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Citius, Altius, Fortius, o mundo se curva diante do atletismo em 2025

Karsten Warholm vence e alerta seus grandes rivais (o americano Benjamin e nosso Alison): “Estou pronto para o melhor, em Tóquio”.

Karsten Warholm, Alison Piu dos Santos e Rai Benjamin na Diamond League Oslo. (foto: Fredrik Varfjell / NTB / AFP) / Norway OUT / NORWAY OUT / NORWAY OUT
imagem cameraKarsten Warholm, Alison Piu dos Santos e Rai Benjamin na Diamond League Oslo. (foto: Fredrik Varfjell / NTB / AFP) / Norway OUT / NORWAY OUT / NORWAY OUT
Autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, esse texto não reflete necessariamente a opinião do Lance!
Dia 20/08/2025
11:56

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Citius, Altius, Fortius - mais rápido, mais alto, mais forte! É o icônico lema olímpico, introduzido pela primeira vez por Pierre de Coubertin, o fundador dos Jogos Olímpicos modernos. Ele captura o espírito de ultrapassar os limites humanos, buscar a excelência e celebrar a unidade por meio do esporte. Na verdade, foi criado pelo padre dominicano Henri Didon, e adotado pelo Comitê Olímpico Internacional, na sua fundação, em 1894. E cabe perfeitamente para descrever o esporte que inspirou o olimpismo, o atletismo. Nenhum outro esporte demanda tanto de todas as valências físicas, desafiando seus limites e seus sonhos.

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E o que temos acompanhado nas últimas semanas, descreve exatamente o parágrafo acima: em praticamente todas as provas que compõem o cardápio olímpico do atletismo, temos visto, nas sequenciais etapas da Diamond League, atletas, de pista, campo e asfalto, flertarem com os recordes, como há tempo não flertavam! Faz tempo que não víamos, homens e mulheres, irem tão rápido, tão alto e tão forte, nas principais competições deste planeta, outrora, azul.

Noah Lyles - Extended Highlights - Wanda Diamond League

E sempre me chamavam muito a atenção, dois estádios, particularmente, por sediarem duelos e performances incríveis, o belo estádio de Bislet, em Oslo (Noruega), e o Hayward Field, em Eugene (Oregon, EUA), que tem muito em comum: a década em que foram construídos (início da década de 1920), número de recordes mundiais, lá quebrados (mais de 60 em cada um) e a incomum paixão pelo atletismo com que tratam seus torcedores, tornando-os objeto de desejo para atletas de todo o mundo. Eram as 2 casas do Atletismo mundial.

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Notaram o “Eram” aí de cima? Sim, desde o último fim de semana, mais um super-estádio (acima de 55 mil torcedores sentados) se coloca, agora, entre os 3 mais importantes do mundo do atletismo. O Estádio de Slaski sedia, em sua terceira edição a etapa polonesa da Diamond League (o maior torneio de atletismo mundial, anual, em 15 etapas), sempre lotado, de apaixonados torcedores, que sabem como extrair o máximo da legião de grandes atletas que aportam em Charzow (Polônia), que, encantados com a recepção, devolvem com grandes marcas e duelos eletrizantes!

Se em Bislett o público acompanha as provas de meio fundo e fundo com suas palmas, no ritmo das passadas dos líderes, o tempo inteiro de cada prova. No Hayward, em todas as provas de campo e pista, são saudadas com uma explosão de gritos e palmas (antigamente, batiam os pés no chão de madeira das arquibancadas, hoje batem com as mãos espalmadas sobre as placas de publicidade que cercam o campo e público). Afinal, é um público que acompanhou cada passo de Prefontaine, Frank Shorter, Dellinger, Salazar… Agora, em Charzow, a torcida polonesa mostra conhecimento incomum, silenciando de forma sepulcral à cada largada, aplaudindo freneticamente atletas de qualquer país que mereçam seu aplauso seletíssimo. Dão ritmo, com palmas e gritos, às corridas de impulsão, nas provas de saltos e lançamentos. Aplaudem, de forma universal, cada momento de grande performance, sejam de poloneses ou não. E, assim, podemos apreciar, na Silésia, como em Eugene e em Bislet, provas espetaculares e dignas de finais olímpicas ou mundiais.

