Exclusivo: histórias inusitadas de Maria Esther Bueno, furtada por rival em hotel
Multicampeã de Grand Slams completaria 86 anos neste sábado

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Embora seja o maior nome da história do tênis brasileiro, com destaque para os 19 títulos de Grand Slams, a saudosa Maria Esther Bueno brilhou numa época em que as cifras milionárias dos principais torneios da atualidade não passavam de um sonho. Dos mais distantes. Em entrevista exclusiva ao Lance!, Pedro Bueno, sobrinho dessa gigante do tênis mundial, revelou histórias inusitadas da ex-número 1 do mundo. Como se sabe, a Bailarina do Tênis faleceu em 8 de junho de 2018, vítima de um câncer.
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- Existem passagens curiosas, que as pessoas nem imaginam. Como: viajar sem dinheiro, com passagem só de ida, sem saber quando vai voltar. Minha tia viajava com duas raquetes, roupa emprestada, no começo, e com vaquinhas que os amigos do Tietê faziam para ela poder ir. Minha tia tinha duas roupas para jogar, era tudo muito certinho. Viajava com duas raquetes e duas roupas. Acabava o jogo, voltava para a casa dos amigos ou para o hotel, quando estava hospedada, e lavava roupa na pia, no quarto, para secar e usar uma delas no dia seguinte. Numa das viagens pela América do Sul, quando minha tia já começava a despontar e despertava ciúmes, uma das tenistas no quarto dela e furtou uma das duas roupas. E ela só ficou com uma para jogar o campeonato. Ela tinha não só que lavar, como torcer para secar, se não ela teria de jogar com uma roupa molhada, não tinha como comprar outra - revela Pedro, diretor da Maria Esther Bueno Produções.
Um dos hábitos que Maria Esther Bueno cultivou por toda a carreira - e que pouca gente sabe - era o de anotar os detalhes de todas as suas partidas.
- Desde os 18 anos ela tinha essa consciência de escrever sobre os jogos. E mesmo com 70 anos ela lembrava de todas partidas - conta Pedro Bueno.
A Rainha do Tênis Brasileiro começou na modalidade ainda na infância, por incentivo do irmão, Pedro, que também se tornou técnico da irmã ilustre. Para economizar, Maria Esther viajava sozinha, mas, quando Pedro foi estudar e jogar no Texas, nos EUA, a tenista aproveitava os torneios na Flórida para matar a saudade do irmão:
- Eles acabavam se encontrando nesse período, e ela minimizava um pouco a ausência, durante essa vida universitária do meu pai, que não foi tenista profissional, mas apoiou bastante minha tia.
Tática para sobreviver no exterior
Emoção à parte por estar com o irmão no exterior, Maria Esther adotava uma tática para seguir economizando, quando se hospedava em hotéis:
- Quando eles tinham a oportunidade de ficar juntos em um hotel, era uma dureza total. Eles ficavam de olho no corredor em quem pedia café no quarto. E quando os carrinhos voltavam para o corredor, eles olhavam o que os hóspedes não tinham comido, como torradinha no pacote fechado, ou fruta que ninguém pegou. pacote de manteiga ou de geleia fechado. Eles olhavam o que tinha nos corredores e tinham que pegar, era o jeito que tinham para sobreviver e jogar os campeonatos. Minha tia ganhava US$ 700 no ano, era muito pouco - comenta Pedro.
- Eram impressionantes as coisas que eles tiveram que fazer para sobreviver e para jogar por amor, sozinha, sem equipe, sem estrutura, prêmio irrisório, ela jogava pelo amor mesmo. Ela gostava de representar o país, de levar o nome do Brasil para fora e ficar cada vez mais conhecido.
Maria Esther Bueno era apaixonada por pets
Além do tênis e da família, os pets eram outras paixões da Bailarina do Tênis:
- Minha tia dedicou a vida inteira a jogar tênis. Então, ela nunca teve tempo de ter namorados, de casar, ter filhos. Ela se apegava muito ao nosso núcleo familiar. E, nesses 10, 15 anos de solidão viajando para os torneios sozinha, ela conseguia suprir um pouco desse amor com os pets. Temos um acervo fotográfico gigante dela em várias casas de amigos ao redor do mundo e, na maioria delas, tinham cachorros, gatos. Ela supria muito a carência da família e dos amigos com os animais. Ela era, realmente, apaixonada pelos cachorros - conta Pedro.

- Ela ficava muitas vezes na casa do meu irmão, André, que tinha dois, três cachorros. E ela adorava, e os pets também. Quando ela chegava, eles já pulavam em cima dela, iam para o quarto, às vezes dormiam na cama dela. Era um carinho muito grande.
Ao longo da vida, Maria Esther Bueno teve alguns pets. Um deles, um basset, chamado Tim, foi dado pelo tio, Pedro, e protagonizou um momento inusitado na carreira da tenista.
- Um pouco antes do Pan-Americano de 1963, aqui no Brasil (em São Paulo), o cachorrinho mordeu um dos dedos da mão direita dela, que foi todo costurado. E foi por isso que ela só ganhou o ouro nas simples, além de ter sido prata nas duplas femininas, com Ingrid Metzner, e nas mistas, com Thomaz Koch.
Logo depois do Pan na capital paulista, Maria Esther viajou para outros torneios e deixou Tim com a tia.
- A casa da minha mãe tinha um muro baixinho, não tinha portão, e o cachorrinho ficou um pouco lá. Mas, coitada da minha tia, depois esse cachorrinho fugiu e ninguém achou. Minha mãe sofre até hoje com essa história, acho que um dos primeiros pets que minha tia ganhou na vida. Talvez por isso que ela tenha cada vez mais se apaixonado por outros bichos. Ela transferiu para os pets essa falta e essa solidão que ela enfrentou nas viagens. E esse amor dela pelos animais era recíproco.

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