Do interior do Paraná ao topo do Palmeiras e da Seleção Brasileira: prazer, Amanda Gutierres
Fã de Marta e maior artilheira do Palmeiras, Gutierres projeta carreira e Copa do Mundo

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O sotaque paranaense não esconde as raízes da atacante Amanda Gutierres, do Palmeiras e da Seleção Brasileira. Aos 24 anos, ela se tornou a maior artilheira do futebol feminino no Alviverde, com 58 gols, e as realizações não param por aí.
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Se confiança é a substância dos bons atacantes, Gutierres aprendeu cedo como cultivá-la. Seja jogando futebol com garotos em Santa Cruz do Monte Castelo, no Paraná, município de pouco mais de 8.000 habitantes, ou decidindo a vitória do Brasil diante dos Estados Unidos, nos acréscimos, em San José, na Califórnia, ela não é de se intimidar.
— Falei cedo que era isso (ser jogadora) que eu queria. Na minha casa eu não brincava de boneca, só minha irmã (...) eu assistia aos jogos da Seleção e falava que iria jogar ao lado da Marta — lembra ela, que recebeu o apelido da ídola durante a infância.
Ainda na adolescência, Amanda mudou para São Paulo, mesmo sem ter clube para treinar, motivada pelo desejo de ser atleta profissional. Os caminhos, embora tortuosos, a levaram ao caminho desejado.
O sonho de jogar com Marta na Seleção Brasileira
A atacante nasceu em 2001 e faz parte geração que viu Marta brilhar na televisão aberta. Nos dribles e belos gols da Rainha, a jovem projetou a própria trajetória.
Menos de duas décadas se passaram. Amanda não só conheceu, como atuou com a Rainha, embora ainda não tenham disputado partidas oficiais juntas, apenas jogos amistosos.
Em 2024, Gutierres marcou dois gols na vitória do Brasil diante da Austrália. Nesta temporada, fez o gol decisivo da vitória por 2 a 1 contra os Estados Unidos.
Sem atribuir a si todo mérito, ela destaca as mudanças promovidas pelo técnico Arthur Elias e projeta as próximas competições, como Copa América Feminina, em julho, e Copa do Mundo, em 2027.
— A expectativa é muito boa. O Arthur e a Seleção têm mostrado muito trabalho nos últimos anos. É uma seleção que já mudou a visão do torcedor, trouxe a torcida para perto e isso faz total diferença. — avalia a jogadora.
Entre tantos sonhos realizados pela jovem, um segue no radar: conquistar a Copa do Mundo pela Seleção Brasileira.

O começo de tudo
Durante um Natal, no Paraná, os tios propuseram a mudança para a capital paulista visando mais possibilidades no esporte. Ela topou e, na procura por clubes, ingressou no Vila Guarany, mesmo sem ajuda de custo.
Em pouco tempo, Gutierres passou por Guarany, União Suzano — onde foi artilheira do Paulistão Sub-17 —, Embu das Artes e teve uma breve passagem pelo Foz Cataratas. Assim, pavimentou seu caminho até o Santos.
Em 2018, ela se tornou uma “sereia da vila”, inicialmente na categoria de base, mas não demorou para receber oportunidades no time principal. Na passagem, foram três temporadas com a camisa do Peixe, com 21 gols em 65 jogos, até a saída do clube, no fim da temporada 2021.
— Foi uma decisão difícil sair do Santos, pois foi um lugar que me acolheu muito, já tinha três anos lá e me sentia em casa. Mas chegou um momento que eu queria novos desafios, aquilo já estava cômodo. — relembra.
Determinada, Amanda Gutierres mirou uma nova empreitada, mais uma vez, longe de casa.
— Meu sonho era jogar na Europa. Comentei isso com meu empresário e com algumas meninas que eu era próxima. Passou duas semanas e ele me ligou, falando do Bordeaux. Então aconteceu: eu pensei se valia a pena, se era o que eu queria. Pensei: eu pedi isso, então eu vou. — conta ela.
E assim aconteceu. Em 2020, foi anunciada pelo Bourdeaux, da França. A experiência foi um aprendizado para a atleta, apesar dos desafios como alimentação e adaptação à língua e cultura local. “Hoje eu vejo como isso me ajudou”, reflete a jogadora.
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Amanda Gutierres e o Palmeiras: o caminho até a artilharia
O retorno ao Brasil teve um destino inusitado: o Palmeiras, rival do Santos, para a disputa do Brasileirão Feminino 2022. Gutierres teve outras propostas, mas o projeto alviverde a conquistou.
— Eu fiquei muito feliz pois tenho muitos familiares palmeirenses. Quando estava no Santos eles diziam: ‘vá jogar no Palmeiras (risos), você vai ser feliz lá, vai ser a melhor fase da sua carreira’ — revela.
O carinho pelo Santos pesou, mas não foi determinante. E, desde a chegada, o Alviverde tornou-se casa, como quem já está há muito tempo. A competitividade, característica marcante de Gutierres, guiou a decisão.
— O Palmeiras vem crescendo muito, sendo um time muito respeitado e em nenhum momento entramos em campo pensando em perder ou empatar — diz ela.

Amanda destaca que o Palmeiras cresceu não só dentro de campo, mas em investimento na modalidade. Para ela, o cenário incentiva clubes de menor expressão, elevando, assim, o nível competitivo. E fala de mais um desejo na carreira.
— No momento não penso em sair daqui (do Palmeiras), mas claro que ainda tenho um desejo: o de jogar na Inglaterra (...) vou trabalhar para isso, mas se não for isso, tenho certeza que farei boas escolhas. — comenta a atleta.
De ponta à centroavante: o surgimento da ‘Gutigol’
Ainda como atleta amadora no Paraná, Gutierres atuava nos setores de meio-campo e ataque, seja no campo ou na quadra. Forte fisicamente e com finalização calibrada, ela se destacou pelo faro de gol.
Ao longo da carreira, ela atuou em diferentes posições de ataque, como ponta e falsa nove, e atribui a versatilidade às necessidades de cada equipe que defendeu. Atualmente, vive a melhor fase da carreira com uma função bem definida: a de finalizadora.
— Dos últimos anos para cá eu comecei a ficar mais dentro da área, mais como centroavante do que atacante de beirada ou falsa nove. — especifica.

Duas vezes artilheira do Brasileirão Feminino (2023 e 2024), Amanda não acredita que o futebol brasileiro não produza mais camisas nove.
— O Brasil tem, sim, grandes centroavantes. Falando do masculino, temos o Pedro (do Flamengo). Falam que não tem, mas vejo o Pedro como baita centroavante. No Feminino também, temos várias. — opina.
Saúde mental e vida pessoal
Ser atleta de alto rendimento é conviver cobrança e críticas. Quando se é mulher, elas ganham endosso de preconceito e viés machista.
Para manter o aspecto mental em alta, Amanda Gutierres prioriza o “mundo real” e se blinda do que abala a confiança.
— Eu passo, às vezes, com a psicóloga. Acredito que o que atrapalha muitas jogadoras é a internet. É um pouco difícil, nem todos reagem igualmente, mas sempre penso que elogio e crítica estão sempre no mesmo nível. — explica a jogadora.
Confiança em si e no grupo são marcas da paranaense. Antes das partidas ou em momentos de descontração, gosta de escutar Projota, reggae e modão.
Aos fins de semana, tererê e pratos à base de mandioca estão no cardápio. No tempo livre, jogos online e passeios com família e amigos. Assim, Gutierres mantém o vínculo com as raízes, os pés no chão e a cabeça no que importa.
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