Frustrações com Felipão e Copa, maior título e legado: Zé Roberto revisita carreira
Em entrevista ao Lance!, jogador detalhou momentos bons e ruins da carreira

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Uma transferência da Portuguesa para o Real Madrid já chamaria atenção. Some-se a isso mais de 1.000 partidas disputadas, 23 anos de carreira, quatro diferentes culturas de futebol e duas Copas do Mundo. Zé Roberto teve uma trajetória repleta de conquistas, mas também marcada por algumas frustrações.
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Em conversa exclusiva com o Lance!, o "Vovô Garoto", como ficou conhecido, detalhou sua carreira de forma sincera, apontou pontos de virada e relatou os passos que deseja seguir longe dos gramados.
Seleção Brasileira, Copa do Mundo e frustração com Felipão
Seleção Brasileira e Copa do Mundo aparecem entre os melhores e piores momentos da carreira de Zé Roberto. Ao todo, foram dois Mundiais disputados (1998 e 2006) e uma ausência sentida, justamente durante a campanha do pentacampeonato da Amarelinha.
Em 1998, ainda como lateral-esquerdo, foi reserva de Roberto Carlos. Já em 2006, nos gramados da Alemanha e como meio-campista, foi protagonista em uma equipe que tinha nomes como Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho e Kaká.
- A Copa do Mundo de 2006 foi o principal objetivo que eu consegui concretizar na minha carreira. Quatro anos atrás fui preterido para a Copa de 2002 pelo Felipão, que escolheu outro jogador, eu estando na melhor fase da minha carreira - iniciou.
Ao ser questionado se Felipão comunicou a decisão antes da divulgação oficial, Zé Roberto foi direto.
- Não, só quando saiu a convocação. Então, o jogador, quando está na melhor fase da carreira, o objetivo é ir para a Seleção, ser convocado. Ainda mais aquele ano, em que o Leverkusen chega à final da Champions contra o Real Madrid. Foi o ano que o Bayern de Munique me comprou, eu estava vivenciando o melhor ano da minha carreira - disse, de forma sincera.
Não ter ido para aquela Copa de 2002 foi frustrante. De repente, para mim, eu poderia falar que foi a maior frustração da minha carreira - completou.
Pós carreira e legado
Fora dos gramados, Zé Roberto optou por não seguir carreira diretamente ligada ao esporte e mantém-se empenhado em dois pilares: sua palestra, hoje voltada principalmente para o mundo corporativo, e os protocolos de treino.
Entre as atividades físicas, Zé mantém um espaço para receber jovens de 12 a 15 anos, onde aplica técnicas aprendidas durante sua passagem no exterior, principalmente na Alemanha. Atualmente, sua principal motivação é deixar um legado para as próximas gerações.
- Eu não dei continuidade à carreira dentro do futebol porque queria seguir aquilo que tinha como propósito de vida: minha palestra e também meus protocolos, tanto de treino online quanto de treino de futebol para crianças e pré-adolescentes, entre 12 e 15 anos.
Tenho meu espaço, basicamente meu CT, e um método de treino que desenvolvi com um treinador com quem trabalhei há muito tempo na Alemanha, onde joguei a maior parte da minha carreira. Foi lá que mais me desenvolvi como atleta e como pessoa - afirmou.
As atividades acontecem duas vezes por mês, em espaço do próprio Zé Roberto, com o auxílio de outros profissionais convidados.
Influência das diferentes culturas fora de campo
Brasil, Espanha, Alemanha e Catar foram os países em que Zé Roberto atuou como jogador profissional, mas um deles se destaca como prioridade. Tanto que, além de brasileiro de nascimento, ele também se tornou cidadão alemão.
O processo levou anos para ser finalizado e incluiu uma prova, totalmente em alemão, para Zé Roberto e sua esposa. Na visão do ex-atleta, a mentalidade do país o tirou da zona de conforto, principal obstáculo durante sua trajetória no futebol.
Antes disso, no entanto, houve uma transferência para o Real Madrid, onde disputou apenas 24 partidas, seguida de um breve empréstimo ao Flamengo, para, então, se vestir a camisa do Bayer Leverkusen.
- O primeiro clube que eu saí para jogar fora do Brasil foi o Real Madrid, foi a realização de um sonho, ainda muito jovem, muito novo, 20 anos… Quando eu chego no Real, eu percebo o que é ser um jogador de futebol e um atleta. Meu corpo era meu instrumento de trabalho, que para mim performar, precisava cuidar dele. Então eu mudei alguns conceitos, a mentalidade passou a ser outra. Então minha missão era primeiro chegar, para então permanecer no alto nível.
A cultura alemã me tirou muito da zona de conforto. A Alemanha me ajudou a ser um melhor ser-humano, ser mais profissional, de respeitar os companheiros, mesmo em fases que você não esteja jogando. Estar sempre focado, disciplina, foram 12 anos.

Eu não saí só com 12 títulos na bagagem, saí com a parte financeira realizada, foram coisas que aconteceram por conta de eu entender e viver a cultura do país. Primeiro eu precisava aprender a língua; quando eu cheguei tinha intérprete, outros brasileiros, isso tudo me deixava na minha zona de conforto.
O momento em que eu estava na zona de conforto era o momento que não jogava, ficava no banco. Chegou uma hora que eu precisei despertar. Aprender a língua, sobre a cultura, me comunicar - detalhou.
Após diversas temporadas atuando no exigente calendário europeu, Zé Roberto optou por defender o Al-Gharafa, do Qatar, por uma temporada. No futebol árabe, conquistou algo que enfrentou dificuldades nos principais clubes do mundo: tempo de qualidade com a família.
- Vou pro Qatar, uma cultura totalmente diferente da europeia e do Brasil, mas que tive tempo da minha carreira em que consegui desfrutar mais a minha família, calendário curto, cultura diferente, que me deu direito de jogar um ano pra ter mais tempo de excelência com a minha família.
Quando eu saio da Alemanha, antes de chegar no Qatar, eu saio com o maior título que eu conquistei: o passaporte alemão. Foi fantástico. Me fez entender que um improvável, que saiu de uma periferia e que tinha probabilidade muito pequena de se tornar alguém na vida… a disciplina e o foco me ajudaram muito - explica.
Bastidores do passaporte alemão
A "maior conquista" da carreira de Zé Roberto, o passaporte alemão, demorou mais de oito anos para se concretizar e envolveu estudo e disciplina, tanto dele quanto de sua esposa.
- Eu dei entrada no processo para tirar o passaporte alemão depois de oito anos. Aí você espera o tempo até eles te chamarem para fazer a prova. Eu lembro de ter entrado quando cheguei no Hamburgo. Eu tinha jogado quatro anos no Leverkusen, o Bayern de Munique me comprou, voltei para o Brasil após a Copa de 2006 para jogar dez meses pelo Santos e depois retornei para o Bayern.
Quando eu retorno para o Bayern, eu dou entrada na imigração. Depois, no meu primeiro ano em Hamburgo, eles me chamaram, eu e a minha esposa, para fazer a prova, tudo em alemão. A gente estudou bastante (risos) - finalizou.
O documento abre portas para que o jogador retorne ao país, além de oferecer a oportunidade de escolha no período de educação e crescimento de seus filhos.
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