futebol é conduzido no continente europeu.

O próprio formato de disputa das duas competições é bem diferente e influencia para aumentar a atratividade.

Na Copa América, uma campanha medíocre de uma seleção é suficiente para garantir vaga na próxima fase, uma vez que são dois grupos, A e B, com cinco equipes e apenas o último colocado não garante a classificação. Já na Eurocopa, a primeira fase é dividida em seis grupos, sendo que os dois primeiros e os quatro melhores terceiros colocados avançam; sendo assim, o público não precisa esperar a fase de mata-mata para o torneio ficar mais emocionante.

Apesar disso, é necessário ponderar o fato do torneio já sofrer uma rejeição antes mesmo de começar por conta da polêmica da transferência das sedes, que antes seria na Argentina e Colômbia, para o Brasil. Porém, dentro de campo, os resultados e números também não convencem. Das 20 partidas disputadas na etapa de grupos, foram seis empates. Outros seis jogos tiveram o placar mínimo de 1 a 0. Ao todo foram 45 gols marcados e a média de gols da competição é de 2,25 por partida. Já na primeira fase da Eurocopa, foram 36 jogos e 94 gols marcados, tendo uma média de 2,62 por partida, um a cada 34 minutos.

Os dados da internet são um bom termômetro para medir o interesse da população no geral. Segundo o Google Trends, a palavra “Eurocopa” foi em média quatro vezes mais buscada que “Copa América” durante o mês de junho. O pico das pesquisas relacionadas à Euro, em 19 de junho, teve uma proporção quase sete vezes maior em comparação ao torneio sul-americano. Desde o início dos dois torneios continentais, quem lidera o ranking dos assuntos esportivos no país é o Campeonato Brasileiro, com a Eurocopa em 4º lugar e a Copa América 11º.

Outro fator que chama atenção em relação à disparidade dos dois torneios é a questão estrutural, como o palco das partidas para receber os jogos. Na Copa América, o estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro, foi alvo de críticas de duas das principais estrelas da competição, Messi e Neymar, que reclamaram da condição do gramado. Sobre isso, o camisa 10 da Seleção Brasileira ainda fez questão de brincar nas redes sociais, ao colocar a foto de um campo de terra e a foto do estádio de Wembley, palco das semifinais e final da Euro, que está um verdadeiro tapete. Na foto postada, brincou “onde será o próximo jogo da Seleção?”

O desafio para deixar a Copa América um torneio tão atraente quanto a Eurocopa é grande. A curto e a médio prazo é difícil imaginar que isso aconteça. Hoje, a realidade é que as grandes estrelas e os principais clubes do mundo estão concentrados na Europa e as condições de organização são pontos que precisam ser considerados. Ainda estamos atrás em nível de investimento e planejamento."

*Marcelo Segurado é ex-executivo de futebol do Goiás com formação em sociologia e geografia pela Universidade Católica de Goiás

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