Sem anestesia: rebaixamento vexatório do Botafogo é alerta geral

Setorista do Botafogo em anos recentes traz olhar externo sobre o Glorioso e a rápida construção de um elenco cujo desfecho se tornou inevitavelmente vergonhoso<br>

Fluminense x Botafogo
Vítor Silva/Botafogo

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Eu cobri o Botafogo por três anos entre o meu atual período como setorista do Vasco e o anterior. De modo que fiquei assustado com a capacidade que o clube de General Severiano teve para cumprir a famosa "cartilha do rebaixamento" com uma perfeição jamais vista. É importante que o torcedor tenha em mente que o que aconteceu na temporada 2020 não se justifica pela pandemia de Covid-19 e pode ter efeitos catastróficos para o futuro da instituição. Mas a Estrela Solitária é diferente do que a anestesia dos últimos meses parece reluzir.

O perfeito dossiê de Sergio Santana é apenas um dos muitos textos e posicionamentos que você já deve ter lido por aí sobre a queda do Glorioso. Aqui, trato de afirmar que, apesar de tudo, era possível não ter sido rebaixado na atual temporada. Principalmente de forma tão ridícula.

Costumo dizer que quando o extra-campo fala, o campo responde. Eu cobri um clube que, em 2016, estava voltando à primeira divisão. Havia limitações técnicas e financeiras. Admitia-se internamente que, diante da pobreza do material humano e de repertório, penar para ficar fora da zona de rebaixamento era o compreensível. Saiu Ricardo Gomes, Jair Ventura comandou a ascensão.

Em 2017, disputa de Copa Libertadores, boa campanha na Copa do Brasil, mas o time que não conseguiu nova vaga à principal competição do continente. Havia ambição no sentimento geral. Em 2018, um planejamento pouco convicto fez o time titubear. No frigir dos ovos, o meio de tabela era o possível e foi alcançado.

No ano seguinte, 43 pontos foram somados no Campeonato Brasileiro. Guardem esta informação pois, noutras edições da competição, o time cairia à Série B. Pois aquele time de 2019 foi piorado no decorrer da temporada 2020. Sim. O elenco foi sendo piorado como se houvesse um processo positivo em curso.

Não falo, por exemplo, da quase inevitável venda de Luís Henrique. Mas do empréstimo de Luiz Fernando, frequentemente utilizado, embora contestado, sob a argumentação de economia. Seria justo se você não precisasse de dois pontas para entrar em campo nos sistemas de jogos que seriam vistos quase sempre. Nenhum substituto foi uma solução. A economia, concretizado o rebaixamento, se confirma ou se transforma em prejuízo?

Carli, que hoje pode voltar, foi chutado sem que houvesse garantia de real de ganho no custo-benefício. Leandrinho foi ignorado. Entrou na Justiça contra o clube e, hoje, joga em Portugal. Não seria titular hoje? E o que dizer de Bochecha? Jogador de características peculiares, foi exposto como o mais experiente do time de juniores que disputou o início do Estadual enquanto o elenco principal estava em pré-temporada.

O volante acabou sendo bode expiatório. Outro jogador formado no clube que teve a carreira mal trabalhada. Ele rumou ao Juventude, que subiu para a elite que o Botafogo caiu. O meio-campista não teria vaga atualmente?

O planejamento inexistiu quando trocaram de treinador tão cedo (Alberto Valentim) e quando contrataram um treinador que não poderia assumir (Ramón Díaz). A condução foi mal feita quando contrataram jogadores às dezenas ocupando vagas de ativos do clube. Afinal: há tanta diferença entre Fernando e Kevin?

As palavras acima não são para remoerem a dor da torcida sobre o passado recente. Nem para dizer sobre a já sabida dificuldade para o futuro.

É um alerta, para torcedores de diferentes clubes, que absurdos como o Botafogo de 2020 podem acontecer. Um dos piores anos da história do clube, um dos piores times em campo nos Brasileiros por pontos corridos e, tranquilamente, o pior time grande a ser rebaixado.

Este alerta é para que cada um cuide e esteja alerta ao que lhe cabe. Pois a exceção do surreal pode acontecer sem que se perceba.

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