Dez anos do Hexa: Angelim expõe ‘loucura’ de Andrade e bronca em Airton que o ajudou a marcar o gol

Há exatos dez anos, o zagueiro desviou a cobrança de escanteio de Petkovic, garantiu a vitória diante do Grêmio, e o Flamengo conquistou o Hexa do Campeonato Brasileiro

Gol do Ronaldo Angelim - Flamengo x Grêmio 2009 (Foto: Sergio Moraes/Reuters)
Ronaldo Angelim comemora o gol do Hexa, no Maracanã, contra o Grêmio (Foto: Sergio Moraes/Reuters)

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"Bonita foi a festa, do Hexa com o Imperador... O gol do Angelim, no escanteio que o Pet cobrou!"

A campanha do Hexa do Flamengo, em 2009, é inspiração para música nas arquibancadas do Maracanã e completa exatos dez anos nesta sexta-feira. Em 6 de dezembro, com gols de David Braz e Ronaldo Angelim, o time da Gávea virou para cima do Grêmio, no Rio, e levantou a taça do Brasileirão após 17 anos. Título que, meses antes, sequer era cogitado pela torcida e jogadores.

Mais do que improvável, a possibilidade de ser campeão foi vista como loucura ao ser citada pelo técnico Andrade, a sete rodadas do fim do Brasileirão, por pelo menos atleta: Ronaldo Angelim, que viria a ser o herói do Rubro-Negro.

- Foi feita uma reunião, na Gávea, para a gente se livrar do rebaixamento, fazer os 45 pontos. Isso foi quando o Andrade assumiu. Não pensávamos em ser campeões, mas os resultados começaram a vir. A partir disso, passamos a acreditar um pouco mais. Quando faltavam sete jogos, o Andrade fez mais uma reunião e nos mostrou os sete jogos que faltavam e disse: "Rapazes, nós vamos ser campeões" - contou o zagueiro rubro-negro, antes de revelar sua reação: 

- Eu não quis dizer nada na hora, mas pensei comigo mesmo: "Esse cabra é doido. Esse cabra é doido! - relembrou Angelim, em meio aos riosos, ao LANCE!.

Angelim tinha seus motivos para desconfiar da possibilidade do título. Afinal, a sete rodadas do fim do Brasileirão, o Flamengo está na quinta posição da tabela, com 51 pontos, atrás do São Paulo (52), Internacional (52), Atlético-MG (53) e Palmeiras (54). Com cinco vitórias, um empate e uma derrota, o time de Andrade contou com os tropeços dos rivais para alcançar o primeiro lugar.

'Pela dificuldades dos jogos que tínhamos,  dos locais, e ele nos dizendo que a gente tinha chance de ser campeão? Eu respeitei, mas, naquela hora, não acreditava que a gente seria campeão', relembra o zagueiro.

O lance que garantiu o Hexa ao time da Gávea não sai da cabeça dos rubro-negros, muito menos de Ronaldo Angelim. As cobranças de escanteio do meia Petkovic, como a daquela tarde no Maracanã lotado, eram praticadas quase diariamente pelo grupo, lembra o ex-zagueiro.

O que não estava combinado era a bronca de Angelim em Airton, momentos antes da batida de Pet. Líder do elenco, o zagueiro foi ao meio de campo dar força ao meia, com câimbras, e convencê-lo de ficar em campo. Assim, o camisa 4 chegou "atrasado", e livre, na área para fazer o gol.

- Os escanteios do Pet eram sempre batido na direção do gol. É a batida correta. Eu treinava de passar na frente do goleiro, atrapalhar um pouco, porque a batida dele era muito boa. No lance, acabei fazendo o gol porque o Airton estava sentindo câimbras no meio de campo. Eu fui reclamar com o Airton. dizendo que ele não sairia do jogo, que ia ficar até o final. Ele estava bem no jogo. Era um dos nossos jogadores mais perigosos no jogo, então fui dizer a ele que ele não sairia. Então acabei me atrasando para chegar na área e ninguém me marcou. O Pet bateu, acabei entrando livre e fiz o gol - relembrou.

