Palmeiras x Flamengo: da crise à reconstrução, rivais assumem protagonismo na América do Sul
Finalistas da Libertadores passaram por reformulação nos últimos anos

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Finalistas da Libertadores, Palmeiras e Flamengo passaram por processos de reconstrução financeira que redefiniram os rumos esportivos e administrativos. A partir de 2013, os dois clubes deixaram para trás cenários de crise, reorganizaram dívidas, ampliaram receitas e adotaram modelos de gestão que os transformaram nos principais centros de investimento do futebol brasileiro.
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O resultado desse movimento sustentado por planejamento, controle orçamentário e aumento gradual da capacidade de investimento se reflete em títulos nacionais e continentais, elencos competitivos e presença constante nas decisões. Em 2025, Alviverde e Rubro-Negro disputam não só a Glória Eterna, mas a honra de ser o primeiro clube brasileiro tetracampeão da Libertadores.
Da Série B ao Maior Campeão do Brasil: o Palmeiras ressurge
Quem viveu os anos caóticos do Palmeiras no início deste século talvez nem imaginasse que o clube viveria os anos de glória que hoje celebra. O fim da Era Parmalat em dezembro de 2000 obrigou o clube a superar um complicado período de reconstrução política e administrativa, que fez com que as taças ficassem distantes das disputas por um período, ainda que o Verdão tenha chegado à final da Libertadores de 2001.
Em dez anos, o time viveu um período difícil de se imaginar: caiu duas vezes para a Série B do Campeonato Brasileiro, em 2002 e 2012. Entre os anos dessa década, no entanto, em 2005, o time voltou a disputar o torneio continental. E, em 2006, o ídolo Edmundo e o então desconhecido chileno Jorge Valdivia reforçaram o elenco e foram peças fundamentais para o início de uma nova fase alviverde, que terminou com o fim do jejum de títulos, em 2008, ao conquistar o Paulistão.
Os anos seguintes do Verdão foram marcados por um Brasileirão, em 2009, que escapou de suas mãos mesmo após liderar grande parte do torneio, além do retorno de Luiz Felipe Scolari, em 2010, em um ano marcado também pela despedida do Estádio Palestra Itália, que mais tarde viraria o moderno Allianz Parque.
Depois de quase cair em 2014, o presidente Paulo Nobre iniciava seu segundo mandato frente ao Palmeiras sob pressão. Apesar dos resultados positivos financeiramente, faltava algo que o torcedor cobrava: títulos. E foi então que entrou Alexandre Mattos, responsável por montar os elencos do então bicampeão brasileiro em 2013 e 2014, o Cruzeiro.
Foi o início da virada do Palmeiras, que contou com as rendas do Avanti, do início positivo nas bilheterias do Allianz Parque e posteriormente com o dinheiro da patrocinadora Crefisa para retornar aos momentos de glória.
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Ao todo, a gestão contratou 38 jogadores, sendo Dudu o principal astro daquela gestão. Começou a funcionar. A partir daí, a conquista da Copa do Brasil, em 2015, e do Brasileirão, em 2016, abriram espaço para uma sequência que marcou a reconstrução alviverde.
Nobre deixou o comando do Palmeiras em dezembro e, por amor, injetou mais de R$ 200 milhões nos cofres, mas receberia o valor do empréstimo depois, já que, aos poucos, o time passou a viver com folga financeira. Foi então que Mauricio Galiotte, então seu vice, assumiu o Palmeiras.
Nesta altura, o Palmeiras já tinha um bom patrocínio da Crefisa (R$ 78 milhões por ano), além das rendas de bilheteria e sócio-torcedor que aumentavam. Além disso, contou com a boa venda de Gabriel Jesus, iniciou uma reforma na Academia de Futebol e os areas foram mudando gradativamente. Vale lembrar que foi neste período que chegou o técnico mais vencedor da história do clube: Abel Ferreira, que lidera o time há cinco anos com um poder mental que pouco se vê no cenário mundial.
A próxima mandatária alviverde fez e faz história. Primeira mulher na presidência do Palmeiras, Leila Pereira chegou para colher os frutos de seus sucessores e, é claro, dar continuidade aos momentos de glória. O mandato da então dona da maior patrocinadora do clube teve início em 2021.
Desde então, Leila Pereira, que foi reeleita há um ano, bate de frente com sistema, faz críticas necessárias ao futebol brasileiro, defende o clube de forma coerente e mantém o alto padrão em que o Palmeiras chegou, o que inclui a valorização - e vendas astronômicas - das categorias de base.
