Palmeiras x Santos: Em 1998, semi teve ‘pegadinha’ de Felipão e golaço

Finalistas neste ano, rivais se encontraram apenas uma vez na Copa do Brasil: semifinal de 1998 terminou com o Verdão classificado após dois empates

Palmeiras x Santos - Copa do Brasil 1998 (foto: Helio Norio/LANCE!Press)
Palmeiras x Santos - Copa do Brasil 1998 (foto: Helio Norio/LANCE!Press)

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A Copa do Brasil de 2015 colocou Palmeiras e Santos frente a frente pela segunda vez na história do torneio. Antes de começarem a decidirem o título deste ano, nos dias 25/11 e 2/12, os rivais fizeram uma das semifinais de 1998: o Verdão se classificou com dois empates para enfrentar (e vencer) o Cruzeiro na final, em sua primeira das duas conquistas da Copa.

Luiz Felipe Scolari, pelo Palmeiras, e Emerson Leão, pelo Santos, eram protagonistas há 17 anos. Uma "pegadinha" ajudou o comandante alviverde a levar a melhor no duelo dos técnicos. 

Depois de um empate por 1 a 1 no Palestra Itália, com gols do volante Élder para os praianos e do atacante Oséas para os palestrinos, o Palmeiras não conseguiria se classificar se não marcasse gol na Vila Belmiro. Só se defender não bastava, e por isso o Verdão passou a semana ensaiando formações ofensivas nos treinos. Na hora do jogo, porém, veio a surpresa.

- O Santos era praticamente imbatível dentro da Vila e nós precisávamos fazer gols. No dia do jogo, o Felipão chega e me fala que eu vou jogar no lugar do Alex. Aquilo foi até assustador. Eu disse: "Felipão, tu tem certeza? A imprensa vai matar nós dois se der errado". Aí ele me explicou que a opção era pela minha característica, de velocidade e marcação - conta Darci, um meio-campista de passagem curta pelo Palmeiras que acabaria virando herói naquele dia.

"O dedo de Felipão foi notado já na escalação. Durante a semana, ele alternou treinos com dois e três atacantes e acabou escalando três jogadores - Galeano, Rogério e Darci - com características de marcação no meio-campo", contou a edição do LANCE! no dia seguinte, que definiu o chute de Darci como "mágico, como poucos em sua carreira de brilho opaco".

"Aconteceu que o Palmeiras foi para o tudo ou nada e acabou virando com uma bela jogada do Darci, um golaço", lembra Élder


Viola abriu o placar para o Peixe logo aos dois minutos, mas Oséas deixou tudo igual aos nove do primeiro tempo. Aos sete da etapa final, Darci acertou uma bomba no ângulo do goleiro Zetti e encaminhou a classificação do Palmeiras. Os donos da casa precisavam virar o jogo, mas só conseguiram chegar ao empate por 2 a 2, com gol de Argel já aos 47 minutos da etapa final.

- Eles viraram, acabaram se fechando e nós só conseguimos empatar. Na Copa do Brasil, o gol fora de casa vale muito. Nós saímos para o jogo e achamos que poderíamos matar logo na Vila Belmiro. Aconteceu que o Palmeiras foi para o tudo ou nada e acabou virando com uma bela jogada do Darci, um golaço. Aí eles se fecharam e não conseguimos fazer o terceiro gol - relembra o ex-volante Élder, que anotou para o Santos no Palestra Itália.

UM HERÓI COICE DE MULA

A carreira de Darci foi menos brilhante do que o golaço na Vila Belmiro sugere. Revelado pelo Grêmio, ele passou pelo próprio Santos antes de chegar ao Palmeiras e na sequência defendeu também o Atlético-MG e o Coritiba. Por toda a carreira, carregou o pejorativo apelido de Darci Coice de Mula.

"Sempre que se comenta do Darci, se fala daquele lance, todo mundo lembra daquele gol", diz Darci


- Eu fiquei com essa leve fama (risos). Isso foi uma das grandes infelicidades da minha carreira, acabei atingindo o Mirandinha com um coice (jogando pelo Grêmio justamente contra o Verdão, em 1989). Foi sem intenção, mas ele teve uma fratura de maxilar, passou por cirurgia. Conversamos e ele aceitou minhas desculpas, mas o apelido ficou - explica Darci, que hoje trabalha no Rio de Grande do Sul em busca de novos talentos para o futebol.

