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Lauter no Lance!: A madrugada mais longa da vida de um marchador e outras histórias

Serão 2 mil atletas, de 200 países, incluindo o Brasil, que leva 47 a Tóquio!

Caio Bonfim comemorando medalha de prata no Mundial de Atletismo (Foto: Ben STANSALL / AFP)
imagem cameraCaio Bonfim comemorando medalha de prata no Mundial de Atletismo (Foto: Ben STANSALL / AFP)
Autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, esse texto não reflete necessariamente a opinião do Lance!
Dia 13/09/2025
17:05
Atualizado há 1 minutos

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Nesse momento que escrevo nessa tarde cinza e quase fria, do outro lado do mundo, precisamente em Toquio, é alta madrugada para o Mundial de Atletismo. Os rios de neon deixam rastros nas poças dormentes do asfalto molhado pela chuva abafada. Dormente também estão as pernas de um samurai de Sobradinho, no planalto central do Brasil. Hoje, o cansaço e a euforia da missão cumprida, o deixam insone. As dores de quem se negou à abandonar a agonia da fadiga, agora cobram seu preço. Ele entende, e sorri. Hoje ele foi além.

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➡️ Começa oficialmente o Mundial de Atletismo, em Tóquio. Você está pronto?

Dada a largada para a primeira prova (e primeiro ouro) deste Mundial, uma esquadrilha de japoneses insanos, acompanhada de agregados irresponsáveis, impõe um ritmo de prova incompatível com o clima desta manhã (úmido e quente demais), nosso Samurai candango, num gesto de lucidez e experiência, segura, com seu amigo canadense Dunfee (atual vice líder do ranking desta prova), velhos conhecidos desde o Panamericano de Toronto, em 2015, quando disputaram os 20km e Dunfee venceu, com Caio foi bronze. 

E assim seguiram, a esquadrilha insana japonesa e agregados ia em ritmo proximo de recorde mundial até o km 5, quando diminuíram um pouco, já desconfiando da besteira digna de um suicídio em massa. E lá na frente, foi quase o que aconteceu. Enquanto Caio Bonfim e Dunffe, se mantinham pouco atrás, usando e abusando dos postos de hidratação. Lá pelo km 20 a conta começava a chegar, e foi cara!

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➡️ Caio Bonfim é prata na marcha atlética no Mundial de Atletismo

Caio e Dunfee, agora em ritmo melhor do que os kamikasis locais, que já começavam a se arrastar e em pensar num jeito de sobreviverem, continuavam à aproximação com os líderes. À partir dos 30km, a esquadrilha começou a falhar. Aquele bloco compacto de 5 ou 6 já não existia, e Dunffe, que tem mais experiência do que Caio nesta prova, sua favorita, assume a liderança, e Caio, a vice, tendo Dunfee dentro de seu campo visual, uns 200 metros à frente. Mas, tanto um quanto o outro, também sofriam por conta da busca da liderança da prova.

E, finalmente, Dunffe ganha o portão do Estádio Olímpico, e em seguida a pista, Caio vem 30 segundos atrás, ambos “navegando por aparelhos”, mas com o coração no tartan rubro da pista.

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Enfim, fim. Dunfee cruza a linha final e para, aguardando seu amigo surpreendente (Caio Bonfim, jamais imaginaria um pódio, nos 35km, na abertura de um mundial), depois de um longo abraço, ainda conseguem se manter de pé. Afinal, para ambos o dia será longo. E as primeiras medalhas deste mundial, irão pousar para sempre em seus peitos. Ave Caio, Sobradinho e o resto do mundo te saúdam!

Caio Bonfim em Paris 2024
Caio Bonfim nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 (Foto: Wagner Carmo)

No feminino, deu a lógica, a espanhola Maria Perez, campeã mundial, olímpica e atual recordista mundial, sofreu como uma amadora qualquer, agonizou como uma iniciante qualquer, mas venceu como uma campeã. Deixou para trás uma legião de orientais, que tentaram de tudo para evitar o inevitável, mas não conseguiram. Perez pairou soberana no asfalto quente de Tóquio esta manhã!

