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Lauter no Lance!: 100 anos de multidão, a São Silvestre se reinventa e pede passagem!

Prova centenária continua atraindo muitos atletas profissionais e amadores à capital paulista

Corrida de São Silvestre (Foto: Paulo Pinto / Agência Brasil)
imagem cameraCorrida de São Silvestre (Foto: Paulo Pinto / Agência Brasil)
Autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, esse texto não reflete necessariamente a opinião do Lance!
Dia 30/12/2025
15:08
Atualizado há 1 minutos

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Cem anos, um século, cem voltinhas seguidas do nosso planetinha resistente em torno do Sol. Se estivéssemos falando de uma pessoa, seria de um ancião longevo, talvez um sábio, que dedicou sua longa, vida, em colecionar histórias. Se fosse uma empresa ou alguma fábrica, poderíamos dizer que faz parte da história do comércio local. Um Banco, sólido desde a sua fundação, dez décadas atrás. E se fosse um restaurante, seria um local tradicional, à serviço da boa mesa, através das gerações. Ou um colégio centenário, poderíamos dizer que é uma instituição de ensino, forjando e formando à 100 anos o futuro do país.

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Ok, mas o que dizer de uma corrida de rua, lançada em 1925, noturna, que acontece na última noite do ano, pelas ruas escuras da maior cidade da América do Sul?

E surgiu por conta de uma viagem que Casper Líbero - o jornalista que revitalizou o jornal A Gazeta, e criou a irmã mais nova, A Gazeta Esportiva - fez à França em 1924, e assistiu em Paris, uma prova pelas ruas escuras da Cidade Luz, e se encantou. Os participantes da prova carregavam tochas para iluminar seus caminhos, e do alto de seu hotel, ele disse que parecia que era um rio de lava, a correr paralelo ao pacato Sena! No ano seguinte, 60 corredores se inscreveram, e efetivamente 48 largaram, mas apenas 40 verdadeiros pioneiros completaram o percurso de 8,8km. Nascia, enfim, a prova mais longeva e famosa da América Latina. Onde desfilaram os maiores fundistas e maratonistas do mundo. E, durante décadas, era considerada objeto de desejo de atletas do mundo inteiro.

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Um século da Corrida de São Silvestre

Sim, são 100 anos de São Silvestre, oficialmente, 100ª Corrida Internacional de São Silvestre. A prova mais antiga da América Latina, que nesta edição, receberá 55 mil corredores, de 1942 cidades e 39 países diferentes. Destes 55 mil participantes, 4.600 são estrangeiros. E em seu centésimo aniversário, quase iguala a participação dos gêneros. São 53% de homens e 47% mulheres.

E olhe que as mulheres só começaram a ser aceitas no ano de 1975, mais de 50 anos depois de sua primeira edição. Numa iniciativa da ONU, quando era celebrado o "Ano Internacional da Mulher". Nesta primeira edição feminina, foram inscritas apenas 17 atletas mulheres. E a vencedora foi a fundista alemã Christa Valensieck. Hoje, dos 55 mil inscritos, quase metade são mulheres! E, segundo os especialistas, antes de 2030, serão maioria!

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Ao longo destes 100 anos, a São Silvestre arregimentou os melhores fundistas e maratonistas do mundo, campeões olímpicos e mundiais, recordistas mundiais em pista (5 e 10 mil metros) e asfalto, na Maratona, meia maratona e 15km. A São Silvestre também acompanhou a migração dos países dominantes, dos países escandinavos (Suécia, Finlândia, Noruega e Dinamarca), ao domínio centro europeu (Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Península Ibérica), chegando a um domínio de quase uma década pela Oceania (Australia e NZL). Em seguida, um pequeno protagonismo do Japão e EUA, e, por fim, um domínio completo, nas últimas 3 décadas da África (Quênia, Etiópia e Uganda, principalmente).