LANCE!
LANCE! depois do segundo jogo, na Vila Belmiro


CONFIRA UM BATE-BOLA EXCLUSIVO COM DARCI, EX-PALMEIRAS:

LANCE!: O que você lembra daquela semifinal?
Darci:
Esse jogo marcou muito a minha vida. Sempre que se comenta do Darci, se fala daquele lance, todo mundo lembra daquele gol, até por toda história que teve antes do jogo.

Que história?
O Palmeiras se preparou a semana inteira com um time titular. Eu era reserva do Alex e, para minha grande surpresa, acabei sendo titular naquele jogo. O Alex ficou no banco e me recordo que naquela época o Casagrande, na transmissão, quase me enforcou (risos). Tenho isso gravado! Era como se eu tivesse tirado o Alex por vontade própria, mas o Felipão sempre teve muita estrela.

Qual foi a reação do Alex?
Ele levou um susto na hora, não entendeu nada, mas era um parceiraço meu. Ele brincava: "Darci, tu é a melhor sombra que eu já tive, tu nunca me ameaça". Depois nós nos abraçamos, ele agradeceu, disse que se soubesse que eu faria aquele golaço teria pedido para ficar no banco.

Como foi sua passagem pelo Palmeiras?
Fiquei pouco menos de um ano. O que me marcou muito foi a qualidade do time, a unidade com o Felipão. Era um time quase imbatível, bom até para quem era reserva. O Palmeiras está guardado no meu coração. Sempre me diziam: "Darci, tu te identificou demais com a torcida do Palmeiras, pela pegada, pela garra".

Quem leva a Copa do Brasil?
Eu acredito mais no futebol do Santos. É um futebol alegre, descontraído, muito ofensivo, com muita qualidade. Não é um time de excelência na marcação, mas os jogadores ocupam bem os espaços. E quando o Santos está com a bola é bastante superior ao Palmeiras.

LANCE!
LANCE! depois do primeiro jogo, no Palestra Itália


CONFIRA UM BATE-BOLA EXCLUSIVO COM ÉLDER, EX-SANTOS:

Você marcou o gol do Santos no primeiro jogo. Ficou ainda mais frustrado com a eliminação?
Foi uma frustração muito grande, porque naquele momento o Corinthians estava indo bem no Brasileiro,  o Palmeiras tinha um investimento mais forte, com o Felipão como técnico e jogadores mais consagrados, e nós corríamos por fora, ainda buscávamos afirmação, assim como a maioria dos jogadores do Santos de hoje. Então teve frustração, sim, devido ao resultado e ao sonho de conquistar um título para o Santos. Depois fomos buscar a Conmebol no mesmo ano e saímos para o Corinthians na semifinal do Brasileiro.

Como foi para vocês ter sido eliminado dentro da Vila Belmiro e depois ter visto o Palmeiras campeão?
Fica aquela sensação de que você poderia ter sido campeão, porque é um detalhe... Às vezes o resultado está na sua mão e, por algum motivo, um gol, você fica fora. Se analisar, nós não perdemos, mas a Copa do Brasil favorece aquele que fez gol fora de casa. Nós saímos ganhando e eles vieram para o tudo ou nada. Acharam um gol e foi uma ducha de água fria.

Enxerga semelhanças entre o Santos de hoje e o de 1998?

Vejo que hoje o Santos tem uma maneira de jogar que todo mundo sabe, com velocidade, e nós só tínhamos o toque de bola, de um lado só. Não tínhamos dois pontas de velocidade como tem hoje. Jogávamos num quadrado, com dois na criação, era um sistema diferente de jogar, característica diferente. Acho que isso talvez faça a diferença para o Santos de hoje em relação àquele. Não tínhamos três de velocidade na frente como tem Lucas Lima, Marquinhos Gabriel e Gabigol.

E o Palmeiras?
A pressão no Palmeiras hoje é diferente da nossa época. O Palmeiras treinava mais tranquilo. Quando saiu para enfrentar a gente, era favorito. Hoje vejo o inverso, o Santos, pelo que tem apresentado, é favorito no momento. E o Palmeiras tem essa pressão da torcida pelo resultado, pressão interna... No nosso time, a pressão era nossa mesmo, pressão de chegar à final, mas não tinha pressão interna de dirigente de ganhar a todo custo, e o Palmeiras estava em um momento melhor.

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