Conheça o Flamengo da Gente, grupo contra a contratação de Rossi

Movimento de torcedores do clube rubro-negro não separa as questões políticas do esporte

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Grupo de torcedores nas manifestações pelo Dia da Consciência Negra, em 2021 (Foto: Reprodução/Twitter)

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Justo, democrático e popular. É assim que o Flamengo da Gente, movimento político de torcedores rubro-negros, se denomina dentro e fora da Gávea. Com quase seis anos de existência, o grupo se notabilizou pelo discurso de união de esporte e política, ressaltando que os valores sociais da instituição são tão importantes quanto os resultados esportivos. No entanto, assim como toda chapa política, recebe críticas de parte do público geral por diferentes ações protagonizadas, principalmente pela relação com a atual diretoria do clube.

Abaixo, conheça com detalhes a história do grupo que faz parte da oposição à gestão Landim, presidente do Flamengo desde janeiro de 2019, além de sua caminhada para o fortalecimento das relações com o torcedor comum.

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SURGIMENTO DO GRUPO

O Flamengo da Gente foi criado, em 2017, por um grupo de rubro-negros que acreditava na reestruturação financeira sem perder sua vocação de clube popular. Naquele período, sob a presidência de Eduardo Bandeira de Mello, o Rubro-Negro convivia, de acordo com o movimento, com a exclusão de determinada classe de torcedores dos estádios, resumindo a torcida a meros consumidores.

Ao LANCE!, o FdG ressaltou que a fundação do grupo político não veio de um episódio específico, mas de uma série de fatores que colocavam, segundo a organização, em risco a imagem do Flamengo como um clube de caráter popular.

- A crescente insatisfação com aumentos abusivos no preço dos ingressos; planos de sócio-torcedor cada vez menos acessíveis; descaso com os torcedores de fora do Rio de Janeiro; o uso político do clube para interesses pessoais de dirigentes; o descompromisso com a responsabilidade social da instituição; a terceirização de esportes como futebol e vôlei feminino; o desrespeito com a história do clube e de seus ídolos e ídolas. Essas são algumas das bandeiras de luta e motivos de existência do Flamengo da Gente - destacaram os líderes do movimento.

A partir daí, os rubro-negros se juntaram e iniciaram uma série de ações para relembrar a função do clube como formador social. Entre eles, diversas homenagens aos 10 "Garotos do Ninho", que morreram em incêndio no CT George Helal, em fevereiro de 2019. Frequentemente, são realizadas cobranças ao tratamento dado às famílias do jovens, além de mobilizações nas ruas e redes sociais. Em alguns casos, no entanto, os dirigentes se manifestaram contra as pautas levantadas, que se tornaram polêmica dentro e fora da Gávea.

HOMENAGEM AO REMADOR STUART ANGEL E RESPOSTA DA DIRETORIA

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Homenagem do Flamengo da Gente a Stuart Angel, na Sede Náutica da Gávea (Foto: Reprodução/Twitter)

O primeiro episódio que colocou o Flamengo da Gente em contato com os torcedores comuns ocorreu em março de 2019. Apesar de terem sido críticos da diretoria de Bandeira de Mello, foi sob o comando de Rodolfo Landim que o clube e o grupo político consolidaram uma relação mais divergente.

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Para homenagear o antigo remador rubro-negro Stuart Angel, torturado e assassinado durante a ditadura militar, o grupo fez um memorial para o ex-atleta na sede náutica da Gávea, onde ele costumava treinar e competir. Angel conquistou dois estaduais durante a sua carreira no clube.

- Stuart foi homenageado pelo Flamengo, em 2010, com um memorial na sede de Remo. Após uma obra no local, em 2016, a placa desapareceu. O que o Flamengo da Gente cobra é a restituição da homenagem do clube ao seu atleta, que é perene e vai além de diretorias passageiras. O FdG inclusive se prontificou a custear a nova placa por meio da venda de camisetas - disse o movimento.

A homenagem foi feita com a presença de Hildegard Angel, irmã do ex-atleta. A cerimônia ocorreu no dia 31 de março, data que simboliza a "descomemoração" do golpe militar de 1964. No entanto, o Flamengo publicou uma nota oficial afirmando que não tinha nenhum envolvimento oficial com a ação do movimento.

- Em relação à nota publicada nesta segunda-feira na coluna Ancelmo Gois - do jornal O Globo - o Clube de Regatas do Flamengo esclarece que, por ser uma verdadeira Nação, formada por mais de 42 milhões de torcedores das mais diversas crenças e opiniões, não se posiciona sobre assuntos políticos. A homenagem citada na nota foi realizada diretamente por um grupo de sócios e torcedores do Clube, sem nenhuma participação da instituição - algo que, inclusive, é estatutariamente vedado - disse o Flamengo, em comunicado.

