Danilo Avelar, do Corinthians, se pronuncia sobre caso de racismo: ‘Estou melhorando como ser humano’

Após três meses do episódio racista, zagueiro mostrou arrependimento e diz buscar conhecimento sobre a causa para que tudo não fique apenas em um pedido de desculpas

Danilo Avelar - Treino Corinthians
Danilo Avelar voltou a falar após três meses sobre o episódio de racismo (Foto: Rodrigo Coca/Ag. Corinthians)

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Três meses após cometer um ato de racismo durante um jogo online, Danilo Avelar, que ainda está sob contrato com o Corinthians, se pronunciou sobre o caso e para dizer o que tem feito desde então. Envergonhado pelo que aconteceu, o jogador tem buscado conhecimento sobre a causa para se tornar um ser humano melhor e passar esses valores para os que estão em sua volta.

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Em entrevista para o programa "Os Donos da Bola", apresentado pelo Craque Neto, Avelar contou como aconteceu o episódio em que utilizou palavras de cunho racista para xingar outro usuário do jogo. Segundo o atleta corintiano, tudo se desencadeou após uma provocação de um adversário argentino.

- Fui infeliz naquele jogo, no vídeo game, em que me exaltei, estava ali em confronto com um estrangeiro, um argentino, quem joga esses jogos sabe que o ambiente é perturbador ali, porque não tem meu rosto, não tem minha imagem, ali eu sou um anônimo, digamos assim. Fui provocado por esse estrangeiro e acabei usando as palavras de conotação racista, fui muito infeliz, me envergonho plenamente disso, errei muito, tenho plena consciência disso.

Para Avelar, o período de silêncio foi importante para que ele pudesse entender melhor toda a situação e buscar conhecimento sobre racismo estrutural que existe na sociedade. Dessa forma, sua ação após o episódio não ficaria apenas em um pedido de desculpas, mas sim numa busca por se tornar um ser humano melhor. O zagueiro revelou que está tendo aulas sobre o tema.

- Eu não deixei por isso, um simples pedido de desculpa não seria o suficiente para, primeiramente, melhorar a pessoa que eu sou, porque muito se falou de clube, de Corinthians, de emprego, de trabalho, mas de verdade o tema racismo é muito superior a todas essas coisas, então eu fiquei em silêncio porque eu precisei evoluir como ser humano, então eu busquei informações, eu saí da minha zona de conforto, eu saí da minha bolha, fui conversar com pessoas que vivem esse problema diariamente e eu fui tentar entender o porquê eu, com o privilégio de um homem branco, que está em uma sociedade com racismo estrutural tão forte, acabo cometendo certos deslizes.

- Com esses estudos, com os cursos que estou fazendo, com pessoas capacitadas. Eu estou fazendo um curso com a Winnie Bueno, que é uma pesquisadora negra, em que ela está me ensinando diariamente, semanalmente sobre o tema, porque a minha maior preocupação foi "o que eu vou ensinar para o meu filho?" se eu cometi um erro e não percebi esse erro. Então diante desses estudos, eu comecei a entender outras coisas que vêm lá do racismo, da parte da escravidão, vem lá de trás certos comportamentos que nós temos no dia a dia, são coisas rotineiras que estão enraizadas e temos que mudar isso. Só silenciar o problema não resolve, e era o que eu fazia antigamente, em não fazia nada em prol de combater o racismo. Eu tive que me alertar para poder melhorar, como eu estou fazendo. Então eu fui na CUFA (Central Única das Favelas), fui dentro das comunidades conversar com as pessoas que fazem as ações, entender mais as dificuldades das pessoas, o porquê da questão racial estar tão atrelada à questão de classe.

Avelar não negou a vontade de voltar a jogar no Corinthians, que anunciou que vai buscar a rescisão contratual com o jogador. No entanto, ele sabe que há situações maiores do que essa para serem superadas e afirmou que a prioridade é melhorar como pessoa e os que estão em sua volta.

