Nilton Santos: “Adeus, irmão”, por Haroldo Habib

Engenheiros avaliam estrago (Foto: Marcelo Braga)
Engenheiros avaliam estrago (Foto: Marcelo Braga)

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"Alô, Nilton!"

"Oi, irmão! Tudo bem?"

Isso mesmo. Era assim que meu ídolo me recepcionava ao telefone (sem falar que reconhecia minha voz). Muita emoção para um simples admirador. Admiração que havia começado em 1948, quando, pela primeira vez, eu o vi com a camisa do Botafogo. Seus olhos brilhavam. Logo depois, lá estava ele, bola dominada, ou roubando-a de algum adversário, para exibir sua técnica e desfilar sua elegância pelo gramado de General Severiano. Anos depois, a mesma elegância, a mesma técnica no ano em que encerrou a brilhante e gloriosa carreira, no Maracanã, em dezembro de 1964. Nada mudara, era o mesmo craque do início de carreira. Olhos, como sempre, brilhando. Perguntei certa vez o motivo e minha admiração aumentou.

- Orgulho por vestir essa camisa com esse escudo maravilhoso, orgulho por defender esse clube. Orgulho por ser jogador do Botafogo - enfatizou ele.

Durante todos esses anos de admiração, além da emoção de vitórias e títulos, também as decepções causadas pelas derrotas, eu via em Nilton uma pessoa diferenciada. Não somente pelo futebol da mais alta qualidade, mas pelas atitudes, pelo respeito que tinha pelos adversários que enfrentava. E a admiração só aumentava. Um dia, na sua loja de esportes, o primeiro aperto de mão, seguido de uma dedicatória numa bola que comprei para meu pai (seu fã também, claro), e que guardo até hoje. A partir daí, encontros fortuitos, no Maracanã ou na sua loja, até a convivência quase que diária. Ele, como diretor do Botafogo; eu, como repórter. Começava então a amizade.

Num dos telefonemas, convidei Nilton para dar uma palestra no LANCE!. Jornalistas e funcionários ficaram maravilhados com tanta sabedoria, tanto conhecimento sobre futebol, incluindo os bastidores desse apaixonante esporte, uma faceta pouco conhecida. Nilton era assim. Simples, comedido. Mas quando decidia falar encantava. Vai continuar sendo a verdadeira Enciclopédia do Futebol.

Nos anos em que fui editor executivo do "Jornal dos Sports" tive uma coluna ("Futebol-Arte"). A primeira foi dedicada a Nilton Santos. Escrevi que o maior troféu conquistado por mim no jornalismo foi o fato de ele, meu ídolo, me chamar de "irmão". Escrevi também que desde 1964 o lado esquerdo do campo já não era o mesmo, pois ele já não exibia sua técnica e elegância por ali. Agora, o lado esquerdo do peito dos amantes do bom futebol também ficou órfão. Órfão de um cidadão de respeito, de um profissional como poucos, de um lateral-esquerdo inigualável, como atestou a Fifa, que o elegeu o maior de todos os tempos. Justíssima homenagem. Como se não bastasse, nós, botafoguenses, vibramos e aplaudimos um dos grandes quarto-zagueiros do futebol mundial. Lembram-se? Manga, Joel, Zé Maria, Nilton Santos e Rildo...

Nilton se foi, mas ficam as lições deixadas por ele. Para quem o viu jogar (felizmente, eu vi centenas de vezes) fica a lembrança de um dos maiores jogadores da História do futebol mundial.

Obrigado por tudo, Nilton. Saudade!

Descanse em paz, irmão querido.

*Texto escrito por Haroldo Habib

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