Falamos com vice de futebol do Fla: ‘O cheirinho vai continuar ano que vem’

Animado com o bom fim de ano do Flamengo, Flávio Godinho mostra confiança na conquista de títulos em 2017 e conta sobre busca por reforços para próxima temporada

Vice-presidente do Flamengo, Flávio Godinho foi preso em decorrência da Operação Lava Jato
(Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)

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Crise no primeiro semestre por conta de maus resultados, saída de técnico com problemas de saúde, aposta em um jovem treinador, negociação complicada por um craque, briga pelo título brasileiro... Esses foram alguns dos momentos vividos por Flávio Godinho em seu primeiro ano como vice-presidente de futebol do Flamengo. Em entrevista exclusiva ao LANCE!, o dirigente avalia o ano rubro-negro e mostra confiança na conquista de títulos em 2017.

Godinho também conta sobre a busca do Flamengo por reforços. Ele diz que o clube está atrás de contratações pontuais, mas destaca que também está ligado em boas oportunidades no mercado.

Qual o balanço que você faz da temporada do Flamengo?
O Flamengo terminou o ano melhor do que começou. Eu acho que os resultados do primeiro semestre deixaram a desejar e de uma certa forma, vamos dizer assim, a gente teve habilidade para consertar o avião no voo com três contratações pontuais, que foram Réver e Rafael Vaz, que eram reservas em seus respectivos clubes, e coroada pelo Diego. Eles vieram a
qualificar o elenco. E a gente fez o Campeonato Brasileiro, cujo a meta era a classificação para a fase de grupos da Libertadores. Nós tivemos a mesma pontuação do segundo colocado, perdemos no critério de desempate, chegamos a disputar o título. A lição que fica é que a gente tem que aproveitar essa base, dar continuidade no trabalho. E se a gente tiver a mesma felicidade de fazer três contratações pontuais, como aconteceu no meio da temporada, que venha qualificar o elenco ainda mais, com a manutenção da comissão técnica, com a inauguração do novo módulo do Ninho do Urubu, a gente tem tudo para conquistar títulos.


Você acha que o time tem condições de ganhar tudo ano que vem, inclusive o bi da Libertadores e do Mundial?

Não é porque terminou o ano bem, que a gente tem a obrigação de ganhar a Libertadores. O Flamengo tem sempre a obrigação de disputar títulos e como dirigente a minha obrigação é seguir qualificando o elenco para isso. A Libertadores, se você passa a disputá-la com frequência, chega uma hora que você acaba campeão. Então, o que eu estou muito confiante é que o Flamengo será campeão de alguma das competições que disputará em 2017, tomara que seja a Libertadores, mas não temos como dar a garantia disso. Até porque teremos as equipes mais qualificadas do continente com a mesma intenção.

O perfume do Flamengo é francês, de melhor qualidade, e esse cheirinho vai durar até 2017.

No Flamengo sempre existe pressão por títulos, mas o time já está há dois anos sem conquistas. Você acha que esse fato aumenta essa pressão e pode atrapalhar?
Acho que a pressão tem que existir, ela é saudável. Não dá para se reocupar só com essa pressão da torcida, porque ela às vezes gosta de eleger culpados. Terminamos ano passado, quando eu assumi, sob o assunto do 'Bonde da Stella'. Hoje em dia o CT é blindado, você não ouve falar de um caso de indisciplina, os jogadores são muito profissionais. Tiveram que enfrentar um Campeonato Brasileiro muito difícil, sem casa, o prognóstico era sombrio. O Flamengo encarou as viagens, o elenco arregaçou as mangas para trabalhar sem nenhuma reclamação. E o time passou muito perto de ganhar, a própria torcida abraçou o Flamengo com campanha de cheirinho, levando para embarque e desembarque ao aeroporto. Eu acho que o perfume do Flamengo é francês, de melhor qualidade, e esse cheirinho vai durar até 2017. Esse cheirinho não acabou e a gente vai com tudo para o ano que vem.

O Flamengo pode trazer para a próxima temporada outro reforço de parar aeroporto?
O Flamengo tem os alvos pré-definidos e muitas vezes tem dois jogadores por posição, porque nem sempre você consegue a primeira. Vou dar um exemplo. O Vitinho que foi muito falado aí, ele é um jogador que o CSKA levou de volta. E o clube pagou 10 milhões de euros para o Botafogo, mudou de técnico, que quer contar com ele lá. Não há clube brasileiro, em princípio, que tenha condições de competir com uma proposta de 10 milhões de euros. Então você considera um jogador, ele não está disponível e você parte para o plano B ou C. À parte disso, você tem que ficar como aquele porco caçador de trufa cheirando o mercado. Vou dar outro exemplo. Eu estava de olho no Oscar (do Chelsea), que estava sendo contratado por um clube chinês. Existia a possibilidade de o Oscar voltar para o Brasil. Se isso fosse materializado, seria uma contratação de fechar aeroporto. O Próprio Diego não estava nos planos de ninguém. Surgiu a oportunidade no meio da temporada, de trazer o jogador, em meio a uma tentativa de golpe na Turquia. A nossa missão é ficar atento para quando surgir uma oportunidade. Eu não tenho dinheiro para fazer um checão, mas às vezes, com criatividade, dá para conseguir um grande jogador. Em princípio, isso aí tem que ser tratado como uma exceção. Nós estamos indo passo a passo para qualificar o elenco e claro que, se surgir uma oportunidade, não vamos desperdiçar.


Qual o prazo para conseguir finalizar as contratações?

Eu acho que anúncio de contratação, salvo uma exceção ou outra, deve ficar para janeiro. E o ideal é que todos se apresentassem com o elenco no próximo dia 11 para a pré-temporada. Mas como já falei, às vezes estamos numa negociação e ela falha. Não vai ser por isso que deixaremos de fazer, então pode ser finalizada já para o fim do mês que vem.

