Junção de copeiros: Aguirre vê São Paulo na mira do título sul-americano

Técnico falou ao LANCE! que a união de seu estilo com a história do clube é a força para o bicampeonato na Sul-Americana, na qual o time estreia nesta quinta-feira, na Argentina

O técnico Diego Aguirre vai para seu sexto jogo no São Paulo
O técnico Diego Aguirre coloca o peso da camisa como uma das principais forças do São Paulo (William Correia)

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Na véspera da estreia do São Paulo na Copa Sul-Americana, nesta quinta-feira, às 21h30, contra o Rosario Central, Diego Aguirre recebeu o LANCE! na concentração da equipe, na Argentina, e conversou por meia hora sobre o que pretende para a competição. E ele tem certeza: seu estilo e a história "copeira" do Tricolor são as forças para o bicampeonato do clube no torneio.

- As grandes forças do São Paulo nesta Copa Sul-Americana são a camisa e os jogadores. Ambas as coisas. Temos de demonstrar na hora do jogo. Não gosto de falar muito antes do jogo, mas sou otimista. Quando apitar o juiz, aí começa a verdade. E o São Paulo é um time que, previamente, é um dos candidatos ao título. Temos de pensar assim - avisou.

Acostumado a jogos decisivos, como foram todos os seus cinco até agora pela equipe, por fases de mata-mata do Campeonato Paulista e da Copa do Brasil, Aguirre, aos 51 anos, não demonstra sentir qualquer tensão diante da pressão que o São Paulo sofre para voltar a ser campeão - o último título foi exatamente uma Sul-Americana, em 2012. Está convicto de que a equipe rumo em um caminho de sucesso.

Confira abaixo os motivos dados pelo técnico uruguaio para tanto otimismo:

Analisando o seu desempenho nesta década, você foi vice-campeão da Libertadores de 2011 pelo Peñarol, semifinalista da Libertadores de 2015 com o Inter, semifinalista da Copa Sul-Americana de 2016 pelo San Lorenzo e chegou às quartas de final das Libertadores de 2016 e 2017 por Atlético-MG e San Lorenzo. Nesse meio tempo, ganhou quatro copas pelo Al-Rayyan, do Catar, em 2012 e 2013. Qual é o segredo para ser copeiro assim?
O futebol hoje tem muitos times importantes e muitas decisões em mata-mata. Há alguns times que são copeiros. O São Paulo é copeiro, assim como Internacional, o Atlético-MG e o San Lorenzo são times grandes e que entram nas decisões. Estou acostumado, tenho experiência porque todos os anos tenho decisões de mata-mata.

O que faz um time ser copeiro?
A história, a camisa. Essa é a primeira coisa. Tem times que têm tradição. O São Paulo é um deles, como o Peñarol, do Uruguai, também. São times de tradição, copeiros. São clubes que precisam aspirar ser protagonistas e ganhar taças internacionais. É um desafio natural que tem de assumir. Não dá para aceitar ser o treinador do São Paulo e não pensar em ganhar uma copa internacional. Tem de pensar assim porque vai ter decisão.

Esse é o peso da camisa?
Sim. Da camisa e da história. E a camisa pesa mesmo. Tem uma coisa que é difícil de explicar: os times copeiros, muitas vezes, ganham jogos, até mesmo sem merecê-los, porque têm uma força espiritual, uma força que se gera no jogo que faz as coisas mudarem.

O São Paulo tem isso?
Tem. Talvez esteja um pouco adormecido, talvez esteja acontecendo alguma coisa assim. Mas, quando um time tão grande como o São Paulo, com tanta tradição, acorda, você pode esperar o máximo.

Então, dá para dizer que o São Paulo inicia a Sul-Americana para  ser campeão mesmo.
Não posso pensar em outra coisa. Se eu estivesse em um outro clube, sem tradição, que não fosse copeiro, talvez eu seria mais cauteloso. Não estou prometendo ganhar a Copa Sul-Americana, mas não tenha dúvidas de que essa é a nossa ambição. Temos de tentar ser campeões. A mesma coisa seria se estivéssemos na Libertadores. É uma obrigação histórica do São Paulo.

