Guardiola x Inzaghi: escolas diferentes que compartilham o mesmo sonho de conquistar a Europa

Manchester City e Inter de Milão se enfrentam no dia 10 de junho pela final da Champions

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Guardiola e Inzaghi travam duelo de doutrinas na final da Champions (Foto: Paul Ellis/ AFP e Gabriel Bouys/ AFP)

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No próximo sábado (10), às 16h (horário de Brasília), Manchester City e Inter de Milão se enfrentam no Estádio Olímpico de Atatürk, em Istambul (TUR), pela grande final da Champions League. O duelo pode marcar o primeiro e tão sonhado título dos Citizens, que já têm um vice. Por outro lado, a Inter pode conquistar o troféu pela quarta vez, a primeira em treze anos. Será o primeiro duelo entre Inter e City na história do confronto.

Porém, o objetivo não será fácil para nenhum dos dois times. De um lado, uma doutrina que quer ter o comando do jogo a todo instante, prioriza a posse e domina o adversário como deseja, independente de quem seja. Do outro, a escola da defesa, que sabe se utilizar de um sistema pouco transponível para se sobressair. Opostos, Pep Guardiola e Simone Inzaghi tentam alcançar a glória europeia e o LANCE! preparou um especial destacando as táticas e as peças importantes de cada treinador para a final.

NOVOS ARES, MESMOS ENSINAMENTOS
O legado de Pep Guardiola com Barcelona e Bayern de Munique segue o mesmo. Valorização da posse de bola, controle total do jogo e pouco ar para ser respirado pelo adversário. Sem a bola, nada de descer as linhas: pressão total sobre o adversário na saída, com todos os jogadores no campo ofensivo, configurando uma marcação compacta e firme.

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Em todos os jogos da temporada, somando todas as competições disputadas, apenas em quatro ocasiões a equipe de Pep saiu com menos posse de bola do que o adversário: na vitória sobre o Brighton, por 3 a 1, ainda na primeira metade; no triunfo também por 3 a 1 frente ao Arsenal, em 15 de fevereiro; e nos dois jogos contra o Bayern, pelas quartas de final da Champions. Ou seja, um time que prioriza, acima de qualquer outro aspecto, o comando do jogo. E que sabe vencer quando não o tem.

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Guardiola conquistou a Copa da Liga Inglesa sobre o United (Glyn KIRK / AFP)

O crescimento do City na temporada passa muito pelas percepções de Guardiola no decorrer dos jogos. A primeira metade não foi tão positiva para a equipe, que parecia distante dos seus objetivos. Teve dificuldade em alguns jogos e, apesar de estabelecer o seu jogo dominante, não soube como transformar as oportunidades em gols. Por isso, viu o Arsenal abrir vantagem na liderança do Inglês, ficou para trás na tabela e dava indícios de que passaria mais uma temporada longe da final do continental.

Porém, a segunda metade trouxe exatamente o oposto. Guardiola foi alvo de críticas por se desfazer de João Cancelo, que foi emprestado ao Bayern de Munique em janeiro após se desentender com o comandante espanhol. Jogadores como Akanji, Nathan Aké e Grealish, contestados, se tornaram pilares de um esquema tático que está na moda. Na primeira parte de 2022-23, o time jogou no 4-3-3 e tudo mudou após a paralisação para a Copa do Mundo. A volta marcou o novamente popular esquema com três zagueiros, mas com seis meio-campistas e um fenômeno no ataque.

PLANTEL DE CRAQUES
O goleiro brasileiro Ederson fez o de sempre: consistência com as mãos e com os pés. O zagueiro John Stones, com vaga cativa no miolo defensivo, se tornou volante no esquema do técnico. Não por necessidade, mas sim por uma opção do técnico. E deu certo: Stones melhorou seu futebol amplamente jogando de costas para a marcação e foi um pilar na conexão da defesa com o meio. Rúben Dias, Akanji e Aké tiveram como prioridade em um time que tem a bola a saída de jogo, e isso fizeram da melhor forma possível. Ao lado de Stones, um Rodri que dominou o meio de campo na Inglaterra, marcando, armando e até mesmo marcando gols importantes, como fez contra o próprio Bayern na Champions.

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Mais à frente, uma linha de quatro jogadores que fizeram grande temporada. Bernardo Silva manteve a constância de sempre e marcou nas quartas e na semifinal da Champions. Kevin de Bruyne, líder de assistências da Premier League, intocável no centro entra temporada e sai temporada; Gundogan passou por momentos de oscilação na temporada, mas cresceu na reta final e marcou duas vezes contra o Real Madrid na semifinal, além dos dois gols na final da Copa da Inglaterra contra o Manchester United; por fim, Jack Grealish, que foi criticado pelas atuações pouco influentes em 2021-22, mas que se tornou decisivo pela ponta-esquerda, com e sem a bola.

No comando de ataque, um cometa imparável. 52 gols e nove assistências em 52 jogos para Erling Haaland. Foram anos sem um centroavante unicamente goleador, o que para muitos, influenciava de forma negativa nas campanhas do City na Champions. Se esse problema de fato existia, ele foi resolvido com a chegada do norueguês. Haaland quebrou todos os recordes na Premier League, incluindo o de maior artilheiro de uma edição. Na Champions, são 12 gols em 10 partidas. Poderiam ser mais, mas Guardiola escolheu por substituir o centroavante na maioria dos jogos.

