Jogos da Juventude: Amazonas celebra volta de atleta que recuperou a visão
Grazielle Souza, de 17 anos, defende o estado no futsal
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Desistir nunca foi uma opção para a jovem amazonense Grazielle Souza Barbosa, de 17 anos, apesar dos muitos obstáculos. Moradora da cidade de Lábrea, a 900 quilômetros de Manaus, a atleta chegou a perder parcialmente a visão, há 1 ano e três meses, por conta de uma artrite reumatoide. Mas, graças à medicação, que sai a R$ 20 mil/mês e é custeada pelo governo do estado, voltou não só a enxergar, mas a brilhar nas quadras de futsal, modalidade que pratica há seis anos. E sua presença nos Jogos da Juventude, em Brasília, é uma motivação gigante para o time de Amazonas.
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Para seguir o tratamento, com reumatologista e oftalmologista, a cada seis meses, Grazi também conta com a ajuda da prefeitura de Lábrea, que paga o transporte até a capital.
A emoção com o gol nesta quarta
Nesta quarta-feira (17), Grazi, que, no futebol, é fã da Rainha Marta e de Neymar, comemorou seu primeiro gol nos Jogos da Juventude, o segundo do eletrizante empate em 3 a 3 com a forte equipe de São Paulo. O talentoso e aguerrido time amazonense, que fez 5 a 0 em Rondônia na rodada anterior, chegou a abrir 3/0 contra as paulistas. Gabriela e Kyana fizeram os outros gols de Amazonas nesta quarta.
- Foi uma emoção muito boa fazer o gol, vinha mal nos outros jogos, não estava conseguindo concentrar. A gente não saiu com a vitória, mas foi uma boa partida, jogamos de igual para igual com um dos times favoritos - disse a camisa 10, que é torcedora do Flamengo e fã, do elenco rubro-negro, principalmente de Arrascaeta.
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Sobre o diangóstico, a atleta recorda:
- Fiquei mal, tive que ir para a capital, fiz vários exames, aí descobri que estava com artrite reumatoide, que afeta o pulmão e o coração. O médico me disse que o tratamento custaria R$ 20 mil, para receber as injeções subcutâneas. Ao receber essa notícia, fiquei assustada: de onde eu tiraria esse valor? Mas aí conseguimos um cadastro pelo governo - relembra.
Qual a maior lição que a vida e o esporte lhe ensinaram?
- De nunca desistir dos meus sonhos, e, independente do que aconteça, sempre erguer a cabeça e seguir em frente - respondeu a atleta, durante o maior evento multiesportivo para atletas de até 17 anos do país, organizado pelo Comitê Olímpico do Brasil.
Após o imenso susto de contrair essa doença autoimune e sofrer essa rara sequela, Grazi, que tem cinco irmãos, celebrou a recuperação:
- Precisava da ajuda da minha mãe (Ângela, que é agricultora) para ir à rua, foi assim durante três semanas, até conseguir o remédio. Recuperar a visão foi uma sensação maravilhosa, até porque só eu sei o que passei.

Perguntada sobre qual sua maior inspiração no esporte, a amazonense, que sonha em se formar em Direito, entrar para o Bope (Batalhão de Operações Especiais) e, ao mesmo tempo, ser jogadora profissional, responde:
- Eu mesma, porque pego tudo o que passei e uso de inspiração e motivação.
Em Brasília, a atleta está encantada com o que tem vivido nos Jogos da Juventude, que são organizados pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB):
- Estou participando pela primeira vez e gostando de tudo. É uma emoção muito boa defender Amazonas.
Técnica de Grazi há três anos e treinadora da equipe nos Jogos da Juventude, Silmária Maia tem uma relação de mãe e filha com a atleta:
- O fato que aconteceu com a Grazi ano passado afetou muito a gente. Fomos vice-campeãs em 2023 e tínhamos tudo para ganhar em 2024, mas o time todo ficou muito abalado e nem conseguimos a classificação para os jogos em Manaus.
A treinadora, que completou 35 anos nesta quarta-feira (17) (e foi celebrada pelas atletas, no final do vídeo acima), guarda uma importante lição da experiência vivida por Grazi:
- A gente precisa ter resiliência e entender que hoje a gente está bem, mas ninguém sabe o dia de amanhã. Aí começamos a trabalhar unidas para que ela pudesse estar com a gente em seu último ano nos Jogos.
Silmária se orgulha por ter estendido as mãos a Grazi nos momentos mais desafiadores após o diagnóstico (e seguir estendendo):
- Graças a Deus pudemos dar todo suporte a ela e tenho um carinho por ela de filha, cuido dela, toda hora pergunto se está bem da vista. Isso é muito importante pra mim, sinto-me privilegiada por ter, junto com a família, ajudado a Grazi.
E qual a emoção de estar nos Jogos da Juventude?
- É incrível. Já participei de alguns campeonatos brasileiros e poder trazer as meninas de Lábrea e também meus alunos do futsal masculino é incrível. É muita dedicação e superação. Mas, acima de tudo, é pela Grazi, porque ela lutou muito para poder estar aqui. É gratificante demais para a gente.

Professor de Educação Física e chefe da delegação de Amazonas nos Jogos da Juventude, Keegan Ponce foi quem contou ao Lance! a incrível história de Grazi.
- Esse evento é fenomenal para todos os estados, em especial Amazonas, com todas as peculiaridades de suas regiões. Nossos atletas, principalmente do interior, para chegarem a Manaus, têm deslocamento muito complexo, via rio. Quando organizamos jogos estaduais, já pensamos nessas distâncias. Para muitos, é a primeira oportunidade de sair do munícipio, muitos nunca viajaram nem a Manaus. E quando vêm aos Jogos da Juventude, em Brasília, capital do país, para eles é uma grande oportunidade de apresentar os talentos que eles têm no esporte, de conhecer outras pessoas, outras culturas e levar isso para suas cidades. Nossa proposta é justamente é essa: que o esporte faça parte da vida deles, que eles tenham boas práticas, mesmo que não venham a alcançar o alto rendimento. Mas que eles se tornem bons cidadãos, essa é a nossa premissa na nossa delegação, que se preocupa com a participação de cada um.
Com histórias tão emocionantes e inspiradoras como a de Grazi, motivação, certamente, não vai faltar para Amazonas seguir formando campeãs (e campeões) do esporte e da vida.
* O repórter viaja a convite do Comitê Olímpico do Brasil (COB)

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