Até o atletismo brasileiro, para delírio e aquecimento para o réveillon, venceu com José João da Silva (80 e 85), João da Matta, em 1983, Ronaldo da Costa (1994), Emerson Iser Bem, ao derrotar ninguém menos que Paul Tergat, o maior vencedor (5 vitórias). Marilson dos Santos (2003,2005,2010) e outros. Ao todo, somando a fase nacional e a internacional, foram 29 vitórias no masculino, e no feminino, o país que mais venceu foi o Quênia, com 14 vitórias.

Atualmente, a distância da prova é de 15km, para que pudesse obter o mais alto selo de qualidade, deveria estar entre as distâncias eleitas como as provas de rua oficiais (5km, 10km, 15km, 21,1km e maratona, com 42,2km). Desde quando a São Silvestre se tornou uma prova internacional, em 1945, ela foi de 7km, passou para 7,7, depois 9km, cresceu para 12,6 entre 1980 e 1989, quando ainda era noturna, e à partir de 1990, passou definitivamente ao padrão internacional, sua largada passou a ser à tarde, e sua distância em 15km.

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Atletas históricos na São Silvestre

Tive o prazer e a honra de participar, como comentarista da São Silvestre, pela TV Globo, por 25 anos (1/4 dos 100 anos de São Silvestre). Pude acompanhar duelos épicos entre gigantes, homens e mulheres, do atletismo mundial. Minha estreia foi em 1995, substituindo o meu maior ídolo esportivo, Adhemar Ferreira da Silva, o primeiro bicampeão olímpico, e único em esportes individuais!

Parafraseando Caetano, quem não vibrou com a arrancada de Emerson Iser Bem (ou com a elegância sutil de Tergat), no meio da subida da "Brigadeiro", em 1997, deixando ninguém menos do que Paul Tergat? Quebrando sua série histórica de 5 vitórias, que seriam consecutivas, se aquele "russinho abusado" não tivesse tido aquela tarde de Frank Shorter e domesticado a fera queniana!

Frank Shorter vence a 46ª São Silvestre de 1970 (Foto: Gazeta Press)
Frank Shorter vence a 46ª São Silvestre de 1970 (Foto: Gazeta Press)

Shorter, que foi ouro na Maratona nos Jogos de Munique, em casa - já que viveu a infância e começo da juventude numa base militar americana, perto da cidade-sede dos Jogos de 1972, e prata na Olimpíada seguinte, em Montreal, - tinha por hábito, correr provas de pista (10 mil metros), e vencia a maioria dos grandes corredores de pista do mundo.

Se referindo ao ouro na Maratona de Munique, Shorter dizia que o Frank adulto venceu o Frank adolescente, e tirou de sua antiga casa, levando para a casa atual a medalha de ouro na maratona. Shorter venceu a São Silvestre de 1970, entrando para o grande grupo de medalhistas olímpicos, também vencedores da São Silvestre!

Dois anos depois dessa vitória, ele chegou só ao lotado Estádio Olímpico de Munique, e sem adversários, pode diminuir seu alucinante ritmo e se deliciar com o público, que explodia de alegria, tanto torcedores americanos, quanto alemães, gritavam alucinados, Shorter vencia a Maratona Olímpica. Os últimos 400 metros foram longos demais, Shorter não se conteve, e chorou copiosamente, talvez pelos atletas israelenses, mortos num absurdo sequestro, que não conseguiu parar os Jogos, mas tornou dramático e triste os últimos dias de disputas.

Os Jogos de Munique passaram a ser lembrados, não pela vitória improvável de Shorter, não pelos 7 ouros do espetacular nadador americano, de origem judia, Mark Spitz. Nem pela excelência da estreia olímpica de uma menina ginasta de 15 anos, que arrebata 3 ouros, e o coração do mundo. A ginasta soviética Olga Korbut mudou a ginástica para sempre, por conta de sua idade, peso e tamanho, se tornou exemplo para milhões de meninas, e as escolas de ginástica do mundo se encheram de pré-adolescentes! Infelizmente, nada superou a dor e desespero gerada pelo ato terrorista de uma organização terrorista (Setembro Negro), no centro de uma vila olímpica pacífica!