Titular em 36 das 38 rodadas daquele Brasileirão, Ronaldo Angelim é um dos grandes símbolos daquela conquista e tem passagem marcante pelo clube da Gávea. Foram 285 partidas entre fevereiro de 2006 e novembro de 2011, período no qual marcou 17 gols. Além do Brasileirão de 2009, o camisa 4 conquistou a Copa do Brasil, em 2006, e os Campeonatos Cariocas de 2007, 2008, 2009 e 2011. Rubro-negro de coração e presença constante no Maraca, nos jogos do Flamengo, Ronaldo Angelim costuma ser ovacionado pela Nação.

Confira outras respostas de Ronaldo Angelim, campeão brasileiro pelo Flamengo em 2009:

Como o grupo reagiu à possibilidade de título destacada por Andrade?

Eu pensei comigo, mas sempre temos que acreditar nas palavras de uma pessoa vencedora como o Andrade. Pelos jogos que ele colocou no quadro, nós dependíamos muito do Adriano e do Petkovic, Léo Moura e Juan, nosso grupo era mais de marcação, jogando nos contra-ataques. Nós jogávamos para não tomar gol, diferente da equipe desse ano. Um time que ganhou sem sofrer, com tranquilidade. Nosso time não, foi com uma arrancada do meio para o final, estávamos brigando contra o rebaixamento e tínhamos uma forma de jogar bem diferente. A gente marcava para sair nos contra-ataques, dependendo muito do Adriano e do Pet. E, realmente, eles resolveram o campeonato.

E quanto à integração do Petkovic ao elenco? Como foi essa situação?

Não foi só o Pet. Ele voltou, todos sabiam que foi para descontar a dívida que o Flamengo tinha com ele. Ele não veio com aquela expectativa de jogar. Só que, quando o Andrade assumiu, ele sabia que o Pet era importante e puxou ele para junto dos jogadores. Acho que os dois tiveram uma conversa, que ele jogaria até o final, se ele rendesse ou não. Ele e Zé Roberto teriam oportunidades e foi ali que começaram a jogar e, graças a Deus, o Pet jogou como nunca. Foi muito importante, mas a gente abraçou ele, levamos junto com o grupo. Não faltava apoio e confiança do grupo e do Andrade. Ele e Adriano destruíram aquele campeonato.

Aquela cabeçada, desviando a cobrança de Petkovic, virou até música. É o momento mais marcante, o gol mais importante da carreira de Angelim?

Eu fiz um bom trabalho no Flamengo, cheguei a fazer outros gols, mas nenhum com o peso de um título brasileiro. Fiz em semifinal contra o Vasco, em semifinal contra o Botafogo, gol de vitória em Copa do Brasil... Mas a gente sabe que não teve a mesma importância desse. É como o Flamengo agora, que ganhou o Brasileiro, mas todos sabem que a Libertadores é muito mais importante. Há muito tempo que não ganhávamos. Pode ter certeza que, com esses dois gols (na final da Libertadores), o Gabigol está eternizado na história. Em 2009, estávamos quase 20 anos sem vencer o Brasileiro, então é um gol que jamais vou esquecer. Está eternizado.

Como foram as horas após a conquista para o título? O Rio de Janeiro estava em festa...

Eu fiquei no doping após o jogo, demorei muito a sair do Maracanã e fui direto para a Gávea esperar a minha ex-mulher me pegar lá. Estava de chinelinho de dedo, mochilas nas costas, e esperando ela. A reportagem da Globo estava procurando onde seria a festa e me encontrou lá naquela situação. Já era tarde da noite, ninguém mais chegou a ver. Fizemos a matéria e fui para casa dormir.

Nesse momento especial que o Flamengo está vivendo, qual recado você deixaria para a Nação?

Primeiro temos que agradecer à torcida do Flamengo. Se o clube é essa potência de hoje é graças ao torcedor, que entendeu que precisava se associar e abraçou a causa. O clube, hoje. está muito bem organizado, tem uma estrutura, e está deixando um monte de clube brasileiro assustado. Isso é por conta da torcida, entendeu o recado, vem fazendo seu papel. Tenho certeza que daqui para frente o Flamengo será disso para melhor. Vamos entrar para ganhar todos campeonatos, mas não apenas por conta dos jogadores, mas também por conta da torcida. Só temos a agradecer à torcida por levar o Flamengo ao patamar que está hoje.

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