Lauter no Lance!: Quem são o homem e a mulher mais rápidos do mundo? De onde vêm?
E a mulher mais resistente das pistas? Os homens que voam mais alto?

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Em Tóquio, neste momento, são três e meia da madrugada, ainda abafada, deste fim de segundo dia do Mundial de Atletismo. Aqui, no Rio, numa tarde quase fria e completamente cinza, começo a juntar os cacos de memórias de um belo fim de jornada, onde ficou decidido quem são os atletas mais velozes do planeta, os mais resistentes das pistas e as cascas grossas do asfalto.
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Começamos cedo, às 7:30 lá, 19:30 de ontem aqui. No asfalto da cosmopolita Tóquio, depois de uma largada apertada no Estádio Olímpico, quase 80 mulheres ganham as ruas e praças, em busca da linha de chegada, 42,2 quilômetros dali, ali mesmo. Mal deu tempo de saírem do estádio, e a dupla americana Sullivan e McClain resolve que calor e umidade excessivos não existem, e partem para liderança isolada, num temeroso ritmo de 3’25p/km, deixando pra trás, além da sanidade, todas as suas adversárias.
McClain repensou a vida e julgou também prudente se juntar ao resto do mundo, deixando Sullivan abrir lá na frente. E seguia Sullivan, quase 1 minuto à frente até os 22 km, quando começou a negociar um ritmo menos criminoso, e tentar sobreviver líder até a chegada. Não deu, em menos de 2 km, a etíope Assefa encosta, se desculpa, e assume a liderança com a categoria de quem tem maratona para 2h11, trazendo com ela uma incômoda vizinha, a queniana Jepchirchir, que também tem maratonas para 2h16 e meia maratona para 1h05’.
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Sullivan foi presa fácil para as duas africanas. Presa fácil também para o desgaste gerado pelos 22km iniciais temerosamente fortes. Mas Sullivan mostrou que sabe suportar e conseguia à duras penas se manter entre as 10 primeiras. Também neste seleto bloco, uma grata surpresa sul-americana, a uruguaia Paternain corria suave, ultrapassando as adversárias.
Lá na frente, o duelo de verdadeiras gigantes, metro a metro, prenunciava uma chegada de 100 metros rasos, que aliás aconteceria horas depois da maratona, mas isto eu conto mais à frente. E as duas africanas entram no último km, já nas cercanias do Estádio Olímpico, lado a lado. À cada acelerada de uma, uma pronta resposta à altura da outra.
Uma rápida surpresa sul-americana
Enfim, entram, ombro a ombro, no túnel que dá acesso ao Estádio, já lotado, que aguarda ansioso a vinda das guerreiras. E quando as duas saem do telão e se materializam na pista, o barulho do pacato público é ensurdecedor. E elas respondem, com mais velocidade, e a mais veloz, Jepchirchir, pula 2 metros à frente e, agonizante, busca paz na linha de chegada. E chega, fechando com 2h24m43, 2 míseros segundos à frente da resistente Assefa, que se abraçam e caem, misturando dor e paz. A surpreendente terceira a ganhar o estádio é a uruguaia Paternain, que foi ultrapassando, uma a uma, suas adversárias, mais fortes e velozes.
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Na quarta posição, sem mais medalhas, mas com um lindo sorriso de júbilo, a solitária guerreira Sullivan ressuscita ao chegar. E vão chegando, muitas trôpegas, rastejantes e outras tentando sobreviver apenas até a chegada. Muitas ficaram pelo caminho, nesta inclemente manhã de fim de verão de Tóquio.

E, já que falamos de provas longas e sofridas, que tal falarmos sobre os mais velozes, afinal hoje foi o dia deles. E que dia! Primeiro, com as semifinais, masculina e feminina. Já deu pra notar que ia faltar raia para absorver tantas feras nas finais. Desde as primeiras rodadas eliminatórias, no feminino, tivemos apresentações impecáveis de, pelo menos, 17 atletas, que mostraram estar aptas à final, lutando pelas 3 medalhas! Lembrando que na final, são oito raias para as 8 mais velozes!
A americana Melissa Wooden vence categoricamente na eliminatória, vence com 10:73 na semi, e leva o ouro merecido numa final alucinante, com 10:61, a 4ª melhor marca de todos os tempos! A jamaicana Tina Clayton fez bonito com a melhor marca da sua vida, 10:76, e a campeã olímpica, de Santa Lúcia, Julien Alfred levou o bronze, com 10:84. Que pódio!!
Reviravolta nas finais masculinas do Mundial de Atletismo
A versão masculina dos 100 metros foi tão forte e surpreendente como a feminina. Com 18 atletas em condições de irem à final, e brigar pelas medalhas, o nível desta prova, desde as eliminatórias, foi estupendo. E que final foi aquela!
As 3 semifinais pareciam finais, a final....a final, até Usain Bolt, presente ao estádio, quase caiu da cadeira e, boquiaberto, aplaudiu demoradamente. Afinal, uma dobradinha de jovens jamaicanos tomou conta da festa americana, e calou seu principal velocista, Noah Lyles, que ficou atrás da elétrica dupla jamaicana. Festa em Kingston, sem hora pra acabar. Viva a Jamaica, terra de gente veloz! Os 9:77 de Oblique Seville é a 10ª melhor marca de todos os tempos. E, em um evento desgastante, com 2 “tiros” num intervalo de 40 minutos entre um e outro.

Dois fatos destoantes nos 100 metros, foram:
- A pífia participação de nossos “velocistas”, com tempos muito fracos, muito piores do que suas marcas na temporada. Como costumo dizer sobre o atletismo, já fomos melhores nisso!
- A participação medonha da arbitragem, tanto no masculino quanto no feminino. O árbitro de largada, responsável pelo tiro, simplesmente contrariando o bom senso, resolveu chamar os holofotes para si, simplesmente demorando uma eternidade para apertar o gatilho.
É sabido que o bom senso pede que, em evento internacional de grande porte, os árbitros não devem demorar à largar, pois a tensão do momento, levará, fatalmente, à largadas falsas!! Há muito tempo não vejo uma demora tão grande como as largadas deste mundial.
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E, pior, porque o indulto à alguns e a penalidade para outros (Tsebogo, de Botswana)? Faziam uma breve reunião, e a árbitra-chefe resolvia ao seu modo! Triste, tão triste como a participação de nossos velocistas (homens e mulheres) até agora.
Aviso aos navegantes: Tem largada pra maratona do Mundial de Tóquio daqui a pouco, às 19h30 (de Brasília). Imperdível. E amanhã cedo, às 7h35, nosso Alison dos Santos, o “Piu”, compete na 1ª rodada dos 400 com barreiras. E tem mais, disputa de 5 ouros e muitas semifinais eletrizantes. Deixe-se encantar por este mundial!
Ficamos por aqui, de olho nas telas.
Lauter Nogueira
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