Além de Shorter, muitos outros, como os portugueses Rosa Motta (6 títulos de SS consecutivos e 2 medalhas olímpicas na Maratona) e Carlos Lopes vencedor, em 1984, da maratona olímpica de Los Angeles, e da São Silvestre. Também o belga Gaston Roellants, Paul Tergat... a lista é grande.

A nossa centenária corrida, além dessa presença fortíssima internacional, a cada ano trazia o melhor do atletismo de fundo de nosso país e, várias vezes, vitoriosos, como Marilson dos Santos, com suas 3 heroicas vitórias; José João da Silva, nosso primeiro vencedor na fase internacional da SS, em 1980 e 1985. E teve mais: o mineiro João da Matta em 1983, Ronaldo da Costa, nosso recordista mundial da Maratona (1998, em Berlim) em 1994; o já citado, Emerson Iser Bem, em 1997; e Frank Caldeira em 2006, um ano antes de se tornar campeão da maratona dos Jogos Panamericanos do Rio, em 2007.

A última vitória de um brasileiro, foi também a última de Marilson dos Santos, em 2010.

No lado feminino, colhemos boas vitórias, ao longo do, pouco, tempo. Lembrando que as mulheres só tiveram a permissão de correr a SS a partir de 1975!

A primeira a conseguir foi a guerreira candanga Carmen de Oliveira, em 1995! E, no ano seguinte, acontece a novamente, com a fundista do interior de SP Roseli Machado. Novamente em 2001/2002 nova dobradinha brasileira. Com Maria Baldaia, em 2001, e Marizete Rezende, em 2002.

Depois, em 2006, nossa última vitória no feminino, com outra candanga raçuda, Lucélia Peres, há quase 20 anos!

Corrida de São Silvestre de 2024 (Foto Paulo Pinto - Agência Brasil)
99ª Corrida de São Silvestre de 2024 (Foto: Paulo Pinto / Agência Brasil)

Sinta-se parte da história

Amanhã, acontece a centésima Corrida Internacional de São Silvestre. Na largada e chegada de sempre, onde 55 mil testemunhas da história do atletismo mundial celebrarão correndo este aniversário. Se você, que ora me lê, irá correr, sinta-se parte desta história, conte para seus filhos e netos. Comece a celebrar o novo ano, ao cruzar a linha de chegada. Milhares de corredores ficaram de fora, e irão acompanhar, como de hábito, desde 1982.

A transmissão começa às 7:30 (Globo e Gazeta transmitem). E já pegará a prova para pessoas com deficiência já começada.

A largada da Elite feminina, será as 7:40. E a elite Masculina larga às 8:05

E a largada sequencial (em ondas) para a multidão de 55 mil felizardos, tem largada iniciada às 8:10.

Durante a prova, tenho certeza de que baterá no meu velho coração, uma saudável saudade.

Saudade da minha única participação, como corredor (1982 , ainda era noturna), das minhas várias ocasiões, noturnas e vespertinas, como espectador. E também, claro, das minhas 25 coberturas jornalísticas, como comentarista.

Nas mais de 4 últimas décadas, quase tudo era incerto, para mim. O presente e o futuro (aliás, dizem as más línguas, que, em nossa terra incerta, até o passado é incerto!) eram duas grandes interrogações. Apenas uma, um espaço de tempo de 1 hora e meia, a cada tarde ou noite de último dia do ano, eu estaria, de alguma forma (seja como espectador, corredor ou, na maioria das vezes, como comentarista), assistindo a história do atletismo mundial escrever mais uma página de sua rica história.

De 1925 a 2025, as ruas de São Paulo, no último dia de cada ano, se tornam palco, para uma plateia em movimento, riscando asfalto, arfando em uníssono, sonhando com um novo ano, com o fim da Brigadeiro, com a chegada no Masp, com dias melhores, vidas melhores, e que, dores, apenas as das pernas em festa na dispersão. No peito, a saudade de um ano que vai, e a ansiedade, por um, novinho, que chega!

Feliz aniversário, feliz centenário, São Silvestre.

Feliz Ano Novo!

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