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Exclusivo: Sobrinho fala dos legados e desafios da Rainha Maria Esther Bueno

Rainha do Tênis brasileiro completaria 86 anos neste sábado

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Gustavo Loio
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 11/10/2025
09:00
Atualizado há 1 minutos

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Provavelmente a maior atleta, entre todas as modalidades, que já nasceram no país, Maria Esther Bueno, a Rainha do Tênis do Brasil, completaria 86 anos neste sábado (11). Em entrevista exclusiva ao Lance!, Pedro Bueno, sobrinho da saudosa ex-número 1 do mundo e multicampeã de Grand Slams (19 troféus), compartilhou histórias, algumas inéditas, dessa lenda, que jogava por amor ao esporte e, além dos títulos, foi pioneira em muitas questões.

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Maria Esther Bueno, que faleceu aos 78 anos, no dia 8 de junho de 2018, vítima de câncer, triunfou numa época em que sair do país já era uma batalha e tanto. Ainda mais para quem, como ela, tinha poucos recursos financeiros.

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- As dificuldades eram inúmeras, e as viagens, muito longas. E minha tia, muito jovem e viajava sozinha. Na década de 1960 de Londres para Sydney eram quase 40 horas de avião, com 4, 5 ou 6 escalas, ou um mês de navio. Era uma loucura. Um desafio para ser competitiva e viajar era isso. A distância e o tempo das viagens eram, por si só, os primeiros desafios. E o circuito, na era amadora, não era tão organizado. O ano poderia começar pela África do Sul ou Austrália. Muitas vezes os tenistas decidiam começar pela África e depois seguir para a Europa, porque Austrália é mais longe. Tanto que, se pegar o histórico da época, o Aberto da Austrália, muitas vezes, numa chave de 32 jogadoras, eram 30 australianas, porque a dificuldade era enorme para chegar - explica Pedro, que é diretor da Maria Esther Bueno Produções.

E desde muito nova a Rainha do Tênis Brasileiro passou a desbravar os outros países. Sua primeira competição no exterior foi os Jogos Pan-Americanos de 1955, no México, quando tinha apenas 15 anos e conquistou o bronze nas duplas femininas. Mas essa paulistana passou a ganhar visibilidade mundial em 1958, quando disputou os primeiros torneios europeus.

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- Além da distância e do tempo, as jogadoras eram muito novas, sozinhas, sem estrutura e dinheiro. Imagine para uma menina de 15, 16 ou 17 anos viajar, naquela época, sozinha. Imagine a solidão, era muito difícil de lidar. Às vezes eram três, quatro meses viajando, sem ter contato com a família. Sei que isso era muito difícil para minha tia. Nossa família era muito pequena: minha tia, meu pai e meus avós, no núcleo principal, antes da gente nascer. Eles sempre foram muito unidos, presentes na vida um do outro. Sei que ela sentia muita saudade e muita falta dos meus avós  e do meu pai. E como não tinha esse dinheiro e eles tinham que viajar sozinhos, então não era fácil se comunicar. Às vezes era por carta e, enfim, demorava muito, demorava muito para minha tia  reencontrar os pais, meus avós. Essa era uma das dificuldades: a solidão de viajar sozinha.

Maria Esther Bueno na homenagem no Rio Open (Foto: Fotojump/Arquivo)
Maria Esther Bueno na homenagem no Rio Open (Foto: Fotojump/Arquivo)

Fazer amigos por onde passava era uma das estratégias do maior nome do tênis enfrentar a saudade da família. Aliás, como conta Pedro Bueno, era a própria Maria Esther quem fazia sua agenda de torneios. E as amizades ajudavam a Bailarina do Tênis a economizar com as hospedagens mundo afora:

- Ela cultivou amigos da época de jogadora até o fim da vida. E ela acabou ficando na casa dessas amigas durante quase que a vida inteira dela, mesmo depois de aposentada. Eu lembro de uma das viagens que fizemos para Nova York e ficamoshospedados na casa de uma amiga, assim como em Long Island e em Londres. Nos lugares que viajava, ela sempre ficava na casa dos amigos.