- A nota da diretoria do Flamengo causou surpresa, inicialmente, mas logo se mostrou condizente com o caráter político-partidário com o qual foi conduzida toda gestão Rodolfo Landim - comentaram os líderes do FdG, que ressaltaram a aproximação dos dirigentes do Flamengo com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

CRÍTICAS AO HISTÓRICO EXTRACAMPO DE REFORÇOS

Augustin Rossi
Rossi deixará o Boca Juniors para integrar o Flamengo em julho deste ano (Divulgação/ Boca Juniors)

Recentemente, o Flamengo da Gente ganhou mais espaço nos veículos nacionais e internacionais após campanha contra a chegada do goleiro Agustín Rossi, novo reforço do clube a partir de julho deste ano. De acordo com o movimento, os dirigentes não poderiam cogitar a contratação de um atleta com possível histórico de violência doméstica - em 2017, sua ex-namorada o denunciou nas redes sociais e na delegacia, mas não entrou em processo judicial ou formalizou inquérito policial.

A campanha com o "tuitaço #RossiNão" dividiu rubro-negros. Enquanto alguns apoiaram a ideia, outros criticaram o grupo pelo fato do goleiro não estar envolvido em nenhuma batalha judicial que comprove as acusações.

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O Flamengo da Gente fez movimentos semelhantes após a chegada de Erick Pulgar e com os rumores de um possível interesse em Cuca após a saída de Paulo Sousa. A hashtag #FutebolSemAgressores, que começou com o movimento nacional de torcedores contra o retorno de Robinho ao futebol brasileiro, foi estimulada nas redes sociais em todas as manifestações, e também recebeu críticas.

PARTICIPAÇÃO NAS ELEIÇÕES DO CLUBE EM 2021 E ASCENSÃO DO MOVIMENTO

Com o encerramento do primeiro triênio de Rodolfo Landim no final de 2021, eleições foram disputadas na Sede social da Gávea. Frequentemente críticos da gestão, o Flamengo da Gente se aproximou de Walter Monteiro, da Chapa Ouro, que se mostrou um candidato de oposição da reeleição do presidente.

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Walter Monteiro foi candidato à presidência do Flamengo em 2021 (Foto: Reprodução)

No entanto, por discordâncias internas, o FdG se separou do candidato; a maioria de seus torcedores aptos a votar seguiram com Walter Monteiro, que terminou na terceira colocação da eleição, com 283 votos. Landim, com 1.301 dos votos (cerca de 64,5%), foi reeleito presidente do Flamengo.

- O núcleo de campanha entendeu que havia necessidade de aproximação com grupos internos do clube que não compartilhavam com as bandeiras do FdG. Após processo democrático interno, o FdG decidiu, em assembleia geral, separar-se da candidatura, liberando seus/suas integrantes para participar processo eleitoral conforme suas convicções. Foi uma decisão difícil e que gerou rupturas, mas serviu também para o amadurecimento coletivo - revelaram os membros do coletivo.

Mesmo longe de uma vitória no processo eleitoral do clube - apesar de não terem apoiado um candidato de forma oficial, a oposição contra Rodolfo Landim se manteve -, o grupo político celebrou o crescimento do movimento dentro da torcida do Flamengo.

- Nos mantemos em constante articulação com outros grupos de flamenguistas e de outras torcidas. Isso demanda esforço para a organização coletiva, que é totalmente voluntária e sem fins lucrativos. Temos muitos rubro-negros em acordo com nossos valores e ideais interessados em participar do grupo - comentou.

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Bandeira do Flamengo da Gente em manifestação popular, em 2021 (Foto: Reprodução)

Atualmente, o Flamengo da Gente conta com pouco mais de 200 integrantes por todo o país. Alguns dos membros possuem participação na vida política do clube, enquanto outros se identificam com o pensamento do grupo, mesmo sem direito de voto ou acesso à Sede na Gávea.

- A procura por participação tem crescido bastante, principalmente como reação a cada conduta política da atual gestão do Flamengo. Desse modo, estamos estudando formas de viabilizar o crescimento do coletivo de maneira orgânica, sem perder nossa capacidade de organização. Esse é um dos nossos maiores desafio hoje - finalizou, em entrevista ao LANCE!, o Flamengo da Gente.

POSIÇÃO DO FLAMENGO
Procurado pelo LANCE!, o Flamengo informou que não deve fazer um posicionamento oficial sobre o tema Rossi até a concretização do acordo. O arqueiro de 27 anos chegará a partir do dia 1º de julho.

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