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E não existe nada tão prazeroso do que, às vésperas do início de um Mundial de Atletismo, em Tóquio, assistirmos o que aconteceu no último sábado: um festival de grandes marcas e performances, na Silésia (uma bucólica região do leste europeu, entre Polônia, República Checa e Alemanha). Separei abaixo, alguns dos muitos momentos que me chamaram a atenção desta competição:

- O tenor viking, o mais talentoso dos três, mostra que está pronto para Tóquio: Karsten Warholm vence, convence e alerta seus grandes rivais (o americano Benjamin e nosso Alison dos Santos): “Estou pronto para o melhor, em Tóquio”. E mostra que está mesmo! Quebra o recorde da Diamond League, o terceiro tempo mais rápido da história, 46 segundos e 28 centésimos, numa corrida solitária desde a largada, Warholm demonstra que está pronto para o ouro e para o recorde mundial (45:94) que é dele, aliás. Ele ficou a apenas 34 centésimos de seu recorde mundial.

- E o meio fundo feminino, pronto para quebrar tudo! Sim, chegou a hora de aposentarmos a tcheca Jarmila Kratoshvílová, com seu impossível tempo nos 800 metros, batido em Munique, no longínquo 1983, de absurdos 1:53:28. Do alto de seus 74 anos, enfim, Jarmila poderá descansar, ainda padecendo dos problemas físicos oriundos do uso de substâncias ilícitas, na época, desconhecidas.

Mas a que, ou quem, devemos a provável quebra deste recorde ancestral? Ora, a simpática e veloz britânica com sobrenome riquíssimo em consoantes e paupérrimo em vogais. Keely Hodgkinson, a vencedora dos 800 em Paris 2024, com espantosos 1:54:61c, e estreou este ano, neste sábado para 1:54:74. Imaginem na final do Mundial, com estádio olímpico de Tóquio lotado? Lady Jarmila que se cuide com seu recorde quase eterno!

Já que destrinchamos os 800, façamos o mesmo nos 1500, então: foi onde também mais um recorde da Golden League, tarefa cumprida pela campeã mundial dos 10 mil metros, Gudaf Tsegay, com uma das melhores marcas de todos os tempos, em uma prova que não faz parte de seu currículo de medalhas. Aproveitando que a recordista mundial dos 1500, a queniana Faith Kipyegon usou a competição para participar dos 3.000m, e ganhar endurance para o Mundial. Aliás, a participação de Tsegay nos 1500, também foi tática para ganho de velocidade final, para suas principais provas, os 5 mil e 10mil, pensando num duplo ouro em Tóquio. A versatilidade destas africanas é impressionante.

E a revanche olímpica dos 100 metros masculino?  Noah Lyles vinha ansioso para sua primeira prova de 100 metros no ano, tentando tirar o atraso para o polimento para o Mundial. Não deu! Kishane Thompson, o jamaicano que lidera o ranking mundial este ano, com estupendo 9:75c, se impõe desde a largada e não dá chances a Lyles, fechando com um sóbrio 9:87. O grande duelo da velocidade persiste. Este ano, dos 12 melhores do mundo, os 12 são ou jamaicanos, ou americanos. A decisão tem dia e hora marcada, na final dos 100 metros dentro do Mundial de Tóquio.

Entre os voadores, das provas de saltos verticais, destacamos dois favoritos para o ouro em Tóquio:

No feminino, a jovem guerreira suave, Yaroslava Mahuchikh, a ucraniana recordista mundial, voa e ultrapassa, com suavidade, a marca dos 2 metros, se volta para as cadeiras e encontra as bandeiras amarelas e azuis, de sua pátria invadida, sorri desafiadora e celebra de punho cerrado. E o público presente (mais de 50 mil espectadores) responde com longo aplauso e gritos. Ela sabe que não está só.

E o contraste do multicampeão e recordista mundial Mondo Duplantis, ao vencer o salto com vara, com uma marca impensável, antes desse sueco surgir arrebatando recordes, centímetro a centímetro. Ele venceu com 6 metros e 10 centímetros, marca que nenhum outro ser humano ousou ultrapassar, mas muito aquém de seus inaceitáveis 6.29cm. O que para ele era frustrante, para o resto da humanidade é inalcançável.

Esta foi uma pequena mostra do que aconteceu neste fim de semana, na bucólica Silésia. E os eventos dos últimos fins de semana, são uma fração do que nos aguarda no Campeonato Mundial de Atletismo, na cidade de Tóquio, entre 13 e 21 de setembro. Vamos juntos nessa?

Lauter Nogueira

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