Pitaco do Guffo: O Paradoxo do Clube Grande no Brasil
O torcedor quer craques e títulos sempre. Isso é possível?

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Faz algumas décadas que se criou a tese que no Brasil temos 13 clubes grandes: os quatro de São Paulo, a dupla mineira, os quatro do Rio, o Bahia e a dupla GreNal. Enquanto Flamengo e Palmeiras navegam tranquilos como favoritos tanto para ganhar a Libertadores quanto para ganhar o Brasileirão, os outros 11 clubes se debatem no que parecer ser o Paradoxo do Clube Grande no Brasil.
Antes de explicar o que seria essa tese, vamos alinhar o que faz desses os 13 grandes clubes brasileiros: todos já ganharam títulos importantes nacionais e internacionais, são donos de torcidas imensas e apaixonadas, e movimentam milhões de reais ao seu redor. São clubes com tradição e história.
A Espanha não é aqui
Se usarmos esses mesmos critérios para um país como a Espanha, teremos apenas três ou quatro clubes que encaixariam: Barcelona e Real Madrid, Atleti e talvez, o Sevilla. Mas o fato é que só Barça e Real disputam os títulos anualmente. Ambos estão milhas e milhas distantes dos outros dois, nem falar do resto dos clubes. Esse fato tira dos outros clubes a obrigação de ganharem títulos todos os anos.
Na Alemanha, em Portugal, na França, é mais ou menos a mesma coisa. Vocês sabem como funciona. Times que podem ser considerados “grandes” dentro dessa classificação, como o Sporting Lisboa, o Dortmund e o Leverkusen, o Olympique de Marseille, entram nas competições leves, com o único objetivo de jogar bem e ganhar jogos. Se um título vier, ótimo. Mas se o Bayern de Munique ou o PSG ganharem tudo, não tem problema. Já era esperado.
A obrigação de ganhar sempre
No Brasil, funciona diferente. Aqui os “clubes grandes” supostamente precisam disputar todos os títulos todos os anos. Se não for assim, a imprensa local já calibra nas críticas, os torcedores invadem CT, aeroporto, xingam os jogadores nas redes sociais. A violência fica permitida, pois o time "não correspondeu" à sua grandeza. Pelo menos, há os campeonatos estaduais, onde os grandes passeiam em relação aos outros, e ganhar não é mais que a obrigação. Mas, novamente, só um pode ser campeão.

Aqui nasce o Paradoxo do Clube Grande no Brasil. Veja bem, o torcedor do Clube Grande não aceita ficar em 4o lugar, ou ocupar o meio da tabela no Brasileirão, ou ser eliminado nas oitavas da Copa do Brasil. Existe a cultura de que ou o time dele é líder isolado ou a casa vai cair. E por causa disso, nenhum treinador consegue realizar um trabalho decente no Brasil. As categorias de base não conseguem formar jogadores e colocá-los no mercado de forma saudável. As arrecadações caem, pois o torcedor de Clube Grande só vai ao estádio se seu time está onde ele supostamente deveria estar pelo seu tamanho.
Mas o dirigente do Clube Grande, que geralmente também é torcedor, gasta o dinheiro que não tem para satisfazer essa demanda urgente da sua torcida. Pois se ele não o fizer, não irá corresponder ao “tamanho” do clube. A Real Sociedad ou o Wolfsburg, jogam com casa cheia todas as rodadas. Mesmo sabendo que seus times não tem chance alguma de título, ou que seus elencos não estão recheados de craques. Raramente um treinador é demitido com 5 rodadas nas grandes ligas europeias. Acontece, mas é muito raro.
O nosso paradoxo está em que, essa mentalidade autofágica, é o tutano que mantém a idealização de tamanho dos clubes nas cabeças das torcidas. Mudar isso, seria “diminuir” o tamanho da instituição. O que parece ser o maior medo do torcedor do Clube Grande. Então, ele prefere sofrer e se auto enganar, a aceitar a realidade que seu clube já não é mais tão grande quanto ele pensa.
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