Zizinho, 100: treinador autêntico e que formou atletas na Seleção

Após pendurar as chuteiras, 'Mestre Ziza' teve trajetória de passagens oscilantes na beira do campo, mas guardou um bom momento em competição na base canarinha

Zizinho Seleção Brasileira
Zizinho comandou clubes como America, Bangu e Vasco (Foto: Divulgação)

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Zizinho não se tornou mestre apenas por ser ídolo de Pelé e de toda uma geração de campeões mundiais com a Seleção. Após encerrar a carreira, o eterno craque, que faria 100 anos nesta terça-feira (14), ainda seguiu na beira dos gramados, agindo como "professor" de outros jogadores. 

Entre percalços, encontros com craques e até título simbólico, não faltam curiosidades desta face da trajetória do "Mestre Ziza".

Após uma passagem na qual acumulou funções de jogador e técnico no Audax Italiano (CHI), Zizinho voltou ao Rio e comandou clubes como America e Bangu. Ele tinha algumas características que trazia dos gramados.

- Era autêntico e até palavrão, o que na época era um escândalo, ele dizia. Para ele, p... era vírgula! - recordou, ao LANCE!, o radialista Deni Menezes, sobre seu convívio com Zizinho nos períodos nos quais foi setorista do Mecão e também da Seleção que disputou os Jogos Pan-Americanos de 1975.

Setorista do Vasco na passagem do "Mestre Ziza" em São Januário, Washington Rodrigues guarda um episódio bem significativo vindo do início de 1967 para mostrar o jeito do eterno craque no comando.

- Ele estava fazendo a preleção do Vasco e falando muito baixinho. Poxa, tem um bando de jogadores na sua frente, aumenta um pouco aí a voz! Vem o Fontana lá de trás: "Zizinho, fala mais alto, a gente aqui quer ouvir também!". Foi engraçado, ninguém que estava no fundo conseguia ouvir o que ele falava (risos) - declarou.

Deni Menezes contou que isto trazia um ponto de vista que o próprio ex-jogador tentava trazer como técnico.

- Zizinho resumiu bem quando lhe perguntei exatamente sobre o tom de voz dos técnicos: "Aprendi com o Flávio (Costa, técnico campeão carioca por Flamengo e Vasco e finalista da Copa do Mundo com a Seleção Brasileira) que o técnico não precisa gritar para se impor nem pedir o que quer". Afinal, dizia ele, "não tenho nenhum no time" - e, em seguida, revelou:

- O Zizinho era de temperamento calmo, raramente se aborrecia. É uma das características do virginiano, que não gosta de ser pisado, mas também não leva desaforo pra casa - complementou.

TREINADOR DO VASCO NA ESTREIA DE TOSTÃO NO CLUBE

Tostão no Vasco (Foto: Reprodução)
Zizinho estava na beira do gramado quando o Vasco empatou com o Flamengo em 2 a 2, na estreia do 'Doutor' (Foto: Reprodução)

Um dos momentos marcantes do "Mestre Ziza" como treinador tem a ver com uma passagem na Colina. Em 7 de maio de 1972, ele comandou a equipe na estreia de Tostão, contratado sob forte expectativa da torcida cruz-maltina.

O "Doutor" relembrou como foi o convívio com o eterno craque.

- Foi um curto período que tivemos no Vasco, mas ele tinha um jeito bem gentil, muito alegre. Era uma pessoa muito tranquila, sabia agir bem com os jogadores - destacou. 

Em campo, o Cruz-Maltino, que tinha nomes como Andrada, Alcir, Gilson Nunes e o jovem Roberto Dinamite empatou em 2 a 2 com o Flamengo em jogo válido pelo segundo turno do Campeonato Carioca. Silva Batuta marcou os dois gols dos vascaínos, enquanto Doval e Eberval (contra) deixaram tudo igual para os rubro-negros. Logo depois, Zizinho cedeu espaço no cargo a Mário Travaglini.

SELEÇÃO DE BASE: ÁPICE VEM NO PAN-AMERICANO

Zizinho
Revelação de talentos, mas novo atrito com dirigentes (Foto: Reprodução)

A vivência levou Zizinho a um grande desafio em 1975: ficar à frente da Seleção Brasileira na disputa dos Jogos Pan-Americanos, realizados na Cidade do México. Nomes como o goleiro Carlos e o zagueiro Edinho (que disputaram como titulares a Copa do Mundo de 1986) e o volante Batista (presente na Copa de 1982) ganharam espaço na sua lista de convocados.

Centroavante canarinho, Cláudio Adão destaca o aprendizado que teve com o "mestre".

- Ele me dava muito conselho para melhorar meu estilo de jogo. Como o Zizinho foi meia, sabia dizer o momento certo para que eu, assim que recebesse o passe vindo de trás, girasse e diminuísse o espaço em relação ao zagueiro adversário - disse. 

Lateral da Seleção, Rosemiro contou como ele passava a responsabilidade para seus comandados.

- Era exigente e falava muito a linguagem do jogador. Cobrava a gente para fazer exatamente do jeito que ele pensava e nos ajudava muito contando as histórias dele. Aprendi muito, um cara que se dava bem com todo mundo, contava boas histórias e sabia extrair o melhor do time. Que Deus o guarde em um bom lugar - declarou.

Cláudio Adão reforçou a perspicácia que Zizinho teve no decorrer do Pan.

- Zizinho armou o time muito bem, passava bem as ideias, a história dele, brincava bastante. Foi fundamental para a gente sair de lá com o título - assegurou.

O ouro do Brasil na competição rende controvérsias. A Seleção  venceu Costa Rica, El Salvador, aplicou goleadas sobre Nicarágua, Bolívia e Trinidad e Tobago, além de ter empatado com a Argentina. 

Durante a decisão, ocorrida em 8 de outubro, os brasileiros empatavam em 1 a 1 com o México quando uma falta de energia elétrica interrompeu a partida e foi anunciada a divisão dos ouros. Após consultar a Fifa, porém, a entidade exigiu um novo confronto em 29 de outubro. Só que o confronto foi considerado inviável, uma vez que a competição foi fechada e os atletas amadores retornaram aos seus clubes. 

Passado o Pan-Americano, Zizinho preparou a Seleção para os Jogos Olímpicos de 1976, convocando o grupo para amistosos. Contudo, um atrito com dirigentes causou sua saída e mudou o comando da equipe. Cláudio Coutinho ficou à frente do time canarinho em Montreal.

Zizinho continuou a acompanhar o futebol com fervor até sua morte em 2002. Mas passou a vê-lo à distância, com a sensação de dever cumprido, pois já tinha feito sua história no esporte bretão.

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