Tentando entender esse São Paulo copeiro, analisando os seus cincos jogos, o time finalizou mais e desarmou mais que o adversário em quatro. Isso é característica do time copeiro?
São bons esses dados que você está me passando. Eu não tinha pensado nisso. Acho que, no futebol, os times precisam tentar de tudo. Precisam defender bem, atacar bem, ser aguerrido e forte, nem mentalizado para enfrentar sempre finais e jogos decisivos. Precisa de tudo. A mentalização do jogador é fundamental. Sem isso, não se tem nada.

Essas são as características de time determinado que você prometeu?
Peço determinação e convicção para os jogadores nas competições. Tem de ter coragem e assumir as responsabilidades. Estamos tentando transmitir isso para os jogadores. São coisas que acho que o time está adquirindo e estão acontecendo. Parece que faz muito tempo que estou no São Paulo, mas temos três semanas, ou um pouco mais. Não é tanto tempo, mas estou sentindo que os jogadores estão se identificando com a ideia e estamos em um caminho certo. Temos muitas coisas para melhorar, mas sinto que estamos bem. Os jogadores têm aceitado bem os treinamentos e nossas ideias. O São Paulo está em um caminho bom. É isso que estou percebendo.

Para o seu estilo, é bom começar só com jogo decisivo?
Não (risos). Gostaria de ter outros jogos, não tão decisivos, jogos mais tranquilos. Mas não dá. Já chegamos com a temporada avançada e é assim mesmo. Temos os mata-matas da Copa do Brasil, da Copa Sul-Americana, e logo mais começa o Campeonato Brasileiro, que não é um torneio de mata-mata, mas todo jogo é decisivo, com muita pressão, e temos de começar bem.

No Brasil, chamamos de time cascudo aqueles que já estão prontos para decisões, não sentem a pressão e são difíceis de ser batidos. Para você, o São Paulo está nesse estágio?
Não posso falar que somos isso. Estamos trabalhando para ser um time forte, dedicado, para que a torcida vá para o campo e reconheça o esforço e a vontade do time. Também teremos de jogar bem, isso é claro, e ainda é uma coisa que não conseguimos. O time precisa jogar com mais liberdade. E isso ainda vai acontecer. 

O Rosario Central é um time copeiro?
É um time difícil, que joga com muita pressão. Eles têm pressão porque nunca ganharam uma taça internacional, uma Copa Libertadores ou Sul-Americana. A torcida quer isso, o maior objetivo do ano para eles é conquistar uma competição internacional. E isso deixa o jogo muito difícil. O estádio vai lotar, com fanáticos, e temos de respeitá-los como um time forte.

Falando em time copeiro, você se acostumou a chegar às fases finais de competições continentais, mas ainda não ganhou nenhuma. O que falta?
É que o futebol é assim. Nas competições, às vezes, você está tão perto de ganhar como de perder. O importante é ter essa vontade de ganhar, como tenho. Gosto desse desafio de ser campeão, ganhar uma taça, e não tenho decepção. Vou conseguir, em algum momento, um objetivo importante como ganhar uma taça internacional.

Alguns jogadores tiveram com a fase a melhor fase da carreira e não repetiram nem níveis parecidos depois, como o Martinuccio, que você comandou no Peñarol em 2011, e o Valdívia, no Inter, de 2015. Qual é o seu mérito nisso e que pode ser aplicado no São Paulo?
São momentos dos jogadores, e também são coincidências. Tento transmitir confiança ao jogador, dar coisas no dia a dia para que melhorem. Todos os treinadores querem isso. É verdade que muitos jogadores tiveram um rendimento espetacular trabalhando comigo, mas essas circunstâncias podem acontecer com qualquer treinador.

Mas você trata individualmente com os jogadores para conseguir isso?
Sim. Mas não tem uma fórmula. Há momentos em que você sente que precisa pegar o jogador, apoiar. O principal é dar coisas no treino, no dia a dia. Pode ter um pouco de bate-papo, mas, também, precisa dar no treino. Porque falar, falar e falar não é suficiente. Se o principal fosse falar muito, nós, treinadores, seríamos palestrantes para falar bonito. Não é assim. Você tem de fazer, dar dentro de campo trabalhos para o jogador melhorar.

