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Dia das Mães: os desafios pré e pós-parto de atletas profissionais

Pri Heldes e Sole Jaimes contam suas experiências no período

imagem cameraPri Heldes (Foto: Mailson Santana/ Fluminense FC)
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Guilherme Lesnok
São Paulo (SP)
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Giselly Correa Barata
São Paulo (SP)
Dia 11/05/2025
05:00
Atualizado há 1 minutos

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Uma imagem durante a Superliga de Vôlei Feminino chamou a atenção do Brasil: grávida de cinco meses, a levantadora Pri Heldes foi uma das protagonistas do Fluminense em quadra na partida contra o Sesi-Bauru, no dia 10 de abril. À época, questionada sobre os riscos de atuar grávida, a jogadora explicou que estava sendo acompanhada por uma médica e recebeu liberação para continuar em atividade, o que permitiu que seguisse ajudando sua equipe com segurança.

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A cena gerou grande repercussão e levantou questionamentos sobre saúde e segurança no esporte de alto rendimento durante a gestação. A presença de Pri Heldes em quadra não apenas quebrou paradigmas, mas também abriu espaço para um debate importante sobre os limites, cuidados e possibilidades para atletas grávidas em competições profissionais.

Com esse contexto, o Lance! reuniu três personalidades do esporte para falar sobre a gestação no alto rendimento: Tathiana Parmigiano, ginecologista, obstetra e pós-graduada em Medicina Esportiva, que atua como ginecologista do Comitê Olímpico do Brasil; a própria Pri Heldes, atleta de vôlei do Fluminense; e Sole Jaimes, jogadora de futebol com passagens por Santos e Flamengo e atualmente no 3B da Amazônia, que foi mãe recentemente.

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A medicina e os desafios da gravidez para atletas

Tathiana Parmigiano explicou que os treinos para uma gestante atleta devem se basear em três pilares: aeróbio, resistido e fortalecimento do assoalho pélvico. 

- Os treinos para uma gestante, especialmente para uma jogadora, devem ter três pilares: um exercício aeróbico, um exercício resistido e exercícios para a musculatura do assoalho pélvico. No caso de uma atleta, dentro do exercício aeróbico, ela pode continuar correndo, por exemplo. Pode ir para a academia, fazer bicicleta, transport ou escada. Não há nenhuma limitação em relação ao que ela já estava acostumada, principalmente a corrida. O que vamos adaptar é a intensidade: a ideia é que ela treine em uma intensidade moderada, ligeiramente difícil, em que consiga conversar durante o exercício — esse é um parâmetro muito importante. Além disso, os treinos devem, preferencialmente, durar até uma hora. Ao longo da semana, é recomendável uma divisão: ela pode fazer exercício aeróbico todos os dias e incluir um segundo treino, de preferência em outro período, como de musculação ou funcional - comenta Tathiana Parmigiano.

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Ela destaca que a gestação de uma atleta de alto rendimento exige atenção redobrada, mas não necessariamente um protocolo diferente do de gestantes que não praticam esporte em nível profissional. O ponto central, segundo ela, está na manutenção de uma rotina segura de exercícios, respeitando os limites do corpo e a individualidade de cada caso.

Dra. Tathiana Parmigiano (Foto: Divulgação)
Dra. Tathiana Parmigiano (Foto: Divulgação)

A prática de esportes de alto rendimento pode causar desequilíbrios hormonais nas atletas, e esses impactos não se limitam ao período pós-carreira. De acordo com a médica Tathiana Parmigiano, fatores como a carga de treinamento e a alimentação inadequada afetam diretamente o eixo hormonal das esportistas. 

- Existe impacto hormonal, sem dúvida nenhuma, não só nas atletas, mas nas esportistas, elas estão suscetíveis a isso. O padrão nutricional, a gente chama de disponibilidade energética, que leva em consideração o que uma atleta consome, o que ela gasta. Você tem que ter um equilíbrio energético para você ter um eixo hormonal funcionando. Então, muitas vezes, a associação de um volume de treino com uma dieta inadequada pode levar a alterações hormonais, que podem até mesmo impactar na fertilidade dessa atleta - comenta. 

Quando a gestação se torna uma realidade, novas dúvidas surgem: o que muda na rotina médica dessa mulher? A prática de exercícios é segura? Há necessidade de exames específicos? A doutora Tathiana esclarece os impactos hormonais que podem ocorrer mesmo antes da gravidez e detalha os cuidados necessários durante o pré-natal de uma atleta.

- A rotina de pré-natal de uma gestante-atleta, ela não exige nenhum outro exame diferente de uma paciente normal. Ela só tem que ser constantemente incentivada a prática de exercício e se entender que ela tá praticando de uma maneira segura. Então, como eu falei, existe uma intensidade que vai ser preconizada com o que ela fazia antes, o tipo de exercício que ela fazia, o tempo de duração desse treino, que a gente limita geralmente até uma hora e a frequência ela tá autorizada a fazer praticamente todos os dias. A gente acaba sempre pedindo pra pelo menos um dia de descanso, mas se ela tá habituada e se ela tiver desejo de treinar todo dia, isso pode acontecer com segurança. Mas em relação a pedido de exames de sangue, urino e ultrassom, isso não vai diferir - explica. 