- Vou deixar bem claro que, graças a Deus eu tive uma carreira brilhante, de anos de Europa, voltei para o Brasil para realizar meu sonho de jogar no Corinthians, porque eu sempre deixei muito claro que eu sou corintiano, e sim, meu sonho é continuar jogando no Corinthians, mas o meu objetivo principal hoje é pela causa, porque a causa é muito mais importante do que todas as outras situações, é muito mais importante do que voltar a jogar futebol, seja no Corinthians, seja em qualquer outro lugar, é muito mais importante do que eu perder meu emprego e ter que trabalhar na rua, porque eu tenho capacidade para isso, para poder melhorar, então sei que as pessoas têm o sensacionalismo, mas meu coração sabe que eu preciso melhorar como ser humano para poder evoluir e quem está ao meu redor, as pessoas que me acompanham, enxergarem isso e poderem se sensibilizar para ser uma pessoa melhor também - completou.

Danilo Avelar está em fase final de transição após cirurgia no joelho. Ele vem treinando de forma separada do grupo, mas não deve ser integrado ao elenco para o restante da temporada. O clube segue prestando todo o apoio para a recuperação do atleta e busca a melhor forma de romper o vínculo.

Confira outros trechos da entrevista de Avelar para "Os Donos da Bola":

O que tem aprendido com as imersões no tema racismo?
É bem complexo, mas de imediato a gente vê que o racismos está na nossa frente de diversas formas que a gente não enxerga, porque é um racismo estrutural e institucional, então a gente acaba tendo expressões de cotidiano que a gente não imagina, o próprio racismo na brincadeira pode afetar uma pessoa, é o racismo recreativo, em que você brinca com um amigo, ele pode dar uma risada, mas você não sabe se ele realmente foi ofendido, e ao analisar tudo, eu vejo que um dos maiores problemas está na parte educacional, a gente não teve uma educação que nos ensinou sobre o racismo, sobre a escravidão, para que a gente não cometesse esse erros, quantas vezes seu filho chegou na sua casa e falou "olha aprendi a falar uma coisa sobre racismo, que não pode isso ou aquilo", eu, particularmente não tive isso, então eu acho que a parte educacional ela é muito falha nessa questão de nos preparar, de nos proporcionar e de entender mais o lado, e de consequentemente isso acontece por causa de uma questão estrutural e institucional, aí vem a desigualdade, que não permite que as pessoas negras por causa da instituição darem a liberdade para ela ser uma pessoa igual a outra, e aí acontece toda essa parte do racismo, que a gente acaba deslizando no dia a dia por falta de informação e educação.

Como lidou com o problema durante os últimos meses?
Deu três meses hoje e óbvio que a família é que mais sente, sem dúvidas, mas quando eu cometi o ato e vi toda a repercussão, eu entendi que tinha algo a fazer e aquilo me incomodou, porque eu queria melhorar como ser humano e estou melhorando como ser humano para passar para frente essas coisas e não ficar só por isso. Então acho que só fazer um pedido de desculpa ou fazer uma ação, ou comprar uma cesta básica, e não ia ser o suficiente, porque não é assim que eu acho que a gente pode evoluir numa questão tão importante quanto essa então por isso eu silenciei para aprender, para aprofundar realmente, porque eu sabia que eu teria as críticas, as cobranças, num mundo de hoje, do cancelamento, dos juízes da internet, eu sempre estava muito ciente sobre isso, só que nada adiantava eu rebater essas pessoas, se eu não tivesse me preparado, porque eu não tive uma preparação para poder falar sobre o tema, só que eu errei, eu evoluí, eu passei por isso, eu estou aprendendo, estou buscando informações, estou saindo da minha bolha, saindo da minha zona de conforto em prol de uma coisa melhor que eu possa também com meu erro as pessoas se sensibilizarem, para não errarem também, porque a gente aprende com o nosso erro, mas a gente aprende também com o erro dos outros e isso eu queria deixar para as pessoas, que a gente é falho, o ser humano é falho, mas a gente tem que não ficar só por isso, a gente tem que buscar evoluir, buscar informações, foi o que eu fiz, o que eu estou fazendo e dificilmente vou para de fazer, porque é uma coisa que é para o resto da vida.

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