Manchester City x Burnley - Haaland
Haaland celebrando gol pelo City foi cena comum na temporada (OLI SCARFF / AFP)

Quando Haaland saía, o 12º jogador da equipe entrava em ação: Julian Álvarez foi importantíssimo na equipe de Guardiola e seus números são superiores a muitos atacantes titulares no mundo. São 17 gols e cinco assistências em pouco mais de 2500 minutos, uma média de uma participação em gols a cada 115 minutos. Riyad Mahrez, Phil Foden , Kalvin Phillips e Aymeric Laporte abrilhantavam um banco de reservas que ainda contou com muitos jovens, como Cole Palmer, Rico Lewis e Sergio Gómez.

EQUILÍBRIO NOS DOIS SETORES
Por outro lado, um time que se mostrou ser o oposto de Guardiola. Simone Inzaghi conduziu a Inter de Milão na cruzada pela classificação até a final e encontrou times complicados no caminho. Porto, Benfica e Milan, três times que sabem o que fazem com a bola e gostam de fazer muitos gols. Contra a armação de Inzaghi, porém, isso não aconteceu.

A Inter não sofreu nenhum gol contra o Porto e fez grande atuação defensivamente. No primeiro jogo, Lukaku foi o responsável por dar vantagem mínima à Nerazzurra em um duelo equilibrado. Na volta, pressão do Porto pelo empate agregado, que foi em vão, já que a igualdade sem gols persistiu no placar. Foram cerca de 70% de posse de bola para o Dragão e finalizações, mas sem conseguir marcar.

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Contra o Benfica, fora de casa, uma excelente atuação do setor defensivo e um 2 a 0 importantíssimo. Na volta, apesar dos três gols sofridos, o ataque decidiu também balançando as redes três vezes, sem chance para a equipe de Lisboa. Na semifinal, o Milan se viu contra uma defesa que parecia intransponível e não balançou as redes. Melhor para a Inter, que contou com duas atuações sensacionais de Lautaro Martínez e eliminou o rival local.

Inter de Milão x Barcelona - Simone Inzaghi
Inzaghi no comando de sua equipe na fase de grupos (Foto: MARCO BERTORELLO / AFP)

Engana-se, porém, quem pensa que só de uma forma defensiva se sustentou a Inter no decorrer da temporada. A Nerazzurra teve apenas a sexta defesa menos vazada no Campeonato Italiano. O ataque foi crucial, balançando as redes em 71 oportunidades. Apenas o campeão Napoli marcou mais vezes, sendo somente seis a mais. Mas Inzaghi, dentro de seu sistema defensivo, se sente confortável em jogar de forma reativa e sabe que peças que cumprem os papéis de defesa e ataque da melhor forma possível.

O ESQUADRÃO PRETO E AZUL
No gol, foi crucial para Inzaghi ter dois goleiros em grande forma. Onana e Handanovic acertaram um revezamento durante a temporada e foram peça fundamental para a solidez defensiva da Inter. Um esquema também com três zagueiros fez De Vrij, Bastoni, Acerbi e Darmian terem grandes atuações sempre como um trio, além de Skriniar, que passou boa parte da reta final lesionado.

Na ala direita, Dumfries e D’Ambrosio davam extrema ofensividade ao flanco e também mostravam muita entrega no retorno para a composição defensiva; Dimarco, pela esquerda, foi o dono da posição e fez grande temporada. No meio, diferente do City, que formava um quadrado, a Inter de Inzaghi tinha um triângulo sempre muito cerebral. Barella, Calhanoglu e Mkhitaryan eram responsáveis pela armação e também pelo trabalho sujo no centro; Brozovic e Robin Gosens foram outros dois que costumaram entrar no time e não deixar o ritmo cair.

Lautaro Martinez - Inter de Milão x Salernitana
Lautaro balançou as redes 28 vezes na temporada (Foto: MIGUEL MEDINA / AFP)

No comando de ataque, Lautaro Martínez se tornou uma liderança. Capitão do time e principal referência, Lautaro marcou 28 gols e anotou 11 passes para gol em 56 jogos na temporada. Nesta Champions, uma participação direta em gol a cada dois jogos em média. Do seu lado, sempre um centroavante matador: Romelu Lukaku e Edin Dzeko também realizaram o rodízio e se sustentaram fisicamente e tecnicamente. Somados, marcaram 28 gols em 2022-23. Joaquín Correa também teve ótimo começo de temporada, mas acabou passando por uma lesão que o tirou da Copa do Mundo pela Argentina e acabou caindo de rendimento.

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LEGADOS DISTINTOS
Contra equipes da escola italiana, o City não costuma ter tanta facilidade. São seis vitórias, seis empates e quatro derrotas desde 1976. Juventus, Napoli (2x), Atalanta, Milan e Roma foram as vítimas dos Citizens. Já contra times da Inglaterra, a Inter tem 16 vitórias, quatro empates e 14 derrotas. Dos outros cinco times do Big Six, apenas o Manchester United nunca perdeu para a Nerazzurra, tendo vencido duas vezes e empatado outras duas.

Assim como a Inter, Inzaghi nunca encontrou o Manchester City em seu caminho na carreira como técnico. Guardiola, por outro lado, encontrou a Inter em quatro ocasiões. Na Champions de 2009-10, pelo Barcelona, caiu no mesmo grupo do clube então comandado por José Mourinho, venceu um jogo por 2 a 0 e empatou o outro sem gols. Porém, na semifinal, a vingança viria: derrota por 3 a 1 no Giuseppe Meazza e vitória por 1 a 0 no Camp Nou, sucumbindo ao português no primeiro capítulo de uma rivalidade que se estenderia ao âmbito espanhol meses depois.

SONHO EUROPEU
Inter e City se encontram pela primeira vez na história na final desta Champions League. Guardiola vai em busca do seu terceiro título de Champions como treinador, tendo vencido as finais de 2009 e 2011. Já Inzaghi tem sua primeira aventura longínqua no continental e deseja marcar o seu nome na competição.

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