Pedro Bueno sabe que o mundo, inclusive o do tênis, mudou bastante nas últimas décadas, nesse sentido:

- Hoje em dia, tudo é muito fácil. Você tem umas equipes muito grandes, a família muito presente, celular, computador, enfim, videochamada. Naquela época, era completa a solidão. No final das décadas de 1950 e de 1960 a solidão era um desafio muito grande, viajar sozinha, sem ter com quem conversar e descobrindo por si só as coisas

Estilo de jogo que revolucionou

Muitos desafios à parte, Maria Esther, que começou no esporte aos seis anos, fez história não 'apenas' pelos 19 Grand Slams.

- A carreira da minha tia foi muito curta, mas espetacular e revolucionária. Minha tia tinha um jogo bastante agressivo, muito diferente para a época. Ela começou a jogar com meu pai, com os amigos dele, então ela tinha um treino e um jogo muito diferente das que as mulheres estavam acostumadas e isso surpreendeu o circuito. Ela tinha um saque muito forte e também voleava, movimentava  muito rápido na quadra e jogava muito forte, mas ela fazia isso com uma leveza, com uma sensualidade. Tinha essa coisa da bailarina do tênis, então ela se movimentava muito rápido, batia muito forte, ela sacava, subia para a rede, deixava as adversárias meio sem saber o que  fazer, como jogar com ela, porque era uma coisa nova. E ela fazia isso super leve, não era uma coisa agressiva. Foi algo que ficou marcado.

O maior nome da história do tênis brasileiro também lançou moda nas quadras:

- Em 1959 ela já estava com as roupas do Ted Tinling (tenista, fashion designer, e escritor britânico de enorme relevância na época). As mulheres jogavam shorts,  camiseta, ou às vezes até com macacão, ou com saia mais longa, enfim, roupas mais pesadas. E minha tia passou a usar roupas mais leves, com alcinha, mais sensuais. E tudo isso chamou muito a atenção: o estilo dela, com aquela força, garra, ímpeto, sacando e voleando, auxiliado com esse tipo de vestido. Era uma menina de 18 anos bonita, longilínea.

Ted Tinling e Maria Esther Bueno ditaram a moda no tênis na década de 60 (Reprodução)
Ted Tinling e Maria Esther Bueno ditaram a moda no tênis na década de 60 (Foto: Acervo particular da família)

Pioneira na quadra central do Foro Itálico

Os estilos, de se vestir e de jogo, romperam barreiras, literalmente. No Aberto de Roma, por exemplo, Maria Esther foi a primeira mulher a jogar na quadra central do histórico Foro Itálico, em 1958.

- Antes disso, as mulheres não jogavam na quadra central, porque não atraíam público, só jogavam nas quadras secundárias. E ela ganhou esse primeiro torneio que jogou em Roma . Era impressionante, todo mundo queria ver o jogo dela. Não só dos telespectadores, como os próprios tenistas. Os tenistas, mesmo os masculinos, não queriam jogar na mesma hora que ela, porque queriam ficar assistindo aos jogos da minha tia.

Empoderamento feminino

- Minha tia foi a personificação desse empoderamento que a gente começou a ver depois. Ela despertou uma consciência nas mulheres, que até então, eram muito mais submissas aos homens, aos maridos, aos jogadores. O tênis era mais submisso ao universo masculino, e, a partir da importância dela, o feminino começou a ter uma relevância diferente. Ela defendia isso com muito orgulho, minha tia personificava essa vontade de que as mulheres podiam ser o que elas quisessem ser, estar onde elas quisessem estar. Quando surgiu a minha tia, ela começou a ter essa visibilidade, as mulheres tiveram uma coragem e o empoderamento de fazerem coisas que até então elas não faziam. Isso é um marco fundamental, que foi plantado essa sementinha lá atrás, em 58, 59, 60, e aí depois, a partir de 68, enfim, isso explodiu mundialmente.

Principais títulos de Maria Esther Bueno:

19 de Grand Slam, sendo 7 em simples, 11 em duplas e 1 em duplas mistas, além de ter alcançado o posto de número 1 do ranking mundial em 1959.

Simples: 3 vezes campeã de Wimbledon (1959, 1960, 1964) e 4 vezes do US Open (1959, 1963, 1964, 1966).

Duplas: títulos nos quatro Grand Slams, incluindo 5 conquistas em Wimbledon e 4 no US Open.

Duplas mistas: campeã de Roland Garros em 1960.

Membro do Hall da Fama do Tênis. 

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