Mohamed Salah: é craque ou só mídia? Confira a análise do Lance!
Após nove temporadas no Liverpool, astro vive o pior momento de sua icônica trajetória

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Mohamed Salah vive um dos momentos mais delicados de sua passagem pelo Liverpool. No clube desde 2017, o atacante consolidou-se como um dos principais ícones do futebol mundial na última década; porém, sua trajetória vitoriosa parece se aproximar do fim em razão de desgastes internos, especialmente no relacionamento com o técnico Arne Slot, que deixou de garantir ao egípcio uma vaga cativa na equipe titular nesta atípica temporada 2025/26. Afinal, o egípcio tem legitimidade para exigir presença fixa em razão de sua história e excelência técnica, ou sua influência sustenta-se principalmente no impacto midiático de seu nome? A análise completa do Lance! está no quadro "É craque ou só mídia?". ⬇️
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Menino de Nagrig 👶
Nascido em Nagrig, norte do Egito, Mohamed Salah sempre demonstrou humildade e determinação, destacando-se desde cedo por clubes locais, o que chamava a atenção de todos. Em 2006, aos 14 anos, ingressou nas categorias de base do Al-Mokawloon após ser descoberto por um olheiro que, embora tivesse ido avaliar outro jovem, acabou impressionado pelo talento do garoto.
Havia, porém, um obstáculo: o clube treinava no Cairo, distante de sua cidade natal, e as condições familiares não permitiam facilidades. Para seguir no sonho, Salah enfrentava cerca de quatro horas e meia de viagem na ida e o mesmo tempo na volta, com exaustivas nove horas diárias de ônibus ao todo apenas para treinar. O esforço que, com o tempo, foi recompensado, já que seu talento o levou a ser integrado ao elenco principal, mesmo ainda muito jovem.
O jovem Mohamed estreou pela equipe principal em 2010, aos 16 anos, e, ao longo da temporada ganhou espaço progressivamente até firmar-se como titular, primeiro como lateral-esquerdo antes de ser deslocado para a ponta direita. O jogador apresentava dificuldades defensivas na marcação e, segundo o então técnico Mohamed Radwan, chegou a chorar no vestiário após algumas partidas por conta da vulnerabilidade. No fim, ele converteu a frustração em estímulo para aprimorar seu desempenho.
Seu primeiro gol, marcado no Natal de 2010 contra o Al-Ahly, principal clube do país, reafirmou sua ascensão, e em 2011/12, ele participou de todos os jogos da campanha como titular. Entretanto, sua trajetória no Al-Mokawloon e no futebol egípcio foi interrompida por circunstâncias maiores, após o motim no Estádio de Port Said, em 1º de fevereiro de 2012. Uma tragédia que deixou 74 mortos e mais de 500 feridos após uma invasão de campo por torcedores do Al-Masry, o que levou à suspensão da liga nacional e ao posterior cancelamento da temporada de clubes pela Federação Egípcia de Futebol.
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Velho Continente 🌍
A tragédia, embora lamentável, acabou abrindo uma porta para o jogador, que inevitavelmente ultrapassaria as fronteiras do futebol egípcio rumo ao cenário europeu. O Basel, da Suíça, que já acompanhava o atleta, organizou um amistoso contra a seleção sub-23 do Egito, da qual Salah era um dos principais destaques; ele marcou duas vezes na vitória por 4 a 3, desempenho que apenas confirmou o interesse do clube em sua contratação.
Foi uma experiência valiosa para iniciar sua trajetória no Velho Continente. Entre 2012 e 2014, Salah destacou-se gradualmente pelo Basel, e somou 20 gols e 14 assistências em 79 partidas, período em que conquistou o bicampeonato da liga suíça em 2012/13 e 2013/14. Além disso, teve a oportunidade de ultrapassar mais uma barreira ao participar de competições continentais, revelando-se em grandes apresentações pelo clube, especialmente contra o poderoso Chelsea, da Inglaterra, momentos que antecederam a carreira que ainda estava por vir.
Em repetição da estratégia adotada pelo Basel, o Chelsea adquiriu Salah pelo bom desempenho em partidas contra o próprio clube, em 2014. No entanto, a chegada não correspondeu às projeções: a primeira temporada sob comando de José Mourinho foi marcada pela escassez de oportunidades; assim, o jogador já foi emprestado na segunda temporada. O destino dele seguiria, então, para outra grande liga, desta vez na Itália.