O terceiro ouro veio de uma prova gigante, para mulheres idem. E, mais uma vez, repetiu-se o grande duelo de gigantes das 25 voltas da pista. Estes 10 mil metros ficarão na memória de quem teve a sorte de assistir. Time queniano, assume a responsabilidade de “puxar” a prova desde o início, e não deixar o ritmo ficar lerdo. Elas querem todas as participantes sofrendo ao máximo a cada volta. As equipes do Quênia e Etiópia, à partir dos 5km (com passagem em 16 minutos), começam a se revezar na liderança, até que atingem o último quilômetro 5 sobreviventes apenas: Beatrice Chebet e Agnes Ngetich pelo Quênia, Tsegay e Taye pela Etiópia e a solitária italiana (prata olímpica, diga-se de passagem) Battocletti. 

Este último km é percorrido em alucinado 2’35 segundos, com a vitória da queniana Chebet (campeã olímpica dos 5 e 10 mil), ficando a italianinha Battocletti com a prata (prata olímpica e mundial agora) e a etíope Tsegay, que defendia o título do Mundial de Budapeste, com o bronze. Ufa! Foram 30 insanos minutos, de uma aula de mestrado em provas de fundo!

➡️ Brasileiros fazem história no Mundial de Atletismo em categoria de Bolt

E quem disse que uma prova de arremesso de peso é uma coisa chata e sem graça? Deveria assistir 10 vezes, na íntegra, e com áudio em japonês!!! Quem não assistiu essa prova nesta manhã/noite, perdeu!

Domínio americano no arremesso de peso desde o Mundial de Atletismo de 2007

O domínio americano nesta prova, que já vinha desde o Mundial de Atletismo de 2007, na vizinha Osaka, parecia ter definhando, mas quem conhece Ryan Crouser, sabe do que ele é capaz. Mesmo atravessando temporada longa de lesões e cirurgias, graças a uma “carteirada” dos cartolas americanos, o convidando para a competição por conta de seu título em 2023, Crouser acreditou que valia à pena arriscar. Mesmo sem tempo hábil para preparação final e ganho de ritmo, lá foi o gigante para Tóquio. Foi, viu e venceu! E venceu com direito à drama, na última rodada de arremessos. 

A prata e o bronze também foram decididos no final. O quase novato mexicano Munoz fica com a prata, e o italiano Fabbri, prata no último mundial ganha o bronze. Eletrizante esta prova, que começou com a eliminatória hoje cedo, e terminou no final do dia. Homens fortes são assim, resolvem tudo no mesmo dia, e na última rodada de arremessos! Braços e corações fortes!

Para encerrar o primeiro dia do mundial, nada melhor do que um revezamento misto, cheio de feras.

A expectativa era grande, em torno de duas equipes. A americana, com uma formação “matadora”, e a Holanda, onde os grandes nomes eram as duas participantes, especialmente Famke Bol. Nessa equipe, as protagonistas não usam black tie!

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Mas não houve chance para Bol e Klaver mostrarem à que vieram, seus parceiros desafinaram muito, Enquanto a ala masculina da equipe americana fazia o dever de casa, os holandeses pareciam estar correndo de tamancos de madeira! O que realmente valeu o ingresso foi a tentativa de Bol, sempre ela, lutar ferozmente para sair da 5ª colocação ,quando recebeu o bastão. Não foi em vão, a leoa correu como sempre, com a alma, e conquistou para seu país uma surpreendente prata!

Ainda é alta madrugada em Tóquio, a maioria dos atletas, os que já competiram e os que ainda estrearão, está dormindo. Mas uma luz baixa acesa, denuncia um insone, que deve, neste momento, estar repassando a prova em que ele conquistou, heroicamente, a prata.

Dorme Caio Bonfim. Hoje, mais uma vez, você fez jus ao sobrenome. Que a imagem de seus filhos embale o seu sono de resto de madrugada. O mundial ainda não acabou. A sua prova querida, os 20km, acontece na próxima sexta. Conte com toda a nossa torcida. Hoje somos todos Sobradinho!

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Lauter Nogueira escreve sua coluna no Lance! todas as terças e sextas. Confira outras postagens do colunista:

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