Segredo dos pênaltis, disputa no gol e sonho de voltar à Europa: Gatito ao L!

Goleiro do Bota e um dos poucos remanescentes da janela do início do ano, paraguaio admite erros, descarta auge e abalo após queda do Paraguai e fala da relação com o pai

Gatito não teve uma boa atuação neste sábado
Wagner Assis/Eleven

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Há três semanas, ele era quase uma unanimidade com a torcida botafoguense, que também se orgulha de ter o ídolo Jefferson no banco. As defesas importantes e, principalmente, os oito gols evitados nas 14 cobranças efetuadas contra ele, explicam a idolatria dos alvinegros. Mas a vida de Gatito Fernández, jogador de seleção, filho de outro grande goleiro da história do Paraguai e dono de um português fluente, mudou neste mês de novembro.

Erros que resultaram em derrotas do Botafogo e colocaram em dúvida, por parte da torcida, a presença do goleiro paraguaio no time titular do técnico Jair Ventura. E sobre as falhas recentes, a temporada, as defesas, passagem pela Europa e a carreira de altos e baixos, o camisa 1 do Glorioso conversou com o LANCE! com exclusividade.

O que houve nas falhas contra Fluminense e Atlético-PR?

Todos viram que eu errei e não fujo das responsabilidades. Acho que o importante durante toda a carreira é não achar que somos os melhores quando só recebemos elogios e também não nos abatermos com algumas falhas ou críticas que recebemos. O fundamental é sempre olhar para frente e, no caso deste ano, saber que fizemos um bom trabalho ao olharmos o que já aconteceu.

Você acha que vive o seu auge?
É diferente. No meu país, já fui campeão com o Cerro Porteño (Apertura de 2009 e Clausura de 2013), já fui o menos vazado, o melhor do Campeonato... Fora do Paraguai, este é o meu melhor momento e acho que o que me trouxe aqui ao Botafogo foi o que eu fiz no ano passado pelo Figueirense. Em função de tudo que o jogamos na Copa do Brasil e na Libertadores e como começamos, é o meu melhor momento aqui no Brasil, mas também por estar num clube de história e tradição no país.

Já tinha defendido tantos pênaltis?

Não, nunca defendi tantas, mas também não me lembro de ter tido tantas cobranças contra (risos). No ano passado, pelo Figueirense, peguei dois de quatro ou cinco. Esse ano que foram muitas. 

"Em função de tudo que o jogamos na Copa do Brasil e na Libertadores e como começamos, é o meu melhor momento aqui no Brasil, mas também por estar num clube de história e tradição"

Como você avalia o ano do Botafogo?
É um ano muito bom, porque não entramos direto na Libertadores. Nós tivemos as Eliminatórias, depois caímos em um grupo muito difícil, com times campeões. Fizemos uma grande campanha, queríamos mais, mas fomos bem. Chegamos bem na Copa do Brasil também e isso tudo junto com o Campeonato Brasileiro. Estamos brigando lá em cima. É um ano muito bom para o clube também, porque o time trouxe reforços e formou um conjunto muito bom. O que vivemos nesse ano tem que servir de aprendizado no ano que vem. 

Como o time se manteve com tantas perdas?
O que eu percebi foi fora de campo. Temos um grupo realmente muito bom, consciente do que quer, com vontade de buscar um algo a mais. Essa é a nossa principal arma. Temos um grupo muito forte. Perdemos jogadores importantes, de qualidade, que em qualquer time do Brasil gostaria de ter, mas o que manteve a linha foi o grupo. Tivemos momentos bons e ruins,  mas quando não foi bom o grupo manteve linha boa. E nos bons momentos tivemos pés no chão. O treinador passa isso também. Tem muito dele. Temos um grupo bom, sabemos onde se posiciona o outro.  O Jair tem muito na construção e comando, por isso no campo fica facilitado. Qualquer um que entrou no Campeonato Brasileiro ou nas Copas (do Brasil e da Libertadores) foram bem. 

Mas o que é ser um grupo bom?