Nesta última década, o Verdão arrematou 14 títulos, que incluem duas Libertadores, duas Copas do Brasil e quatro Brasileiros. Vendeu jogadores como Endrick e Estêvão, fez contratações históricas como a de Vitor Roque e busca mais, pois sabe que pode mais.

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Os frutos da paciência: o processo de reconstrução do Flamengo
O processo de reorganização financeira que transformou a situação do Flamengo ao longo da última década começou na gestão de Eduardo Bandeira de Mello, que assumiu o clube no fim de 2012. O então presidente foi eleito com a promessa de focar na redução do endividamento e na recuperação da credibilidade no mercado.
Em entrevista ao Lance! em junho deste ano, Bandeira relembrou a estratégia adotada no início da gestão. Ele contou que muitos questionaram os baixos investimentos diretos no futebol do clube, mas considera um dever ético e moral estruturar o Rubro-Negro e dar exemplo para os outros.
— Tínhamos a missão de fazer um trabalho de base, um trabalho de responsabilidade e com foco no longo prazo. Quando a gente chegou, o Flamengo vivia aquela situação caótica, catastrófica. Eu deixei bem claro no meu discurso de posse que, apesar de a gente ter um passivo financeiro enorme, que a gente não sabia nem o tamanho, eu estava mais preocupado com o passivo ético e moral. O Flamengo era um clube que não dava um bom exemplo aos seus mais de 40 milhões de torcedores. Era um clube que praticava apropriação indébita, que atrasava salário, que tinha um passivo trabalhista enorme — afirmou o ex-presidente do Fla.
Para Bandeira, o torcedor não só entendeu o momento do clube, mas sentia as dores das "derrotas" fora de campo.
— Alguns podem até não entender, mas isso machuca o torcedor também. Nós, torcedores do Flamengo, detestamos quando o clube perde dentro de campo. Mas também detestamos quando o clube perde fora de campo. Para mim, você abrir o jornal e ver que o Flamengo foi despejado do centro de treinamento por falta de pagamento dói tanto quanto uma derrota para o Vasco, Botafogo ou Fluminense — completou.
Entre 2013 e 2015, o clube priorizou o pagamento das dívidas, que chegavam a mais de R$ 737 milhões em 2012, sendo R$ 400 milhões referentes a encargos fiscais. Em campo, o Flamengo montou um elenco mais barato e passou longe de grandes campanhas no Brasileirão. Por outro lado, o Mais Querido conquistou a Copa do Brasil ainda no primeiro ano da gestão Bandeira, título que deu sustentação à estratégia.
As receitas subiram de R$ 208 milhões para R$ 267 milhões naquele ano, impulsionadas pelo lançamento do programa de sócios-torcedores e pelo crescimento da arrecadação com torcida, que saltou de R$ 25 milhões para R$ 83 milhões. O clube também reforçou as áreas de marketing e comercial, fechando 2014 e 2015 com mais de R$ 115 milhões por ano nessas frentes. A dependência de cotas de TV caiu de 55% do faturamento em 2012 para 37% em 2015.
Além de arrumar a casa financeiramente, o Flamengo passou a investir na estrutura do clube. O Lance! conversou com Adryan, revelação rubro-negra em 2011, quando o clube conquistou a Copa São Paulo de Futebol Júnior. O meia-atacante, que passou a integrar o elenco profissional no fim da gestão da presidente Patrícia Amorim, relembrou as condições de trabalho na época.
— Em 2011, a gente tocava de roupa em contêineres bem grandes. Não era ruim, mas eram containers. A gente tinha que atravessar uma estrada de barro, não tinha asfalto, não tinha nada. Tinha muito buraco, muito mato no meio do CT — contou.
A carreira de Adryan com a camisa rubro-negra não deslanchou como esperado, e o meia passou por diversos empréstimos. No entanto, ele pôde observar a revolução feita na estrutura do clube ao longo da última década. Ao final de 2016, o Fla inaugurou o centro de treinamento George Helal.
— Em 2016, já era muito mais organizado, tudo asfaltado, até o o caminho era diferente. Um campo que não era nem utilizado em 2011 virou o campo principal. Montaram um hotel na frente do campo, com academia. Tudo que você fazia, você tinha acesso ao campo. Mesmo se você estivesse lesionado ou não fosse ao campo para fazer o treino na academia, você conseguia acompanhar o treino. Então você sempre estava participando de tudo, muito bem estruturado — completou.
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A partir de 2016, com Bandeira reeleito, o Flamengo aumentou os investimentos no futebol e trouxe jogadores como Diego, Everton Ribeiro e Vitinho. Entre 2016 e 2018, o clube arrecadou R$ 718 milhões com direitos de transmissão e mais R$ 217 milhões com negociações de atletas, incluindo a venda de Vini Jr. ao Real Madrid por 45 milhões de euros (R$ 164 milhões na cotação na época) em 2017.
