A Libertadores que transformou jovens em adultos no Palmeiras

Para ser campeão, o Palmeiras mudou sua filosofia. Menos gastos e maior utilização das categorias de base. Deu resultado e o time foi campeão da Copa Libertadores<br>

Palmeiras x Santos
Palmeiras conquistou seu segundo título da Libertadores (Silvia Izquierdo / POOL / AFP)

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A temporada 2020 ficará marcada na história do Palmeiras não apenas pelas conquistas da Copa Libertadores e do Campeonato Paulista, mas também pelo desenvolvimento no profissional de garotos oriundos da base, peças chaves em ambos os títulos. Até agora, foram 13 atletas formados no Verdão que fizeram sua estreia no time de cima na temporada, recorde na história do clube desde que a estatística passou a ser computada, em 1988.

Entre os 29 atletas que participaram dentro de campo ao longo da campanha, oito foram formados dentro do clube, totalizando 27% do elenco. Além deles, outros sete ficaram no banco de suplentes, no período em que o Palmeiras viveu uma epidemia de coronavírus.


Disputando sequencialmente o torneio continental há cinco temporadas, o clube teve como maior utilização da base na competição em 2016, com três atletas. Em 2017, nenhuma utilização, passando para duas em 2018 e apenas uma em 2019.

Os números refletem a principal mudança de filosofia de trabalho implementada pela diretoria a partir de 2020, após fracassos de metas na temporada anterior.

A demissão do executivo Alexandre Mattos, em dezembro de 2019, foi o início da mudança de postura que estava em curso. Substituído por Anderson Barros, o primeiro ajuste foi a reformulação do elenco. Destaques da base, as pratas da casa Lucas Esteves, Patrick de Paula, Gabriel Menino, Alan, Ivan Ângulo, Wesley e Gabriel Veron ganhavam cadeiras no plantel principal.

Em contrapartida, as contratações, antes realizadas demasiadamente, cessaram. Com 75 negociações realizadas nos cinco anos de Era Mattos, o número de 12 contratações em 2019 desceu para apenas cinco em 2020.

Para comandar os jovens e uma equipe em total transformação, a aposta seria em Vanderlei Luxemburgo, conhecido por potencializar garotos, algo que fez com maestria em 1993 e 1994, nas conquistas do bicampeonato Paulista e bi Brasileiro.


Mattos havia deixado uma gestão com um legado oposto a missão dada a Barros, que assumiu pressionado para priorizar a base. Marcada pela liberdade de ir ao mercado da bola, o diretor gastou, em cifras, mais de 250 milhões de reais em apostas, que muitas vezes não corresponderam em campo.

Durante a gestão de Alexandre Mattos, foram três títulos conquistados. A Copa do Brasil de 2015 e os Campeonatos Brasileiro de 2016 e 2018. Além disso, o clube chegava forte, sendo vice-campeão estadual em 2015 e 2018, além do vice nacional em 2017. Faltava, porém, o maior dos sonhos do clube, da patrocinadora e da torcida: ser campeão da Libertadores, a obsessão!

A história da temporada tinha sido iniciada na Flórida Cup, torneio na qual Luxemburgo testou os jovens e gostou do que viu, ressaltando a entrega dos jogadores em entrevista coletiva. Já na Libertadores, a epopeia alviverde começava dois meses mais tarde, na Argentina. Com estádio lotado, o Palmeiras venceu o Tigre por 2 a 0, com presenças de Gabriel Menino, titular, e Gabriel Veron, vindo do banco.

Regular no Paulistão, a equipe atingia seu auge com Luxemburgo em 10/03, na vitória por 3 a 1 no Guarani do Paraguai. Última vez em que o Allianz Parque recebeu publicou e única vez na competição continental, a equipe dava show para mais de 33 mil pagantes.

Com a pandemia, o futebol parava, e a evolução do time também!

Quatro meses depois o esporte voltava e o protagonismo dos jovens progredia rapidamente. Lutando para ganhar o estadual, os jovens eram o motor do time, que se mesclava diante da experiencia do capitão Felipe Melo, dos líderes Gustavo Gomez e Weverton e do goleador Luiz Adriano. Na decisão, o pênalti de Patrick de Paula atingia o ângulo de Cassio. O Palmeiras soltava o primeiro grito de ‘’É CAMPEÃO’’ da temporada.