Na charmosa Fiorentina, em 2014/15, destacou-se ao marcar nove gols e fornecer quatro assistências em 26 partidas, desempenho que chamou a atenção pelo nível técnico apresentado, apesar do pouco tempo. Na sequência, transferiu-se para a Roma, clube com o qual disputou o topo do campeonato por duas temporadas; inicialmente emprestado, surpreendeu ao ser eleito o melhor jogador do time no primeiro ano, resultado que motivou os romanistas a adquiri-lo em definitivo para a campanha seguinte.
A Roma foi o segundo clube em que mais atuou na carreira: 83 partidas, 34 gols e 21 assistências, desempenho que o consolidou como um dos jogadores mais admirados pela torcida. Sem imaginar, naquele momento, que sua trajetória mudaria de forma definitiva, ele iniciaria a partir dali um percurso que o transformaria em um dos grandes nomes não apenas de um time ou de um país, mas do futebol mundial de sua geração.
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Reinado vermelho 👑
Em 22 de junho de 2017, a vida de Salah mudaria para sempre. Contratado pelo Liverpool por 43 milhões de libras — à época, a transferência mais cara da história da entidade —, o atacante iniciou uma relação que poucos imaginavam que se tornaria tão casada logo na primeira temporada. O egípcio registrou impressionantes 44 gols em 52 partidas, marca que permanece como seu recorde pessoal, e atraiu a atenção do mundo do futebol para o time treinado por Jürgen Klopp.
A campanha individual quase foi coroada coletivamente na final da Champions 2017/18, disputada contra o então bicampeão Real Madrid, maior vencedor do torneio; porém, um lance infeliz envolvendo Sergio Ramos o retirou prematuramente da decisão, e o desfecho acabou sendo cruel para os vice-campeões ingleses.
Quem imaginou que Salah viveria apenas uma "one-season wonder" enganou-se completamente. Após marcar 32 gols na Premier League e 11 na Champions logo em sua estreia pelo clube, o desafio passou a ser manter números de craque e, sobretudo, conquistar títulos — algo que ele cumpriria com excelência nos anos seguintes. Como peça mais artilheira do trio ofensivo formado por Sadio Mané, pela esquerda, e Roberto Firmino, como falso 9, o ponta-direita brilhou em um sistema marcado pela intensidade e por um elenco forte em todos os setores que conduziu o Liverpool a anos de glória.
Se a primeira jornada continental em busca da orelhuda havia terminado com o segundo lugar, a tentativa seguinte entraria para a história. Em uma campanha inesquecível, o Liverpool conquistou a Champions 2018/19 ao vencer o Tottenham na final, e Salah dissipou o fantasma da temporada anterior ao marcar o gol que abriu o placar rumo ao título. Os novos campeões continentais ainda ampliaram a glória internacional ao conquistar, pela primeira vez na história do clube, o Mundial de Clubes diante do Flamengo, e a Supercopa da Europa contra o Chelsea.
No contexto doméstico, o primeiro título da era Salah foi justamente a Premier League 2019/20 — a primeira dos Reds sob essa denominação e o primeiro título da liga inglesa desde 1990 —, conquista celebrada pela torcida mesmo em tempos de pandemia. A partir dali, a sala de troféus do clube não voltou a se fechar: Copa da Inglaterra (2021–22), Copa da Liga Inglesa (2021–22), Supercopa da Inglaterra (2022). Ao longo desse período, vários nomes importantes da equipe encerraram seus ciclos, enquanto outros permaneceram; e, naturalmente, o maior deles continuou no topo de seu reinado — rei do Egito e, agora, rei de Liverpool.
Chegamos então à oitava temporada de Salah pelo Liverpool, a de 2024/25, quando muitos que acompanharam sua trajetória — desde a chegada aos 25 anos até os 32 — duvidavam que ele se manteria por tanto tempo no mais alto nível, quanto mais repetir o desempenho de sua primeira passagem pelo clube. De maneira meteórica, o camisa 11 realizou uma primeira metade de temporada impecável, digna de melhor jogador do mundo. No primeiro ano pós-Klopp, Slot reconstruiu a equipe e formou uma verdadeira seleção em campo, liderada pelo egípcio no terço final. A campanha terminou com a taça da Premier League, e com Salah novamente eleito o melhor jogador da competição e artilheiro: 29 gols em 32 partidas.