O Renato Gaúcho, no Grêmio, vive citando o que fez como jogador para motivar o elenco dele. Você fez o gol do título da Libertadores do Peñarol em 1987, a última conquista do clube no torneio. Não usa isso nas conversas com o elenco?
Está claro que o Renato é um grande treinador e tem coisas que são espetaculares. Eu o respeito por ser um treinador com seus métodos e convicções, mas é só que posso falar, não sei o que faz ou deixa de fazer. Não gosto de falar de coisas que fizemos no passado. Cada treinador tem suas convicções e particularidades. Tenho as minhas. Não sei muito identificar meu estilo, mas, com certeza, transmito convicção e determinação para o time, dando coisas taticamente nos trabalhos para que que eles melhorem.

Você jogou pouco tempo pelo São Paulo, em 1990, ao lado do Raí, mas a situação era parecida pelas cobranças da torcida por título, não?
Era parecida, mas, naquela época, compartilhei história com muitos fenômenos. Só que eram fenômenos que ainda não tinham explodido, ninguém conhecia. Um, dois, três anos depois, foram fenômenos. Por isso falo que, do São Paulo, sempre se deve esperar que vai reagir, aparecer, acordar. É um gigante que está esperando esse momento, e nós queremos que isso aconteça.

No Inter, em 2015, você foi criticado por fazer um rodízio nas escalações. Pretende fazer esse rodízio no São Paulo?
Todos os times fazem o rodízio agora. O Grêmio foi campeão da Libertadores fazendo isso. Talvez, no momento em que fizemos, era novo. Mas agora não falam em rodízio, falam em preservar e outras coisas. Só que é normal. Na Argentina, fazem muito isso. Rosario jogou com reservas no fim de semana porque tem esse jogo contra o São Paulo. É natural, todos fazem isso. É uma coisa que acontece no mundo inteiro. Todas as competições são importantes. Temos de fazer o melhor para cada jogo. Vamos colocar em campo a equipe que acharmos melhor para cada jogo. Pode ter alguma mudança, porque o jogador que joga domingo, quarta e sábado passa a sentir fadiga. É normal que no próximo jogo, entre outro. É o melhor para o time. Temos um respaldo científico para isso, falamos com os fisiologistas, fazemos exames de sangue para ver o nível de recuperação. As decisões são tomadas levando em consideração esses aspectos. Se o jogador não está com um bom nível de recuperação, não vai jogar.

Na segunda-feira, contra o Paraná, na primeira rodada do Brasileiro, o São Paulo jogará com reservas? Três dias depois, tem jogo decisivo pela Copa do Brasil contra o Atlético-PR...
Não quero nem pensar nisso. Agora, estou pensando no Rosario, não quero saber do que vem depois. Não posso falar do jogo seguinte. Temos de ver o que vai acontecer.

Você tem mostrado otimismo, fala que o time está em um bom caminho. Quando estará engatado?
Espero que nesta quinta. Mas já está melhorando. Estamos perto dos resultados que nos darão a estabilidade para as coisas boas que estamos fazendo.

Quais são essas coisas boas? 
O mesmo que você viu, que a torcida viu, eu vi. O time está mais organizado, defendendo melhor, lutando, com atitude e dedicação. Essas coisas todas que não preciso falar, todos viram. Lógico que ainda falta um pouco de jogo, de qualidade, mais finalizações para que essas situações que acontecem na partida sejam resolvidas. Precisamos continuar trabalhando, porque sinto que isso vai acontecer.

Na sua apresentação, você se impôs como misso ter um time determinado, competitivo e com atitude. Acha que já atingiu isso?
Já estamos conseguindo. Depois, vamos jogar melhor, com certeza.

Com relação à seleção uruguaia, na qual você é bastante comentado, o que tem de real?
Isso é uma coisa que me falaram bastante. É uma realidade que pode acontecer, mas falei quando cheguei ao São Paulo: minha prioridade é o São Paulo. Não estou pensando na seleção. No futuro, talvez seja possível. Mas estou feliz aqui. Quero fazer um bom trabalho e cumprir o meu contrato (até dezembro). Este é o meu objetivo hoje. Depois, não sei o que vai acontecer.

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