Após a 23ª conquista estadual, o clube entrava lentamente em má fase. Patrick de Paula, herói do Paulista, amargava o banco de reservas, perdendo cada vez mais espaços. Gabriel Veron convivia com lesões e o polivalente Gabriel Menino ficava isolado jogando como meia direita, sem participar da construção do jogo.

Pressionado após três derrotas consecutivas, Luxemburgo não resistiu à pressão. Com o futebol irregular e sem conseguir mostrar uma evolução com os (ainda) garotos, o experiente treinador zarpou com o legado de ser Campeão Paulista, algo que não ocorria há 12 anos. Estava vaga a cadeira de treinador no Palmeiras.

Porém, pouco antes da saída do treinador mais vitorioso com o manto alviverde, na reta final do trabalho de Luxemburgo, nomes como Wesley e Danilo ganhavam espaço e protagonismo. Eram novos nomes de uma história que não poderia ser diferente.

O nome escolhido para repor Luxa seria o de Abel Ferreira. Desconhecido em terras tupiniquins, o português chegava com o discurso na ponta da língua. Não viajava o atlântico a passeio. Vindo do PAOK, da Grécia, o jovem de 41 anos estava pronto para ser o libertador tão esperado pela torcida.

Destaque no banco do Braga, atingindo números recordes na equipe lusitana, Abel tinha em seu processo de formação trabalhos com categorias de base. O português havia iniciado sua carreira nas categorias de formação do Sporting, principal academia lusitana. Um presságio…

Logo ao embarcar no Brasil, Abel já assistia um show da base. Nas tribunas do Allianz Parque, o português viu de perto um passeio diante do Atlético Minero, 3 a 0. Um show de Wesley, coroado com um gol.

Com tempo de casa, mas sem tempo para treinar, o mister se familiarizava com o ambiente alviverde. Na Academia, quem mandava eram os jovens. Agora, Renan e Gabriel Silva também marcavam presença na equipe e iniciavam suas trajetórias. Cada dia mais o ambiente era jovial, com garotos por toda parte.

Diante do Delfin, no duelo de volta das oitavas de finais da Libertadores, a base dava o show com tapetes verdes no Allianz Parque. Era a consolidação do trabalho que já vinha sido traçado na principal competição do continente. Na vitória por 5 a 0, dois gols de Gabriel Veron, um de Patrick de Paula, um de Danilo e assistências de Gabriel Silva, Veron e Danilo.


Porém, o clímax dessa história seria construindo no dia 06 de janeiro de 2021. Na primeira partida do ano, que parecia continuação do ano anterior, as Crias da Academia bailavam na Argentina. Com o meio-campo formado por Patrick de Paula, Danilo e Gabriel Menino, a equipe goleou o River Plate por 3 a 0.

Já no segundo jogo, os jovens tiveram que demostrar maturidade. Com o placar de 2 a 0 para os argentinos construído ainda na primeira etapa, foi necessária muita concentração e cabeça no lugar para que o revés não se tornasse goleada.

No meio-tempo entre as semifinais e a grande decisão no Maracanã, uma pausa para o Dérbi no Campeonato Brasileiro. Em outra partida de gala, 4 a 0 e show, mais uma vez, dos jovens que mesclavam com a experiência de Luiz Adriano e Willian. Era uma amostra do que estaria por vir!

O momento havia chegado. A Libertadores transformava os meninos das categorias de base em homens. Homens que haviam libertado a América. O Palmeiras, enfim, era bicampeão!

OS PERSONAGENS DO TÍTULO:

Se ano de 2020, para milhões de pessoas Brasil a fora, foi um pesadelo, para os jovens da base alviverde, foi de prêmio pelo trabalho árduo e talento puro. Personagens da epopeia palmeirense já contada, eles fizeram por merecer a trajetória vencedora da equipe e estão eternizados na centenária história do clube.

Gabriel Menino:

De Menino apenas o nome. Titular em 11 das 13 partidas do Verdão na Libertadores, além de uma aparição vindo do banco de suplentes, Gabriel Menino foi o jovem que mais atuou com a camisa alviverde nesta edição da Copa Libertadores. Com três gols e uma assistência, o garoto foi um dos pilares de sustentação da equipe, seja com Vanderlei Luxemburgo, Andrey Lopes ou Abel Ferreira.

