Fã de Taffarel e nascido na Argentina, Muslera se tornará ‘único’ no Uruguai

Em meio a tantas estreias no time principal do Uruguai, o goleiro Fernando Muslera está em sua terceira Copa do Mundo no gol celeste. E esta Copa de 2018 já tem um sabor diferente e especial. Contra a Arábia Saudita, na quarta-feira, o goleiro chegou ao seu 13º jogo em Mundiais e igualou o recordista de participações com a camisa uruguaia em Copas, o também goleiro Ladislao Mazurkiewicz.

Recordes e mais recordes
Na próxima segunda-feira, Muslera deve fazer o 14º jogo e isolar-se nessa estatística. O Uruguai enfrentará os anfitriões russos na definição do primeiro lugar do grupo. Se isso se confirmar, não será a primeira vez que Muslera irá superar Mazurkiewicz. Em 2010, Muslera ficou 337 minutos sem levar gol, quebrando outra marca do ex-goleiro.

- Para mim, é um orgulho estar novamente defendendo a seleção no Mundial, poder bater recordes da rica história que tem o futebol uruguaio, goleiros e do senhor Ladislao, que foi um gênio. É um orgulho para mim e para a minha família. Tenho isso de especial e é um torneio para seguir sonhando, acreditando nas possibilidades - disse ao site "Referí".

Goleiro com nome de artilheiro e passado argentino
O destino de Fernando Muslera sempre cruzou com o da Copa do Mundo. O arqueiro nasceu no dia 16 de junho de 1986, dia em que a Argentina eliminou o Uruguai da Copa do Mundo, nas oitavas de final, com gol de Pedro Pablo.

Um detalhe enriquece ainda mais essa história: Muslera nasceu na Argentina. Seus pais estavam no país vizinho a trabalho e o nascimento ocorreu. O goleiro, porém, ficou apenas oito meses no país vizinho e depois foi para o Uruguai.

- Com todo respeito, meu passaporte diz que tenho nacionalidade argentina, mas sou cem por cento uruguaio - disse ao "Clarín", em 2017.

- A parteira disse para minha mãe: "Com tudo que foi o parto e de acordo com a partida, imagino que vão dar o nome de Pedro Pablo", ela disse, sem saber que meus pais eram uruguaios - revelou ao site da Fifa.

Muslera criou um destino totalmente diferente daquele que a parteira que lhe botou no mundo acreditava. Em vez de ser um argentino com nome de atacante da Argentina, virou um uruguaio e goleiro da seleção do Uruguai.

Seu nome, porém, não foge muito do quis a parteira. O atual arqueiro da Celeste se chama Fernando por conta de Fernando Morena, lendário atacante e maior artilheiro do Campeonato Uruguaio, com 235 gols. Morena é um dos maiores artilheiros do Peñarol (164 gols em 146 jogos) e disputou a Copa do Mundo de 1974.

Fã de Taffarel e ídolo na Turquia
Muslera foi revelado pelo Wanderers, do Uruguai, em 2004, e as boas atuações o levaram ao Nacional, gigante local. As boas exibições fizeram com que o goleiro jogasse pouco no Nacional (foram apenas 11 jogos) e Muslera foi negociado com a Lazio em 2007.

Na Itália, foram 113 jogos e os títulos da Copa da Itália (2008-09) e da Supercopa da Itália (2009-10). Em 2011, foi negociado com o Galatasaray, onde permanece até os dias atuais. Na Turquia é ídolo e tetra-campeão do Campeonato Turco. Um dos ídolos do goleiro é outro tetra-campeão (só que pelo Brasil) e também ídolo do Galatasaray: o goleiro brasileiro Cláudio Taffarel.

- Taffarel é uma lenda para todos os goleiros do mundo, mas na América do Sul ele é mais do que apenas uma lenda. Ele é um dos melhores goleiros da história - disse, em 2015, em entrevista a "FourFourTwo".

História na Celeste

Nesta Copa do Mundo, Muslera comemorou seus 32 anos na Rússia. O goleiro estreou na seleção em 10 de outubro de 2009, na vitória por 2 a 1, contra o Equador, pelas eliminatórias.

Com nove anos de Uruguai, Muslera já disputou 98 jogos e fez parte da geração uruguaia que voltou a conquistar títulos e conseguiu a melhor participação em Copas do Mundo desde 1970 (quarto lugar na Copa de 2010). O arqueiro também foi campeão da Copa América de 2010. O título que falta é o Mundial, conquista que não vem há 68 anos ao país. 

- Como todos sabem, nós mudamos nosso estilo de jogo. Sempre sabendo qual é o nosso ponto forte. Temos jogadores com boa saída, com bom poder ofensivo e jogo aéreo. Creio que somos uma equipe bastante completa - disse Muslera.

Ladislao Mazurkiewicz, lenda uruguaia e vítima de Pelé
O ex-goleiro disputou três Copas do Mundo pela Celeste (1966, 1970 e 1974). Apesar de não ter vencido nenhuma edição, Ladislao foi eleito um dos melhores jogadores da edição de 1970.

- Sempre estava na melhor condição e sempre buscando sua melhor forma. Foi um dos maiores goleiros da história - disse, ao "Referí", o ex-atacante Fernando Morena, xará de Muslera.

Nesta Copa, protagonizou dois lances memoráveis com o Rei Pelé. Primeiro, Pelé deu um drible de corpo sem tocar na bola em Ladislao, mas não conseguiu fazer o gol. Depois, após o tiro de meta, Pelé pegou de primeira da intermediária e obrigou Ladislao a fazer grande defesa. O Brasil venceu por 3 a 1, nas semifinais, e eliminou o Uruguai. Foi a melhor campanha da Celeste desde o título de 1950.

A relação de Ladislao Mazurkiewicz com o Brasil não termina por aí. O goleiro foi jogador do Atlético-MG por duas temporadas (1972 a 1974). Além do Galo, Ladislao defendeu o Peñarol e conquistou o título da Libertadores e da Copa Intercontinental, em 1966. Teve passagens por Granada-ESP (1974-78), Cobreloa-CHI (1979) e América de Cali (1980).

Mesmo com 1,79m de altura, Mazurkiewicz foi um dos maiores goleiros da história do futebol uruguaio. Segundo o próprio goleiro, a um canal de televisão uruguaio, o lendário Lev Yashin falou que ele seria o seu sucessor. Ladislao morreu em 2013, vítima de problemas respiratórios.