A nova vida de Pri Heldes

Pri já passou por importantes clubes brasileiros como Vôlei Amil, Brasília Vôlei, Sesi-SP, Osasco/Audax, Itambé/Minas e Gerdau/Minas. Em 2023, retornou ao Fluminense, onde já havia jogado em 2016, e foi nomeada capitã da equipe para a temporada 2023/2024.

Com restrições claras, como evitar quedas de barriga, Pri precisou repensar suas movimentações e ajustar a forma de defender e atacar sem comprometer a saúde da gestação. 

- É, o estilo de jogo não deu para manter totalmente normal. O que eu precisei adaptar foram as posições para cair, né, para defender, porque uma das restrições médicas era não cair de barriga. Assim que soube da minha gestação, isso já foi cortado. Então, eu só caía de ladinho e, quando sentia que realmente não dava para pegar a bola, eu não ia, não ia mesmo. Tentei melhorar a minha leitura de defesa para evitar justamente esses movimentos. De resto, foi bem tranquilo. Acho que, com o tempo e com os profissionais que eu tinha lá no Flu, conseguimos adaptar algumas coisinhas conforme a barriguinha foi crescendo — principalmente na academia. Alguns exercícios foram adaptados e também incluímos alguns períodos de descanso a mais, para dar uma equilibrada e conseguir ter a semana cheia e chegar bem nos jogos. O que precisou de adaptação foi somente isso. De resto, foi tudo normal - disse Pri.

Pri Heldes (Foto: Mailson Santana/ Fluminense FC)

Uma das principais dificuldades enfrentadas por Pri Heldes durante a gravidez foi o aumento do cansaço. Mesmo com toda a preparação física e mental adquirida ao longo da carreira, a gestação trouxe um desgaste maior, tanto físico quanto psicológico.

- Eu me sentia mais cansada. Isso era bem nítido, assim. Sentia que, depois dos treinos, não só fisicamente, mas mentalmente, eu estava exausta. É como se eu usasse toda a minha energia naquele momento do treino, naquele momento do jogo, né? Então, quando acabava, eu ficava realmente esgotada — até mais psicologicamente. Mas, dentro da quadra, como acho que nossa cabeça já é tão preparada, o nosso mental já é tão treinado para esses desafios, eu não sentia dificuldade. Acho que, pela experiência e maturidade que eu tenho, já sei alguns atalhos do jogo, da quadra, então isso também me ajudou nesse momento a conseguir fluir da mesma maneira. Minha experiência foi um ponto muito a meu favor, e consegui usar isso bem - detalhou.

A gestação de Pri Heldes também trouxe consigo uma sensação de medo e preocupação, principalmente em relação à segurança e ao bem-estar do bebê. Esse medo, no entanto, não a paralisou, mas a tornou ainda mais vigilante e atenta aos detalhes do seu trabalho e da sua rotina diária.

- Ah, medo sim. Acho que é aquele medo que te deixa mais em alerta, né? Esse medo me deixava mais atenta, mais cuidadosa, principalmente com a logística do dia a dia. Nada que me travasse ou me impedisse de fazer meu trabalho, mas era aquele medinho que fazia eu me preocupar mais, ficar mais atenta a todas as situações - finalizou. 

Mães e atletas: a dupla-jornada de Sole Jaimes e Kelly Chiavaro

A maternidade sempre fez parte dos planos do casal Sole Jaimes. A missão é dividida com a esposa, Kelly, goleira de nacionalidade canadense e italiana. Hoje, ambas defendem o 3B da Amazônia, clube que disputa a Série A1 do Brasileirão Feminino. Desde a chegada de Aurora, em janeiro de 2024, a vida do casal mudou — e se fortaleceu.

— Uma das principais coisas em que concordamos, ainda antes da gestação, foi que a Aurora seria a nossa prioridade. Mas também estávamos dispostas a fazer sacrifícios para encontrar um equilíbrio entre sermos mães e seguirmos construindo uma carreira de sucesso — conta Sole.

Aurora e Sole Jaimes (Foto: Divulgação)
Aurora e Sole Jaimes (Foto: Divulgação)

Sole Jaimes gerou Aurora e teve cinco meses de licença-maternidade. Kelly, por sua vez, não se afastou do trabalho, mas recebeu apoio do Santos, clube que defendia na época.

— Quando a Aurora nasceu, eu estava no Flamengo, e o apoio que recebi foi muito maior do que eu poderia imaginar. Desde o anúncio da gravidez até hoje, recebo carinho e suporte das companheiras, do clube e da comissão técnica — lembra Sole.

Aurora cresceu cercada por cuidado, afeto e uma rede de apoio. Ganhou “tias” por onde passou. A babá Cida ainda hoje acompanha as viagens do time e é peça fundamental na rotina.