Um pouco de tudo. Saber falar no momento certo, saber quando tem que ficar quieto... Nós temos caras experientes como Carli, Jefferson Dudu Cearense. Eles são caras que comandam. Essas pessoas no treinamento buscam algo a mais e sempre estão apoiando outras pequenas coisas que a gente vê no dia a dia que deixam o clima leve. E quando o mais jovem tem que escutar o mais experiente não tem problema. É um dos melhores grupos que já estive. São coisas que ajudam bastante.

Como faz para ter tanto sucesso nas defesas de pênaltis?
Não tem segredo. Cada goleiro tem um estilo de pegar. Eu sempre procuro, nos segundos que antecedem a cobrança, focar no batedor e entender o que ele vai fazer através da linguagem corporal dele, como ele chega na bola. Cada goleiro tem o seu estilo. 

O pessoal da análise de desempenho passa informação dos batedores?
Quase sempre eles têm dados dos jogadores, mas às vezes eles passam e o batedor muda. Tem que os méritos dos goleiros também, mas as informações que eles passam sempre ajudam.

Mas você sempre espera o batedor mesmo assim?
Sim, espero. Não tem como sair antes, senão facilita o trabalho do batedor.

Quem é o melhor batedor do Botafogo?
Tem vários... o Lindoso, o Brenner... é difícil escolher um só. São vários que batem bem.

A não classificação do Paraguai para a copa do mundo te abalou?
Na eliminatória para a Copa do Brasil, eu estava, mas estávamos longe e sem esperança. Dessa vez tinha chance e ficamos triste demais. Eu e o time. Isso sem contar o país. Todo mundo queria voltar para a Copa do Mundo. Me chateou bastante, mas no dia seguinte já tinha voo e jogo contra a Chapecoense. O pessoal do clube ajudou a esquecer.

"Hoje em dia, se surgir uma possibilidade boa para o Botafogo e para mim, eu gostaria de voltar para a Europa. Já tive experiência lá, mas gostaria de voltar e me consolidar. Se não tiver, estou feliz, à vontade"

Houve proposta concreta do Napoli? Você pretende voltar à Europa?
Hoje em dia, se surgir uma possibilidade boa para o Botafogo e para mim, eu gostaria de voltar. Já tive experiência lá, mas gostaria de voltar e me consolidar. Se não tiver, estou feliz, à vontade. Minha família gosta do Rio. Quem não gosta? Mas não chegou nada além da sondagem. Aqui no clube também nunca chegou proposta oficial. 

O seu início foi irregular no Botafogo e já havia sido irregular no Figueirense. É sempre assim?
Não sei se com todos acontece, mas comigo sempre me custa um pouco adaptar. Foi assim no Figueirense e no Vitória. A adaptação demora um pouco  mais. Não sei se meu trabalho é diferente, não sei se aqui foi o calor, maior que o de Salvador... Mas aí fui conhecendo o grupo, trabalho, fui me soltando, o que ajudou o trabalho. 

A sua carreira fez caminho diferente: passou por Argentina, Holanda, voltou, veio para o Brasil... qual sua grande ambição?

Minha primeira ambição era me consolidar no Brasil e jogar num time grande. Hoje estou num clube muito grande. Uma meta consegui. Levou um tempo, sim, mas minha careira deu toda uma volta e acabei aqui no Brasil. O engraçado é que meu pai queria que eu jogasse aqui no Brasil e eu falava que queria jogar na Argentina. Gosto de lá. Fui jogar lá e não me senti à vontade. Aqui, desde o primeiro momento, me senti à vontade, o que se uniu ao fato de ter morado no país. O idioma não foi dificuldade. 

Como foram as passagens pelo futebol da Argentina e da Holanda?
Só joguei na Argentina no meu segundo ano lá (chegou em 2009). No Estudiantes não joguei, mas pelo Racing (entre 2010 e 2011) atuei. Na Holanda (defendeu o Ultrecht entre 2011 e 2012), tive uma operação no joelho direito.  Demorei, mas voltei a jogar... No Estudiantes, quando eu cheguei, o time tinha acabado de conquistar a Libertadores de 2009 e o Andújar tinha acabado de deixar o time. Era tudo novo e nunca me senti à vontade. Não pelas pessoas, mas não sei o que foi. Talvez experiência. Na Holanda, tive uma lesão no menisco que levou muito tempo para recuperar. Foram experiências que me fizeram crescer, amadurecer muito para quando eu saísse de novo, eu soubesse o que iria encontrar pela frente. Não foram experiências tão boas no futebol, mas serviu para amadurecer bastante.

