Torcida do Botafogo protesta na web contra antecipação de receitas; oposição também se manifesta

Movimento que começou no fim de semana ganhou força até na internet, nos últimos dias, convocando para mobilização em frente à sede de General Severiano, nesta quarta-feira

General Severiano
Sede de General Severiano deve estar movimentada na noite desta quarta-feira (Foto: Fernando Soutello/AGIF)

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Ganhou as redes sociais um protesto que a torcida do Botafogo está organizando, aparentemente de maneira espontânea, contra uma nova antecipação de receitas. Tal antecipação será discutida pelo Conselho Deliberativo do clube nesta quarta-feira, e a hashtag #OcupaGeneral atingiu, na tarde desta terça, os tópicos mais populares do Twitter.

Como diz a própria hashtag, a manifestação está prevista para a frente da sede de General Severiano, do lado de fora de onde será o debate. O movimento ganhou corpo nos últimos dias, logo após a convocação ser protocolada, na última sexta-feira.

Quem é contrário à antecipação de receitas (a reunião também tem outros tópicos previstos) entende que seria prejudicial para o futuro do clube. Quem concorda com a atual diretoria do Alvinegro avalia o mau momento financeiro do clube, que voltou a ter atraso de salários e no pagamento de parcelas do Profut, programa de refinanciamento de dívidas estatais.

O grupo político da diretoria alvinegra tem ampla maioria no Deliberativo. Por outro lado, o candidato derrotado e principal militante da oposição na casa, Marcelo Guimarães, enviou longa carta à imprensa, também criticando a intenção de antecipação de receitas.

Confira a carta na íntegra:

"Para onde estão conduzindo nosso Botafogo de Futebol e Regatas?

Mesmo com os benefícios do Profut e do Ato Trabalhista, o Botafogo continua dependendo de antecipações de receitas e de artifícios contábeis para apregoar bom desempenho sem resultado financeiro que o demonstre.

Um bom exemplo foi a baixa do empréstimo do grupo Odebrecht, em 2017, por conta do questionável opinamento jurídico externo quanto às chances de êxito do litígio cível e criminal envolvendo o Clube.

Até o ano passado manobras como essas eram para fechar o período. Agora, são para quitar o primeiro semestre, manter as vantagens obtidas com a adesão ao Profut e ao Ato Trabalhista e esperar rendas da venda de atletas profissionais ainda sem o devido reconhecimento internacional e valor de mercado, para tentar fechar 2018.

Pensar em 2019 só amplia a angústia, diante do fluxo de caixa cada vez mais negativo.

O novo CT é um sopro de esperança e seus resultados são apenas sonho propiciado pela generosidade de apaixonados pelo Clube. Pouco representa essa instalação para o presente ou o futuro imediato, em termos de receita.

Administrar não é apenas usar uma tesoura para fazer cortes seletivos onde há o silencio conivente e obsequioso de amigos. É principalmente gerar receitas que cada vez mais superem os custos racionalizados, invertendo no tempo o fluxo de caixa da entidade hoje endividada.

Esse endividamento crônico e a falta de competência executiva para revertê-lo - já lá se vão quase quatro anos sob a atual liderança - são resultado de uma decadência instalada pela ação ou omissão de grupos políticos que há décadas se revezam no comando do Botafogo, em lutas fratricidas intermináveis ou alianças de ocasião, travadas por sucessivas gerações.

Em comum, apenas o amadorismo na gestão da entidade, com as conseqüências vistas por todos. Amadorismo que nesse momento é bradado com orgulho, como se profissionalizar fosse uma distorção. Evoca-se a memória dos meninos fundadores, fundamentais como símbolo e inspiração, em meio a uma contestação de uma crítica objetiva feita por um conselheiro discordante do processo de contratação de uma auditoria, como se isso fizesse algum sentido no atual contexto de mercado que vivemos.

Gostaríamos de saber, o que passa pela cabeça de um presidente, que opta delegar poderes máximos a um grupo de voluntários, companheiros de chapa, abrindo mão de fazer o que exigimos que seja feito com o futebol, quando contratar os melhores profissionais para cada posição é uma exigência.

E a lógica permanece, abençoada pelos caciques. Assim sendo, o cúmplice de ontem vira o aliado do presente ou rival do amanhã. Enquanto isso, la nave va...

Como clube social, uma entidade como o Botafogo, alguém dirá não faça muita falta à cidade, como outros clubes tradicionais (extintos ou quase) pouca falta fazem, e restarão vivos na memória dos cada vez menos que participaram das glórias do passado, sócios, torcedores ou atletas. De fato, se os admiradores não aumentam, o fim do clube é questão de tempo.

A falta da marca Botafogo será sentida por milhões de torcedores, jovens ou não, que a sustentam sem ressentimentos, apesar das recorrentes frustrações mal compensadas por êxitos pontuais. Vale lembrar, que o torcedor que nasceu no ano do último título nacional do Botafogo já é um adulto.

Mas nem essa fé cega resistirá a tamanha incompetência continuada, desconhecida de muito por conta da transparência seletiva da gestão dos clubes, timidamente implantadas para atender aos padrões de governança impostos pela Apfut.

No remo e no futebol, não há como escrever a história do esporte sem falar do Botafogo, de seus atletas e dos seus triunfos. Salvar essa quase lenda é o nosso desafio inadiável.

Então é chegada a hora de os torcedores se tornarem sócios votantes, proprietários ou não, e todos assumirem, com os pés no chão, os destinos da centenária instituição, começando por separar a atividade social da atividade desportiva, e nessa distinguindo o esporte amador do esporte profissional, dando a cada qual o tratamento adequado.

Mas como esperar que os torcedores, os sócios torcedores, participem em massa do processo eleitoral, se o modelo lançado, trabalha para que isso não ocorra. Além de caro, já que o valor cobrado não dá acesso aos jogos, é regional, na medida que só votarão aqueles que vivam ou venham ao Rio, posto que ignoraram na excludente proposta, a redentora possibilidade do voto remoto pela internet.

Como sabemos, os clubes de futebol estão sob vigilância da Apfut por conta do dinheiro público representado pelo financiamento de dívidas estratosféricas. A continuidade da atividade dos clubes somente se justifica, aos olhos de auditores independentes, por conta do pagamento dos passivos contabilizados.

Mas só o braço do torcedor irá salvar a paixão alvinegra da incúria administrativa de quem acha que não lhe deve satisfação, muito menos aos próprios associados, e os coloca todos diante de fatos consumados para lhes cobrar solidariedade complacente para o que não foi evitado por incapacidade, apenas, pois de desonestidade aqui não se cogita.

Agora, em reunião fechada, onde excluem até os sócios proprietários, empurram o Conselho para um dilema histórico. Ou aceitamos antecipar recursos da TV ou como conseqüência provável da inanição financeira estimulada pelo modelo atrasado com que conduzem o clube, somos excluídos do Profut e rumamos para o caos.

E olha que ainda ecoam em nosso salão nobre e arredores, os gritos dos representantes do atual grupo político, vociferando impropérios e espumando de ódio daqueles que no passado, se utilizavam dessas mesmas antecipações. Sem contar com os compromissos eleitorais de não antecipar receitas, que agora, se esmaecem, juntamente com as sobras das abundantes filipetas que ajudaram a conseguir os votos para elegê-los.

E eles seguirão culpando o passado, enquanto seguem conduzindo o clube inspirado no modelo do passado. Cheio de poderosos, de caciques que decidem as eleições, de salvadores da pátria, de donos da verdade, que defendem com agressividade e ódio, um modelo moribundo.

Grande Salto no Conselho!

Marcelo Guimarães"

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