— Dizem que é preciso uma aldeia para criar uma criança e nós realmente temos uma aldeia incrível ao nosso lado — resume Sole, citando um provérbio africano. — Quando o clima e o horário permitem, a Aurora vai a quase todos os jogos! Ela adora estar no vestiário, dançar com as meninas, brincar com a bola ou passear com o nosso presidente do clube, João Bosco Brasil Bindá — completa a jogadora.

Se a filha seguir os passos das mães, Sole espera que ela encontre um cenário mais estruturado e inclusivo no esporte. Como tantas atletas, a atacante argentina começou jogando com meninos, mas acredita que a realidade é outra e a evolução tende a continuar.

— Meninas como a Aurora podem ter jogadoras como ídolos, e isso mostra o quanto o esporte evoluiu. Ainda assim, sei que há muito a ser feito, principalmente na América do Sul. Espero que, se ela seguir esse caminho, encontre um ambiente que a respeite como atleta e como pessoa — conclui.

Sole Jaimes, sua esposa Kelly e Aurora (Foto: Divulgação)
Sole Jaimes, sua esposa Kelly e Aurora (Foto: Divulgação)

E o pós-parto?

O período pós-parto representa uma fase de profundas transformações físicas e emocionais para a mulher, especialmente quando ela é atleta e deseja retomar sua rotina de treinos. A recuperação do corpo após o parto envolve não apenas o tempo de cicatrização, mas também aspectos como sono, aleitamento, adaptação à nova rotina com o bebê e o impacto hormonal. Nesse contexto, o retorno à prática esportiva deve ser cuidadosamente planejado, respeitando os limites individuais e considerando as especificidades de cada caso.

- O retorno pós-parto vai impactar muito o que ela fez de exercício durante a gestação. Eu costumo dizer que o retorno depende de como foi a gestação, se ela se manteve ativa, o ganho de peso que ela acabou tendo nesse período, é isso que vai acabar determinando, e isso muitas vezes depende até mesmo da via de parto. Se é uma mulher que fez exercício durante a gestação, se ganhou pouco peso, ela vai ter um retorno muito mais precoce e rápido do que quem realmente não se manteve ativa. A gente não pode esquecer que existe um destreinamento durante a gestação, principalmente no caso de atletas, então esse retorno tem que ser gradual até mesmo para evitar lesões ortopédicas - disse doutora Tathiana Parmigiano.

A via de parto — seja cesárea ou vaginal — tem influência significativa no tempo e na forma como essa retomada acontece. Embora o senso comum aponte a cesárea como uma recuperação mais lenta por se tratar de uma cirurgia, partos vaginais que exigem sutura também demandam cuidados. Além disso, fatores como o condicionamento físico durante a gestação, o ganho de peso e a manutenção da atividade física ao longo dos nove meses influenciam diretamente na agilidade e segurança desse retorno aos treinos.

- Existe impacto hormonal, sem dúvida nenhuma, não só nas atletas, mas as esportistas, elas estão suscetíveis a isso. O padrão nutricional, a gente chama de disponibilidade energética, que leva em consideração o que uma atleta consome, o que ela gasta. Você tem que ter um equilíbrio energético para você ter um eixo hormonal funcionando. Então, muitas vezes, a associação de um volume de treino com uma dieta inadequada pode levar alterações hormonais, que podem até mesmo impactar na fertilidade dessa atleta - explica.

Com experiência no acompanhamento de atletas de alto rendimento, Tathiana Parmigiano destaca os cuidados, desafios e possibilidades de um retorno seguro às atividades físicas logo nas primeiras semanas após o nascimento do bebê. A seguir, ela responde às principais dúvidas sobre o tema.

- A rotina de pré-natal de uma gestante-atleta, ela não exige nenhum outro exame diferente de uma paciente normal. Ela só tem que ser constantemente incentivada a prática de exercício e se entender que ela tá praticando de uma maneira segura. Então, como eu falei, existe uma intensidade que vai ser preconizada com o que ela fazia antes, o tipo de exercício que ela fazia, o tempo de duração desse treino, que a gente limita geralmente até uma hora e a frequência ela tá autorizada a fazer praticamente todos os dias. A gente acaba sempre pedindo pra pelo menos um dia de descanso, mas se ela tá habituada e se ela tiver desejo de treinar todo dia, isso pode acontecer com segurança. Mas em relação a pedido de exames de sangue, urino e ultrassom, isso não vai diferir - finalizou.

Mais mães do esporte

Além de Pri Heldes e Sole Jaimes, o Lance! também traz neste domingo história de outras mães do mundo do esporte, como a campeã olímpica no judô como atleta e treinadora Sarah Menezes.

Tem ainda o desafio e o suporte das mães de atletas como Alan e Darlan, do vôleiIgor Neustadt, do futebolDavizinho, do surfe, e Hugo Calderano, do tênis de mesa.

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