Como é a relação com seu pai, que foi goleiro importante?
Morei com meu pai aqui no Brasil, em Porto Alegre. Vim para cá, quase assim que nasci. Quando eu nasci, meu pai jogava na Colômbia (no Deportivo de Cali), mas sou de Assunção. Quando fui crescendo, fui vendo que todo mundo gosta muito do meu pai. Comecei a seguir os passos dele. Ele não gostava que eu ficasse no gol, porque já sabia que ia sofrer bastante. Minha mãe também não curtia muito a ideia. Me lembro que com 16 anos,  ela perguntou se eu queria estudar ou me dedicar ao futebol. Optei pelo futebol e a partir dali, meu pai sempre me acompanhou o que chama a atenção.  Ele ia aos treinos comigo, dizia onde não estava tão bem. Depois, estudei Administração e Marketing, mas larguei o futebol. Quando me aposentar, volto a pensar em estudar e fazer outras coisas. 

Quem é mais conhecido no Paraguai: Você ou seu pai?
Hoje, ele fala que ninguém o chama mais de Gato Fernández e sim de pai do Gatito, mas ele é muito queiro lá também. 

Quando conheceu Jefferson?
Eu já acompanhava um pouco o futebol brasileiro. Meu pai até hoje assiste. Mora no Paraguai, mas assiste. O Jefferson já era um conhecido. O engraçado é que quando cheguei ao Brasil, joguei duas ou três vezes contra o Botafogo e ele nunca jogou.  Em 2014 foi o Andrey, depois Helton Leite. No ano passado, foi o Sidão. 

"O ano que vem começa do zero, como todo ano. Como goleiro, sempre gostaria de ter continuidade, mas não sei o que aconteceria. Nunca pensei nisso. Estou feliz aqui. Vou sempre dar o meu melhor pra continuar tendo minutos de jogo"

Para o ano que vem, se Jefferson retomar a titularidade, pelo "tamanho" que você conquistou hoje, com sondagens, você fica e lutaria pega vaga ou prefere sair?
O ano que vem começa do zero, como todo ano. Como goleiro, sempre gostaria de ter continuidade, mas não sei o que aconteceria. Nunca pensei nisso. Estou feliz aqui. Vou sempre dar o meu melhor pra continuar tendo minutos de jogo

É possível ser titular do Paraguai no próximo ciclo da Copa do Mundo ou Justo Villar (goleiro histórico, de 40 anos e três Copas do Mundo no currículo) ainda não dá chance?
Acho que dá, mas tudo depende do meu trabalho. Se fizer bem, tenho chances. É uma coisa que gostaria muito. 

E no Botafogo, quais os seus objetivos? 
Em primeiro, é classificar para a Libertadores novamente e ter no ano que vem um título pelo Botafogo

O que faltou para os títulos chegarem esse ano?
Acho que o grupo tinha qualidade, mas por alguma razão não chegamos onde queríamos ter chegado. Tivemos chances de gol contra o Grêmio e contra o Flamengo na Copa do Brasil. Realmente ficamos devendo. Acho que faltou um pouco de sorte também. 

Qual o jogador que mais te impressionou ao longo da carreira? 
Na final do Mundial do Estudiantes, eu estava no banco e vi o Ibrahimovic (na época, ele atuava pelo Barcelona) de perto. Ele é impressionante, muito maior que eu. Tem uma elasticidade impressionante. Aqui no Brasil, tenho uma admiração muito grande pelo Hernanes, do São Paulo. Não o conhecia. Ele é diferenciado e joga muito. 

Quem é ele: 

NOME
Roberto Júnior Fernández Torres, o Gatito  

NASCIMENTO
29/03/1988 - Assunção (PAR)

POSIÇÃO
Goleiro

CLUBES
2007–2009  Cerro Porteño
2009–2010 Estudiantes 
2010–2011 Racing
2011–2012 Utrecht
2012 -2014 Cerro Porteño
2014 –2015 Vitória 
2016 Figueirense 
2017 Botafogo

Dados pelo Botafogo: 57 jogos e 55 gols sofridos

Atributos físicos: 1,91m e 80 kg 

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