Polivalente, foi utilizado como lateral-direito, meio campista e até mesmo como meia aberto. Com uma capacidade técnica e física acima da média, foi a única Cria da Academia a começar a Libertadores como titular, no jogo diante do Tigre, na Argentina.

Além da Libertadores, o camisa 25 foi quem obteve maior destaque entre os jovens. Com uma maturidade acima da média, Menino foi convocado duas vezes para a seleção brasileira principal e briga por vaga na Copa do Mundo de 2022.

Danilo:

Segunda Cria da Academia com mais partidas na competição, a conquista continental representou o primeiro troféu de Danilo como profissional. Ainda integrante do sub-20 em agosto, mês no qual o Palmeiras se sagrou campeão estadual, o jovem foi a grande surpresa desta temporada.

Em campo em 10 dos 12 jogos, o camisa 28 ficou de fora apenas das duas partidas realizadas em março, antes da pandemia do coronavírus. Com mais de 700 minutos em campo, ele deixou registrada sua marca no confronto diante do Delfin, em São Paulo, sendo o autor do quinto gol na vitória por 5-0.

Gabriel Veron:

Promessa mais valiosa do Palmeiras, o raio, como é conhecido, se consolidou na temporada 2020. Peça importante ao longo da temporada, Veron conviveu com lesões, mas foi fundamental no bi.

Presente em sete partidas, o jovem terminou a competição com três gols marcados, uma assistência, três grandes chances perdidas e três grandes chances criadas.

Sondado pelo futebol europeu desde 2019, o garoto é avaliado em 25 milhões de euros, algo em torno de R$ 160 milhões, de acordo com números do site esportivo Transfermarkt. Com a conquista a tendencia é que o valor aumente ainda mais.

Patrick de Paula:

Cria da Taça das Favelas, responsável por bater o último pênalti na final do Campeonato Paulista e titular na final da Libertadores. Com história digna de cinema, Patrick coroou sua temporada com a conquista.

Responsável pelo funcionamento do meio campo, o camisa 5 sofreu com irregularidades em seu desempenho na metade da temporada, mas, com Abel no comando recuperou seu bom futebol, atuando não apenas como volante, mas também adiando como meia articulador.

Wesley:

Se no início da temporada Wesley convivia com a desconfiança, no fim da Era Luxemburgo e nos momentos com Andrey Cebola, o jovem despontou como uma das principais armas ofensivas da equipe. Lesionado na primeira partida sob tutela de Abel Ferreira, o atacante contribuiu em três jogos, com um gol e três assistências. Além disso, ainda criou duas grandes chances e desperdiçou três chances claras de gol.

Gabriel Silva:

Gabriel teve a dura missão de suceder a Dudu com a camisa 7 do Palmeiras na Libertadores. A mesma que Paulo Nunes foi campeão em 1999 e foi vestida por Julinho Botelho nas finais da década de 60 e por Euller na decisão de 2000.

Vivendo intensamente no Palmeiras desde os 13 anos e multicampeão bela base, o jovem soma diversos títulos, como Copa Nike Sub-15, Paulista Sub-15, Sub-17 e Sub-20, Copa do Brasil Sub-17, Supercopa do Brasil Sub-17, Mundial de Madrid Sub-17, entre outros. Agora, ele vibra sua conquista mais importante: A Libertadores 2020.

Presente em três partidas vindo do banco de reservas, atuou apenas 31 minutos e somou uma assistência.

Renan:

Assim como Gabriel Silva, Renan tem uma vasta história no Palmeiras. No clube desde os 13 anos, ele colecionou conquistas na base e foi uma das gratas surpresas de 2020. Presente em seis jogos de campeonatos nacionais e titular ao longo do surto de covid-19 na delegação, o camisa 26 ficou em campo apenas seis minutos na Libertadores, diante do Delfin, no Equador.

Esteves:

Na Academia desde 2015, negociado junto ao rival São Paulo, Lucas Esteves pouco atuou na temporada, mas já tem em seu currículo a conquista da Libertadores. Tal como Renan, entrou apenas diante do Delfin, com uma atuação inferior a 10 minutos.

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