Por que o Rio de Janeiro é tão forte no futebol feminino de base
Clubes cariocas fecham o ano com as principais conquistas de base da modalidade; cenário é diferente do profissional

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Os resultados recentes das competições de base ajudam a explicar um fenômeno que não é novo, mas segue atual: o futebol feminino do Rio de Janeiro continua sendo um celeiro de talentos. Mesmo sem o mesmo investimento e estrutura vistos em outros estados, especialmente São Paulo, o cenário carioca segue revelando jogadoras e dominando torneios de formação.
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Na Copinha Feminina, por exemplo, o Rio de Janeiro é dono absoluto das taças. O Flamengo venceu as edições de 2023 e 2025, enquanto o Fluminense ficou com o título em 2024. Ou seja, desde a criação da competição, todas as conquistas ficaram com clubes cariocas.
No Brasileirão Feminino Sub-20, a força do estado também foi evidenciada. A final de 2025 colocou frente a frente Flamengo e Botafogo, em um clássico estadual que terminou com o título alvinegro. A exceção é o Sub-17, que não teve participação de equipes cariocas, e o campeão foi o Corinthians e o vice o Grêmio.
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Explicação vai além dos resultados recentes
O Rio de Janeiro tem uma relação histórica com o futebol feminino. Desde os tempos de proibição da modalidade, iniciativas pioneiras ajudaram a manter o jogo vivo no estado. Clubes, projetos independentes e ligas paralelas garantiram espaço para que meninas continuassem jogando, se desenvolvendo e competindo, mesmo à margem das grandes estruturas.
Para a treinadora Thaissan Passos, ex-Grêmio, base do Corinthians e time profissional do Fluminense,
— O Rio de Janeiro é muito pioneiro. Se a gente for olhar para a história do futebol de mulheres, tivemos uma proibição de muitas décadas, e o Radar veio ali em Niterói quebrando essas barreiras, conseguindo colocar mulheres em campo. O próprio Maracanã recebia jogos de prévia de mulheres. Então tem uma história do futebol de mulheres muito vinculada ao Rio de Janeiro — disse ela, em entrevista ao Lance!.
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A mesma visão é compartilhada pela treinadora Rilany Silva, da Seleção Brasileira sub-17. Para ela, o estado se destaca na formação por apresentar um futebol 'não industrializado'.
— É um estado que talvez seja pouco valorizado quando a gente fala sobre futebol feminino como um todo, não só de uma ou duas camisas. Talvez a gente ignore um pouco aquele estado, porque o estado de São Paulo tem um volume maior de equipes e jogadoras. Mas, se eu pudesse conectar o futebol carioca a algum tipo de futebol, conectaria ao futebol de rua, a gente industrializou o futebol e esqueceu um pouco da rua, e eu acho que o Carioca faz muito isso. É um futebol atrativo — analisou a treinadora.
O futebol 'livre'
Essa construção aconteceu de forma descentralizada. O futebol feminino carioca cresceu nas quadras, na praia, nos campos improvisados e nas ligas regionais.
O estado sempre foi polo de futsal e de beach soccer, modalidades que ajudaram na formação técnica, na leitura de jogo e na criatividade das atletas. Muitas jogadoras passaram por diferentes pisos antes de chegar ao campo, o que ampliou repertório e capacidade de adaptação.
— Quando a gente fala de futebol feminino do Rio de Janeiro, a gente fala do estado como um todo. A minha formação enquanto atleta aconteceu no Rio de Janeiro, que sempre foi celeiro de seleção brasileira e sempre será — define Thaissan.
Outro ponto central é o perfil do futebol carioca. Mais livre, mais ligado à rua e menos engessado, ele favorece a formação de jogadoras técnicas, criativas e competitivas. Mesmo com menos recursos financeiros, o ambiente formador segue produzindo atletas que abastecem clubes de todo o Brasil — e até do exterior.
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Desafios persistem
Os desafios existem e são claros. Falta organização, estrutura contínua e um produto mais forte no futebol feminino profissional do estado, até para potencializar a transição base-profissional. Ainda assim, o material humano segue sendo abundante.
Prova disso é que, mesmo com gargalos históricos, o Rio de Janeiro ocupa atualmente a segunda posição no ranking da CBF e continua sendo um dos principais exportadores de atletas e treinadores.
— Hoje o desafio é organização. O material humano a gente tem. O que a gente precisa é estruturar melhor o produto futebol feminino no Rio de Janeiro para que essas meninas não precisem sair tão cedo do estado — finaliza Thaissan.

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