Luiz Gomes: ‘Só um tolo pode acreditar que tudo isso são só tolices’

Está escrito no dicionário:

Tolo. Adjetivo masculino

Aquele que não tem inteligência ou juízo. o que é tonto, simplório, ingênuo, diz ou prática tolices.

Pois, para um dos advogados paraguaios que defendem Ronaldinho Gaúcho e seu irmão Roberto de Assis, presos na semana passada em Assunção, o ex-craque brasileiro não passa de um tolo, alheio a tudo, e que simplesmente teria sido enganado.

"A Justiça não levou em consideração que ele não sabia que estava cometendo um delito, porque não entendeu que lhe deram documentos falsos. Ele é tonto”, disse à reportagem da Folha de S.Paulo o advogado Adolfo Marín.

Haja tolice!!!

Ora, que não venham novamente com essa tese de que estamos diante de um pobre menino rico. Ronaldinho há muito não é mais um menino. É senhor do seu destino, dos seus atos. Atos, aliás, como esse de portar passaportes falsos, que frequentemente o levam das páginas de esporte para o noticiário de polícia.

O que aconteceu agora no Paraguai, as cenas chocantes da prisão - desconte-se o exagero de algemá-lo, um verdadeiro achincalhe diante das câmeras como se fosse o troféu de uma caçada - é uma história anunciada, já poderia ter acontecido antes, por aqui, dada a extensa folha corrida de processos e polêmicas em que ele se meteu ao longo da vida, desde o tempo de jogador, diga-se de passagem.

Vejamos, pois:

Ronaldinho é reincidente no uso de documentos falsos. Em 2001 o jogador foi flagrado com uma carteira de motorista falsificada, comprada por R$ 400 em Santa Catarina, sem ter feito qualquer exame prático. Por ter admitido o erro, não foi processado, teve a CNH apreendida, mas ainda assim continuou a dirigir, sendo novamente multado, três meses depois, por dirigir sem habilitação. Já em 2012, uma CPI descobriu irregularidades no contrato do Instituto Ronaldinho Gaúcho com a prefeitura de Porto Alegre, situação que foi aliviada pelas autoridades locais que consideraram erro e não fraude os problemas existentes no convênio.

A encrenca mais grave, porém, surgiu quando Ronaldinho e Assis foram autuados por danos ambientais pela construção de um trapiche e um ancoradouro às margens do Rio Guaíba em uma área de proteção permanente. Multados, se recusaram a pagar, tiveram os passaportes apreendidos e bens confiscados. A quebra do sigilo bancário revelou que o ex-jogador tinha apenas R$ 24 em conta corrente, num claro movimento de ocultação de patrimônio. Por fim, no ano passado, o ex-jogador e o irmão tiveram uma de suas empresas, a 18kRonaldinho, envolvida numa denúncia de pirâmide financeira. A dupla virou réu em uma ação civil de R$ 300 milhões por danos morais e materiais impetrada pelas vítimas.

Só um tolo pode acreditar que tudo isso são só tolices.

Ronaldinho é uma celebridade mundial. Em Barcelona, onde viveu os melhores momentos de sua carreira, é tratado como um Deus. Tem portas abertas em qualquer lugar do mundo - o que lhe valeu o título de embaixador do turismo brasileiro, concedido pelo governo de Jair Bolsonaro, mesmo estando com o passaporte apreendido. Por seu talento com a bola nos pés virou personagem de história em quadrinhos, tema de enredo de escola de samba. Não é o primeiro nem será o último a jogar fora sua biografia ao confundir a fama com o poder de fazer o que bem entende acima da lei e dos princípios da boa conduta.

Não se sabe o que ainda virá à tona da aventura paraguaia de Ronaldinho e Assis. Segundo o promotor que cuida do caso, investigações estão em curso sobre crimes talvez mais graves do que o uso de documentos adulterados. A propósito, vale lembrar aqui que o dicionário apresenta ainda um outro significado para a palavra tolo.

Tolo: substantivo masculino.

Sepultura pré-histórica; rotunda com uma cúpula em forma de taça invertida.

Que em uma dessas Ronaldinho não enterre sua história de uma vez por todas.