Ao mesmo tempo, o endividamento caiu para R$ 455 milhões ao fim de 2018. A dívida bancária, que havia atingido R$ 162 milhões em 2015, baixou para R$ 25 milhões três anos depois. Os débitos trabalhistas também diminuíram: de R$ 193 milhões em 2012 para R$ 60 milhões em 2018, com redução significativa no número de ações na Justiça do Trabalho.
Já sob a presidência de Rodolfo Landim, a reestruturação do Flamengo chegou a uma nova fase. Em 2019, o clube adotou postura agressiva no mercado e contratando nove reforços, entre eles Gabigol, Bruno Henrique, Arrascaeta, Rodrigo Caio, Gerson, Rafinha, Pablo Marí e Filipe Luís.
Mesmo com aumento do endividamento para R$ 574 milhões, o Rubro-Negro fechou 2019 com faturamento de R$ 652 milhões e R$ 295 milhões obtidos com vendas de atletas. A combinação entre forte investimento e reorganização administrativa precedeu as conquistas da Libertadores, do Brasileirão e do Carioca na mesma temporada.
A partir daquele ano, o Fla de estabeleceu como protagonista do futebol brasileiro dentro e fora de campo. Desde 2019, o time já conquistou 13 títulos, sendo duas Libertadores, dois Campeonatos Brasileiros, duas Copas do Brasil, três Supercopas do Brasil e quatro Cariocas. Neste ano, sob a gestão de Luiz Eduardo Baptista, o clube somou R$ 1,56 bilhão em receitas em nove meses, já o suficiente para quebrar o recorde de maior faturamento da história do futebol brasileiro.

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Diferenças e semelhanças nas reconstruções de Palmeiras e Flamengo
Apesar de dividirem o protagonismo no futebol brasileiro nos últimos anos, Palmeiras e Flamengo seguiram caminhos um tanto quanto diferentes para chegar ao topo. Ao Lance!, o jornalista e mestre em negócios do esporte, Rodrigo Capelo, comparou a trajetória dos dois clubes desde o endividamento até as receitas bilionárias.
Para Capelo, a principal diferença das reconstruções dos rivais foi a presença de Paulo Nobre no Alviverde. Segundo especialista, o então presidente palestrino atuou como "CEO informal" do clube, ajudando-o financeiramente e profissionalizando a organização.
— Os dois começaram ao mesmo tempo, porque o Palmeiras começa em 2013 com o Paulo Nobre e o Flamengo começa em 2013 com o Eduardo Bandeira de Mello. A diferença é que o Palmeiras começa com um presidente que era uma espécie de CEO informal do Palmeiras, que profissionaliza radicalmente o clube, que tem uma injeção de dinheiro de mecenato. Ele empresta a fortuna dele para o Palmeiras dar conta das dívidas de curto prazo, das emergências, enquanto o Flamengo tinha uma dívida muito maior — analisa o especialista.
Por outro lado, Capelo explica que o Rubro-Negro contou com um crescimento rápido das receitas, apoiado em novos acordos comerciais e no programa de sócio torcedor.
— O Flamengo vai pela linha do crescimento de receitas muito rápido. Então, em 2013, a Adidas assume, O Flamengo fecha com Peugeot, fecha novos patrocínios, depois viria a Caixa. O comercial cresce muito rápido. As receitas de torcida, estádio, sócio-torcedor cresceram muito rápido. Então, o Flamengo passou a arrecadar muito e muito rápido e conseguiu, como mérito do clube, controlar os gastos. Em 2013, ganhou a Copa do Brasil, mas foi no sufoco.
Capelo explica que, apesar de terem iniciado o processo de recuperação praticamente juntos, o Verdão foi o primeiro a atingir sucesso esportivo. Segundo ele, isso aconteceu porque a dívida palestrina era menor que a rubro-negra.
— O Palmeiras, por ter tido uma dívida mais baixa e um presidente que entrou e resolveu mais rápido, teve um crescimento esportivo mais rápido que o Flamengo. Então, o Palmeiras já em 2015 foi campeão, 2016, 2017, e daí em diante passou a voar. Então, os dois fizeram caminhos diferentes, mas chegaram no mesmo lugar, que é essa competitividade absurda que os dois têm e quase uma hegemonia já, porque todo ano é ou Palmeiras ou Flamengo. Você sabe que um dos dois vai ganhar alguma coisa — conclui.

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