Opinião: Como jogará a Seleção Brasileira comandada por Carlo Ancelotti?
CBF confirmou a contratação do italiano para substituir Dorival Jr.

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O estilo de jogo do técnico italiano se encaixa ou não com o estilo dos selecionáveis brasileiros? “O maior técnico da história estará, agora, à frente da maior seleção do planeta.” Foi assim que a CBF anunciou o fim de uma das mais longas novelas de contratações do futebol brasileiro: a contratação de Carlo Ancelotti para dirigir a seleção brasileira. Ainda que muitos só acreditarão nesse acerto depois de ver o italiano em ação à beira do gramado, Ancelotti já confirmou em coletiva: a partir do dia 26 de maio, ele será técnico do Brasil.
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Apesar de a temporada atual do Real Madrid ser considerada por muitos um fracasso — além da eliminação nas quartas de final da Champions League para o Arsenal, a equipe sofreu quatro derrotas seguidas nos clássicos contra o Barcelona —, não se deixe enganar: estamos falando de um dos treinadores mais vitoriosos do futebol. Ancelotti é o único a acumular dois feitos impressionantes: ganhar cinco Champions League e ser campeão nacional em todas as cinco principais ligas da Europa (Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França). Não pode ser apenas sorte e acaso.
A sua principal virtude, na visão de muitos, é a forma como lida com as principais estrelas — e não foram poucas que passaram por suas mãos. Treinados por ele, o ucraniano Shevchenko foi bola de ouro em 2004; Kaká, em 2007; Cristiano Ronaldo levou o troféu 2013 e 2014; e Vinicius Jr ganhou o prêmio The Best no ano passado. Escalados em funções específicas para extrair o melhor do seu futebol, todos tiveram seus talentos potencializados por Ancelotti. Tinham liberdade, mas sem comprometer o coletivo. Não à toa, conquistaram títulos importantes.
Estilo de jogo personalizado, mas não simples
Seu modelo de jogo é comumente descrito como simples e pouco complexo. Mas a verdade é que Ancelotti é o tipo de treinador que olha para os indivíduos acima do sistema. Ou seja, ele não tem problema nenhum em mudar a forma como seu time joga para acomodar diferentes jogadores.
Em uma entrevista coletiva no Real Madrid, um repórter perguntou a ele por que o time não pressionava em cima desde a saída de bola do adversário. O italiano respondeu que, com Kroos (33 anos) e Modric (36 anos), não faria sentido desgastá-los pressionando o tempo todo. A idade dos dois craques fez com que mudasse sua estratégia. Manter Kroos e Modric no time titular era mais importante do que se agarrar uma forma específica de jogar.
Enquadrá-lo dentro de um único estilo de jogo é um caminho perigoso. Talvez a palavra-chave para entendê-lo seja flexibilidade. Nem todo meia-esquerda, por exemplo, vai desempenhar a mesma função na sua equipe. O mais provável, neste caso, é que ele desenhe uma função específica para esse jogador dentro de um determinado contexto — o esquema tende a mudar com a entrada de atletas em diferentes situações. Organizar isso, de fato, não deve ser nada simples, mas faz parte da sua maneira de enxergar o futebol.
O 4-4-2 deve continuar
Ainda que essa maneira de trabalhar dificulte a previsão exata de como a seleção vai jogar, existem pistas que podemos seguir. A principal delas é a suposição de que algumas escolhas feitas por Dorival Júnior no comando da seleção foram diretamente influenciadas por Ancelotti. Pode parecer estranho, mas é lógico: se era no Real Madrid em que dois dos maiores talentos brasileiros — Vini Jr e Rodrygo — eram potencializados, um caminho para tentar repetir o feito era posicioná-los da mesma maneira.
Vini Jr não passou a se posicionar como um segundo atacante com a Amarelinha à toa. Saía da ponta esquerda e vinha jogar por dentro porque é o que já fazia e faz no Real Madrid. Rodrygo muitas vezes foi sua dupla, como faz no Real Madrid. Hoje, quem joga ali é o Mbappé e, na seleção, as últimas escolhas foram por Igor Jesus, João Pedro e Matheus Cunha — com Rodrygo passando para o lado de campo. Os processos são idênticos.
Sendo assim, é natural imaginar que o próprio Ancelotti continuará entendendo que a melhor forma de utilizar esses dois talentos seja nesse mesmo desenho tático: 4-4-2. E se nele o Real Madrid já teve pelos lados tanto meio-campistas como o Bellingham como pontas como Brahim Diaz, também parece tranquilo projetar a continuidade da escalação de Raphinha nessa função. Exatamente da forma como Dorival vinha fazendo.

Mas, lembre-se: o desenho tático é só um desenho. Mais vale analisar o funcionamento coletivo do time, pois duas equipes podem usar a mesma formação e jogar de formas completamente diferentes. Não se deve dar aos números importância maior do que para o futebol jogado.
Portanto, é notório o quanto se treina muito em seus times a combinação entre jogadores de ataque quando estes têm a posse de bola. Não raro, são os gols que surgem de tabelinhas e movimentações inteligentes, mas sem a preocupação de se posicionar em uma área específica do campo. Existe liberdade para variar e se encontrar de diferentes formas na frente.
Não descarto uma seleção brasileira que busca dominar o jogo através da posse de bola. Mas ressalvo que, em confrontos contra times fortes, o Real Madrid desta temporada costumava deixar o adversário com a posse em muitos momentos. Isso potencializava a capacidade de Vinicius Jr decidir o jogo tendo espaço para o contra-ataque. Algo que pode se repetir.
O Brasileirão vai influenciar?
Ancelotti já treinou 42 brasileiros ao longo da sua carreira. De Athirson a Cafu, de Ronaldo Fenômeno a Lucas Moura, ele sempre teve gosto pelo talento daqui. É claro que lhe falta conhecimento sobre a cultura do Brasileirão. Porém, é difícil imaginar que nenhum tipo de busca ou análise será feita por ele ou sua equipe.
A era Dorival Júnior foi, notoriamente, um dos momentos recentes em que o Brasileirão foi mais valorizado dentro da seleção brasileira. Só na última lista foram chamados Gerson, Léo Ortiz, Wesley, Alex Sandro, Arana e Estevão — em um ciclo em que ainda teve Luiz Henrique e Igor Jesus como presenças importantes. Muitos serão conhecidos agora por Ancelotti, que, no mínimo, analisará como o Brasil vinha jogando. O Mundial de Clubes pode, inclusive, se tornar um demonstrativo para ele sobre competitividade dos clubes brasileiros.
Segundo o site "GE", antes do acerto com a CBF, Ancelotti teria ligado para Casemiro e Neymar, dois nomes que ele enxergaria como lideranças no elenco. Com suas boas atuações no Manchester United, o volante tem feito por onde cavar um retorno ao time. Mas, para Neymar, ainda falta se recuperar fisicamente.
Além disso, o italiano também teria procurado saber mais a respeito de jogadores como Antony (Real Betis), Caio Henrique (Mônaco) e Alexsandro (Lille). Três nomes que são muito elogiados em suas ligas na Europa, mas não foram lembrados por Dorival nas convocações. É cedo para cravar, mas pode ser um indício de onde vai estar o maior foco de Ancelotti na hora de montar a sua primeira lista, marcada para ser anunciada no dia 26 de maio, data da sua apresentação à maior seleção do mundo.
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