Hoje em dia a administração do Flamengo é 100% profissional. A gente faz as coisas com mais sintonia.

Qual avaliação você faz do seu primeiro ano como vice de futebol, quais suas principais contribuições ?
Eu não gosto muito de falar do eu. A gente trabalha lá muito em grupo. Eu primeiro tenho que agradecer meus companheiros de diretoria, que me deram autonomia e deixaram eu trabalhar. Eu diria que uma das minhas decisões acertadas foi a manutenção do Rodrigo Caetano. No auge da crise do primeiro semestre todo mundo queria a cabeça dele. Fizemos uma blindagem no CT, que a partir daí parece uma cidade do interior, onde todo mundo tem a maior tranquilidade para trabalhar. Você não vê nenhuma intercorrência, a paz reina, não tem nenhum palpite de fora. Acho que outra contribuição importante foi a escolha pelo Zé Ricardo. Ele era um técnico que eu já tinha observado na Copinha. A possibilidade de trazer o Diego, que foi uma negociação complicada. Tive que negociar com quatro dirigentes turcos, em inglês, tinha o problema de língua, tinha pendências com o jogador. Então, foram coisas importantes. O crucial para terminar bem o ano foi o natural entrosamento entre comissão técnica e o dirigente. Porque hoje em dia a administração do Flamengo é 100% profissional. A gente já faz as coisas com mais sintonia.

Como é o seu estilo no dia a dia no departamento de futebol, seu contato com os jogadores?
Como a administração do futebol do Flamengo é profissional, eu deixo o dia a dia com o Rodrigo Caetano, que é o diretor executivo. Eu procuro aparecer nas horas ruins. Eu acho que você tem que aparecer quando o bicho está pegando. E o jogador de futebol precisa ganhar a confiança. A gente vive uma época em que os jogadores são estrelas, mas eles são muito profissionais. Então, não precisa dar bronca. Eles são os que mais querem ganhar, são os que mais sentem quando perdem, às vezes não podem sair de casa para comer uma pizza. O grupo do Flamengo é muito seleto, não tem que ficar dando bronca. É claro que eles sabem que sempre que tiverem qualquer problema, podem recorrer a mim. Mas procuro sempre respeitar a administração profissional, até porque ninguém pode passar por cima de ninguém. Trabalhamos em grupo.

Acha que o time fazendo a pré-temporada no Ninho, que teve o módulo profissional inaugurado, é uma forma de mostrar o valor do CT?
Essa administração teve muito investimento em tecnologia e infraestrutura, e está na hora de colocar isso em prática. A maioria dos jogadores mora por ali e vai ter uma vantagem. Vão ter treinamento integral com toda a estrutura do Ninho e eventualmente vão dormir em casa. Todo mundo tem a chance de ver a família e, quem sabe, fique um pouco menos desgastante. Então, vamos ver aí o que vai ser dessa pré-temporada no Rio, se ela vai dar ou não resultados melhores no decorrer do ano.

Qual avaliação sobre o trabalho do Zé Ricardo? Acha que ele está pronto para comandar o time em um ano tão importante?

O Zé é um técnico muito estudioso, muito dedicado. Eu costumo brincar dizendo que ele em casa descansa carregando pedra. Ele está sempre estudando, inclusive está fazendo um curso de qualificação na CBF. A ideia é
que ele faça alguns intercâmbios, mandar ele para o exterior, investir na
qualificação dele. Agora, o que mais encoraja a diretoria a dar continuidade
é que, primeiro, a experiência indica que a continuidade é um dos segredos
para você formar um time vencedor. Segundo porque ele tem uma análise
crítica do que foi acerto, do que foi erro, do que precisa melhorar. E ele é
um profissional aberto ao diálogo.

A gente realmente só recebeu o atestado liberatório do Diego aos 45 do segundo tempo. Só no último dia a operação foi concluída.

Você foi um dos principais responsáveis pela contratação do Diego, como foi a negociação?
Foi uma operação passo a passo. Você começa, acredita, sabe que é muito difícil. A primeira etapa foi convencer o próprio atleta que o Flamengo hoje em dia tem uma estrutura profissional, responsável, que paga em dia, respeita o atleta. O pai dele era o representante, então todas as tratativas começaram com ele. Posteriormente, na medida que a gente recebeu um sinal verde do jogador que achava que estava na hora de voltar ao Brasil, começamos as tratativas com os dirigentes turcos. Mas na verdade, com a tentativa de golpe de estado lá, parece brincadeira, mas a gente realmente só recebeu o atestado liberatório aos 45 do segundo tempo. Então, efetivamente só no último dia da janela é que a operação conseguiu ser concluída.

O Flamengo pretende vender algum destaque da equipe?
Faz parte na vida de qualquer clube vender jogador. Às vezes chega uma
proposta considerada irrecusável, você tem que aproveitar e depois tem
que ter o talento para repor aquela determinada posição. Sem falar que o
futebol hoje é extremamente profissional. Cada jogador desse tem uma multa contratual. E se aparecer algum clube que pague essa multa, não há o que reclamar. Mas no nosso elenco atual, não temos proposta para nenhum jogador que é titular. Muito se fala em Guerrero, Jorge, mas não chegou proposta.

Qual a política de investimento em reforços do Flamengo para a próxima temporada?
Cabe ao vice de futebol usar a criatividade para com um orçamento limitado fazer certas contratações. Muitas vezes você faz a prazo. E se excepcionalmente surgir uma contratação que extrapole isso, tem de pedir autorização dos órgãos competentes dentro do clube. Se eles acharem que tem mérito aquela empreitada, vão aprovar.

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