Símbolo de uma nação 🔴⚪⚫
No meio de toda essa longa e admirável trajetória pelos clubes, a relação mais profunda de Salah com uma torcida sempre esteve na seleção do Egito. Estreou em 2011 e, desde então, jamais deixou de carregar na pele as cores do país onde viveu sua infância e adolescência e que o formou como ser humano. Símbolo de um povo que emergiu das camadas mais humildes ao estrelato mundial sem renegar as próprias origens, o astro protagonizou um dos momentos mais marcantes da história recente do futebol egípcio ao converter, nos acréscimos, o pênalti que garantiu a classificação da seleção para a Copa do Mundo de 2018 — a primeira desde 1990.
Agora, ele se concentra em representar seu país em mais uma edição da Copa Africana de Nações, competição pela qual sempre demonstrou profundo orgulho. São 61 gols em 107 partidas pela seleção, mas sua idolatria vai muito além dos números. Não por acaso, seu nome chegou a ser escrito manualmente nas cédulas de votação para presidente em 2018: mais de um milhão de eleitores anularam seus votos ao incluir Salah como terceira opção, gesto simbólico que traduz a idolatria do personagem.

⚽ Afinal, é craque ou só mídia? 📽️
Se você chegou até aqui, talvez já tenha uma ideia da moral da história: diante de tudo que Salah conquistou e demonstrou ao longo de sua carreira, é inquestionável afirmar que ele é, de fato, um craque.
O Rei é reconhecido por sua inteligência tática para fechar espaços e pressionar adversários, velocidade em arrancadas, movimentação constante sem a bola, finalização precisa de média e longa distância, agilidade e habilidade no espaço curto, primeiro toque e controle de bola, além da capacidade de superar adversários e criar oportunidades de gol para si e para os companheiros. Um atacante completo, com números refletem essa versatilidade, especialmente após sua chegada ao Liverpool. A seguir, veja os números de Salah antes de sua carreira no Liverpool e vestindo a camisa dos Reds:
⏲️ Pré-Liverpool:
- 🏟️ Jogos: 242
- 🥅 Gols: 75
- 🎯 Assistências: 24
- 🔥 Participações em gols: 99
- ⏱️ Média de jogos por participação em gol: 2,4
🔴 Liverpool:
- 🏟️ Jogos: 420
- 🥅 Gols: 250
- 🎯 Assistências: 113
- 🔥 Participações em gols: 363
- ⏱️ Média de jogos por participação em gol: 1,1
No entanto, necessita-se passar por alguns pontos que evidenciam que o momento atual de Salah não se compara ao de temporadas anteriores. Em 2025, o atacante não repetiu o desempenho de 2024; aos 33 anos, não conseguiu manter o nível elevado e apresenta queda tanto física quanto de confiança, o que impactou individualmente sua participação na disputa pela Bola de Ouro e prejudicou o desempenho coletivo dos Reds em competições eliminatórias.
Em certas ocasiões, Salah pode ser considerado um jogador capaz de grandes jogadas, mas não de partidas consistentes. Atuando cada vez mais próximo da área com a camisa do Liverpool, sua participação em outras fases do jogo, como construção e transição ofensiva, diminuiu.
Fora das quatro linhas, Salah não é considerado um jogador de fácil convivência, pois mantém conduta profissional rigorosa e prioriza sempre estar em seu melhor momento. Pouco suscetível a problemas físicos, demonstra grande fome de futebol e não aceita abrir mão da titularidade, mesmo em fases de desempenho abaixo do habitual, o que gerou tensão diante da atual crise do clube.
Além disso, não é um atleta que fala com frequência à imprensa. Recentemente, abriu-se ao comentar da conturbada relação entre ele e Slot, além de cobrar sua renovação na temporada passada, que, embora tenha demorado, foi finalmente acertada até 2027 com aumento salarial. No entanto, diante do mau momento da equipe, mantém silêncio público, mesmo sendo um dos líderes do elenco.
Trata-se de um personagem complexo: ao mesmo tempo humilde e consciente de sua trajetória, revolucionário por sua representatividade, e capaz de exibir status de celebridade e regalias. Com currículo consolidado, técnica acima da média e reconhecimento global, Salah é um craque sagrado do futebol mundial no século XXI, frequentemente comparado a outros grandes nomes de sua geração.
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