São Paulo torna pública sua ‘nova postura’ e segura joias de Cotia

Responsáveis pelo departamento de futebol, Alexandre Pássaro e Raí deram recado para atletas e agentes em coletiva na terça: o clube não vai vender os jovens para pagar contas

Igor Gomes, Antony, Liziero e Luan
Igor, Antony, Liziero e Luan puxam a fila dos destaques de Cotia (Foto: Antônio Cícero/Photo Press/Lancepress!)

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O São Paulo tornou pública nessa terça-feira, na entrevista coletiva de Raí e Alexandre Pássaro, o que já vinha sinalizando ao mercado há alguns meses: embora atravesse um momento de dificuldade financeira, não vai vender os jovens de Cotia que estão se destacando no profissional para estabilizar o caixa. Os dirigentes, inclusive, anunciaram que acabam de recusar 20 milhões de euros por Antony.

- A estratégia é mantê-los, primeiro de tudo, para que eles deem o retorno esportivo. Essa é uma mudança de postura do São Paulo, que começou no ano passado e esse ano se intensifica. A gente quer ter retorno esportivo nos próximos dois anos, e esse retorno esportivo também vai gerar retorno financeiro - disse Raí, diretor de futebol.

Abaixo, o LANCE! detalha a estratégia traçada pela diretoria são-paulina para mudar a imagem do clube, que nos últimos anos potencializou sua fama de vendedor.

Essa postura vem desde o ano passado mesmo?
O São Paulo realmente tem tentado segurar os garotos por mais tempo desde a chegada de Raí, no fim de 2017. Neste período, houve três negociações de jovens que causaram irritação em parte da torcida. A saída mais sentida foi a de Éder Militão, que era titular da equipe que liderava o Brasileirão de 2018. A diretoria justifica que a situação dele é muito particular, já que fez inúmeras tentativas de renovar o contrato e todas foram recusadas. Para que o jogador não saísse de graça, o Tricolor o vendeu ao Porto (POR) por 4 milhões de euros e garantiu mais 10% de uma transferência futura, além do mecanismo de solidariedade.

As outras duas negociações envolveram jovens campeões da Copinha de 2019: Tuta e Gabriel Novaes. Tuta foi negociado por que o São Paulo considerou a proposta do Eintracht Frankfurt muito boa para um jogador que teria concorrência enorme na posição, incluindo outros zagueiros de Cotia considerados mais talentosos. Já Gabriel Novaes foi emprestado ao Barcelona B com opção de compra, mas antes disso renovou por cinco anos.

Segundo Alexandre Pássaro, gerente de futebol, o empréstimo foi um "pedágio" que o São Paulo pagou para que ele aceitasse renovar o vínculo. O clube brasileiro procurou o Barça para que essa negociação saísse.

Quem são os garotos inegociáveis?
Além de Antony, o mais assediado deles, os jovens que estão em alta no clube são os zagueiros Walce e Morato, os volantes Luan e Liziero, o meia Igor Gomes e o atacante Toró. Todos eles têm sido utilizados com frequência no profissional, à exceção de Morato, que tem só 17 anos e ainda não estreou. Mesmo assim, todos no clube apostam que ele terá futuro brilhante.

Todos eles, por sinal, tiveram renovações contratuais recentes. Antony, devido ao destaque e ao assédio do exterior, conversa para ter um novo reajuste salarial.

Qual é a multa dos garotos?
O São Paulo estipulou um padrão para todas as suas joias: para levá-los sem negociação, os clubes do exterior precisam desembolsar 50 milhões de euros. Isso vale inclusive para alguns atletas que não são da base, caso do recém-chegado Raniel.

Empréstimos são possíveis
Nem todos os jovens que subiram de Cotia nos últimos meses conseguiram espaço no elenco principal. O zagueiro Rodrigo, de trajetória brilhante na base, jogou só uma partida oficial na temporada e depois perdeu espaço. O clube, então, resolveu emprestá-lo por um ano ao Portimonense (POR) para que ele possa se desenvolver e voltar pronto para brigar por posição- ou valorizado para ser vendido.

É um caminho que pode ser seguido, por exemplo, pelo atacante Helinho. Ele foi bem nas primeiras oportunidades que teve, em 2018, mas depois caiu de rendimento e viu Antony tomar sua frente. Além disso, o ataque foi bastante reforçado nos últimos tempos, com Calazans, Pato, Vitor Bueno, Raniel... Se aparecer alguma possibilidade de empréstimo, o clube vai analisar.

Como fazer dinheiro sem vender os garotos?

Fechar as portas para a saída dos garotos não significa que o São Paulo não vá ouvir propostas por nenhum jogador. O clube acredita que o zagueiro Arboleda será procurado pelo mercado europeu e, dependendo do valor oferecido, se dispõe a negociá-lo. Lucas Fernandes, integrado nesta semana ao elenco após empréstimo ao Portimonense (POR), também é observado no exterior e pode ser vendido se aparecer algo considerado bom. O mesmo vale para Júnior Tavares, que estava na Sampdoria e ainda não sabe se será recolocado no grupo tricolor.

Não é segredo para ninguém: o São Paulo precisa de dinheiro. Com problemas de fluxo de caixa, o clube atrasou alguns pagamentos a jogadores nos últimos meses e também recorreu a empréstimos bancários. A contratação de Raniel, por exemplo, só foi possível por que o empresário André Cury se dispôs a emprestar o valor a ser pago ao Cruzeiro e receber, com juros menores que os de mercado, só a partir de janeiro.

O orçamento de 2019 prevê arrecadação de R$ 120 milhões com transferências, valor que ainda está longe de ser batido: o clube faturou aproximadamente R$ 57,2 milhões com as vendas de Tuta (R$ 7,6 milhões) e Rodrigo Caio (R$ 22,2 milhões) e com a ida de Militão para o Real Madrid (R$ 25 milhões), além do bônus pré-estipulado pela classificação do Lille de Thiago Mendes para a Champions League (R$ 2,2 milhões).

A diretoria ainda torce para que David Neres seja negociado pelo Ajax (HOL), já que o São Paulo teria direito a 20% do valor e mais uma porcentagem por ter sido o clube formador. 

- Se o São Paulo abrir a boca, com três ou quatro desses jovens pode fazer muito mais do que o número citado (R$ 120 milhões). Mas não é a intenção do São Paulo. Queremos agir com inteligência, tem outros jogadores, outras formas de captação - disse Raí.

Recado aos jovens do futuro

O São Paulo está tentando mudar a maneira como os jovens e seus empresários o enxergam. Em vez de ser apenas uma vitrine para que os recém-promovidos da base chamem a atenção da Europa rapidamente, quer ser um clube em que eles finquem raízes, evoluam, tornem-se vitoriosos e se valorizem para vendas ainda mais estrondosas.

- Que o menino que está na base e seus agentes saibam que ele não vai aparecer no profissional e logo ser vendido. Pode ser que aconteça, mas não será uma regra. Estamos fazendo isso com o respaldo do presidente Leco. Ele está de acordo com nossa estratégia. O São Paulo passa por problemas financeiros que seriam facilmente resolvidos se a gente abrisse as portas para a venda desses jogadores, mas não é o que queremos. Não significa que jogadores desse elenco ou que estavam emprestados não possam ser negociados. Nosso planejamento é para que os meninos que estão jogando fiquem e se valorizem - completou Pássaro.

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